«... o que dos Portugueses digo e repito: que me incomodam, que deles tenho ânsias de me afastar, que me fartei da bovina palha com que vão entretendo uma existência sem risco, de espinha dobrada em salamaleques perante gente que lhes cospe em cima, os manipula miseravelmente, os enche de futebol, tinto e tremoços.»
«Onde há cada vez menos debate político há cada vez mais Lili Caneças da República, o interesse do país e dos portugueses está a dar lugar a esta procissão de personagens que descobriram que podiam ser vaidosas. A Justiça é uma desgraça mas os procuradores nunca foram tão famosos e capazes de resolver todos os males da sociedade, o inspector-geral da ASAE cuida do que comemos para sua fama e proveito, o director-geral da Saúde garante que respiramos melhor. Do outro lado estão os milhões de portugueses que ganham mal e assistem impavidamente à retenção na fonte do fisco de uma parte cada vez maior dos seus rendimentos, para os quais passou a haver duas séries de telenovelas, as telenovelas da SIC e da TVI e as produzidas pelas Lili Caneças da República.»
O João Miranda coloca, com graça, a questão da "revolta nacional". Acontece que já não há daquilo com que se costuma fazer "revoltas", embora, como se escreve na "carta da semana" do Expresso dirigida ao paisano Miguel Sousa Tavares, ter-se-ão já interrogado por que é que acontecem pronunciamentos militares, desde 1817, «quando estão criadas as condições, independentemente da Uniões Europeias ou afins?»
O PS e o senhor engenheiro estão a promover "15 marcas para um Portugal moderno". Trata-se de "comemorar" três anos disto no governo. Estas estimáveis criaturas do PS e demais "independentes" que acreditam no pai natal, persistem em propagandear uma construção que só existe nas suas imaginativas cabeças. Não estará na hora de, em vez dessa construção em power point, deixar entrar a realidade?
Há dias, a propósito de uma entrevista de Aznavour na RTP, lembrei-me que hoje se vai sentir a falta do Eduardo Prado Coelho. Quem , melhor do que ele, poderia descrever uma entrada «nesse lugar mítico de Saint-Germain que é o café Les Deux Magots e, depois de passar a demorada porta giratória», voltar-se para a esquerda e dirigir-se «até à mesa do fundo, não a da janela, espera, mas a outra ao lado, debaixo do enorme espelho empalidecido pelos muitos rostos que nele desapareceram um dia?» Quem, melhor do que ele, observaria «debaixo do espelho, uma fotografia onde se vê o espelho em que neste momento me vejo, e à frente dele, com um livro aberto sobre a mesa, absorta na leitura, está ela, está o retrato de Simone du Beauvoir?» E, quem, assim ao sentar-se «nesta mesa, exactamente a mesma», estará «exactamente naquele lugar onde estava, e continuará a estar a Beauvoir, numa tarde de inverno há sessenta anos», quando «os gestos encaixam uns nos outros.?» Não, eu que tanto amo Paris não sei falar dela porque das tantas vezes que lá fui ela ainda não me conseguiu "falar" como eu desejo que ela me fale. Como numa canção escrita por Aznavour, há tanto tempo como no tempo estático da minha vida, «il faudra bien que je retrouve ma raison/mon insouciance, et mes élans de joie/que je parte à jamais pour échapper à toi.» Ou noutra, à espera que a porta do café, do Le Palace, rode de novo: «viens, découvrons, toi et moi, les plaisirs démodés/mon coeur contre ton coeur, malgré les rythmes fous/je veux sentir mon corps par ton corps/épousé/dansons, joue contre joue/dansons, joue contre joue/viens, noyés dans la cohue, mais dissociés du bruit/comme si sur la terre il n'y avait que nous/plissant les yeux mi-clos jusqu'au bout de la nuit.» Aznavour, no silêncio obsceno e gigantesco do Pavilhão Atlântico, vem falar-me de um tempo «que les moins de vingt ans/ne peuvent pas connaître», de um tempo em que «nous étions quelques-uns/qui attendions la gloire» porque «on était jeunes, on était fous.» O Eduardo escreveria: «o que quer dizer que estas palavras estão certas como um tempo que foi e é para sempre a beleza de ter sido.» O que, dito por Aznavour, na rouquidão desse tempo que foi e que passa pela sua voz, pela minha vida, «ça ne veut plus rien dire du tout.»
Meu Caro,Bons olhos o leiam.O ensaio de Henrique R...
Encontrei um oásis neste dia, que ficará marcado p...
Gosto muito da sua posição. Também gosto de ami...
Não. O Prof. Marcelo tem percorrido este tempo co...
Caríssimo João, no meio da abundante desregulação ...