Regresso a casa, perplexo, da estreia de
Rigoletto, no nosso único teatro de ópera, agora sob a direcção artística do alemão Christoph Dammann e a direcção efectiva do senhor SEC, Mário Vieira de Carvalho.
Rigoletto integra, com
La Traviata e
Il Trovatore, a trilogia das chamadas "óperas populares" de Verdi. Das três, o
Rigoletto será porventura o trecho lírico mais dramático. O "prelúdio" anuncia melodicamente o que se vai passar. E o que se vai passar está centrado numa "maldição" e na figura do bobo da corte do Duque de Mântua. O resto é residual em relação ao
pathos do referido bobo, Rigoletto. A encenação que o São Carlos estreou prima por ser simultaneamente alarve e analfabeta. É alarve porque "desloca" a tensão nuclear da ópera para lado nenhum, misturando tudo e todos num espaço que tanto pode ser um prostíbulo como o Pátio Bagatela, ali a Campolide. É alarve porque introduz interrupções inusitadas para mover peças do cenário, quebrando a "unidade" musical fundamental da obra. E é analfabeta porque, quem a "pensou", ignora o libreto original preferindo introduzir "novidades" como a incestuosa relação do assassino com a sua irmã, no final, ou provocando uma solução cénica contraditória entre o que se diz e o que se faz quando, por exemplo, Gilda "fala" de Madalena (no original, com pena dela - "mais uma enganada" - e, na encenação, com manifesto ódio, em tudo contrário ao libreto). Ao protagonista - não fixei um nome - falta-lhe o ar e, como aos restantes, falta-lhe o fundamental, a densidade dramática. O Duque de Mântua, já de si algo caricatural, é desgraçado pela figura presentemente em cena. Ninguém lhes terá mostrado um "dvd" com Renato Bruson, Nucci ou Alfredo Kraus? A Gilda, cantada por uma americana com um nome improvável, faz vocalmente o que pode, sem possuir um pingo de dotes histriónicos, como todos os outros, aliás. Até a nossa Elisete Bayan, noutra encarnação, safava-se melhor. Finalmente,
a orquestra. Esta récita evidenciou como uma boa orquestra, sem um maestro à altura, pode rapidamente oscilar entre a fanfarra da Carris e uma modesta orquestra amadora de província. Este maestro - também não lhe fixei o nome - destruiu o
pathos das notas verdianas sem pestanejar. Para primeiro exemplo da "era post- Paolo Pinamonti", a noite não podia ter corrido pior. O São Carlos - já bastava este novo estranho público de ópera - não precisava regressar ao possidónio depois de um momento por vezes discutível mas inegavelmente cosmopolita. Este
Rigoletto não respeita a grandeza musical de Verdi. Este
Rigoletto lembra um empadão temperado a caldos
Knorr e servido em regime de
fast-food. Não se recomenda.
Primeiro tem de me explicar o que é isso do “desta...
obviamente nao é culpa do autor ter sido escolhi...
Estou de acordo. Há questões em que cada macaco se...
Fui soldado PE 2 turno de 1986, estive na recruta ...
Então António de Araújo foi afastado do Expresso p...