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portugal dos pequeninos

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O SENHOR REITOR

João Gonçalves 11 Dez 07

Concordo com o governo no que respeita à figura do director da escola. Quando entrei no liceu - um liceu "progressista", o D. Pedro V, em Lisboa, mesmo antes do "25" - havia um reitor, lá professor. No PREC, o reitor foi sumariamente despedido e substituído por "eleições democráticas dos órgãos de gestão das escolas". Vieram os "conselhos directivos" constituídos por estimáveis criaturas oriundas dos partidos, em primeiro lugar, e da escola, depois. As "associações de estudantes", que supostamente "dialogavam" com o "conselho directivo", e a sinistra figura da "assembleia de escola", uma espécie de revolução institucional permanente que assegurava a "democraticidade do ensino", faziam o resto. Estas falácias condenaram as escolas, os liceus e as várias gerações de alunos ao controlo da FENPROF, à incompetência, ao oportunismo político, à indisciplina e à atomização da responsabilidade. Não há que ter medo das palavras.Bem vindo, senhor reitor.

DO CRIME

João Gonçalves 11 Dez 07


Um dos truques mais estafados usado na política para assustar o "povo", consiste em falar-lhe em "insegurança" e no "aumento da criminalidade". Acontece que, chamar isso à colação por causa de ajustes de contas entre gente pouco recomendável, não é correcto. Portas atacou o governo por aí em vez de se concentrar na inexplicável figura do MAI, o académico Pereira, ou na fantástica pessoa do dr. Alípio, director da PJ. Não são as matanças entre o "pessoal da noite" que alimentam climas de insegurança. O "homem médio" preocupa-se com os pequenos furtos, com a eventualidade da sua casa ser assaltada enquanto dorme ou está na sala, com as notas retiradas do multibanco irem parar a mãos alheias ou em ver o carro desaparecer. Muito provavelmente, o "homem médio" até acha louvável que os "homens da noite" se eliminem uns aos outros a tiro, nem que seja no passeio onde mora. Não vale a pena ir por aí.

UM TRATADO SEM SOM

João Gonçalves 11 Dez 07

Enquanto escrevia o post anterior, a RTP sem som mostrava-me a Sra. D. Campos Ferreira e seus "convidados". Deu para perceber que se falava da mítica Europa e do não menos mítico tratado, o bobo da festa de quinta-feira. O PS e o governo tinham direito à dupla Sousa Pinto, o menino-bem da JS que caiu nas graças de Mário Soares, e João Gomes Cravinho, secretário de Estado. Os outros eram Miguel Portas e Pacheco Pereira. Nesta matéria, identifico-me plenamente com Pacheco Pereira e não costumo ouvir este Portas. Soares chamou "confuso" ao tratado mas deve achar muito bem que seja aprovado longe das vistas das opiniões públicas, ou seja, sem referendo. Para além de confuso, o tratado é como a emissão que passava à minha frente: não tem som.

RIGOLETTO PÁTIO BAGATELA

João Gonçalves 11 Dez 07


Regresso a casa, perplexo, da estreia de Rigoletto, no nosso único teatro de ópera, agora sob a direcção artística do alemão Christoph Dammann e a direcção efectiva do senhor SEC, Mário Vieira de Carvalho. Rigoletto integra, com La Traviata e Il Trovatore, a trilogia das chamadas "óperas populares" de Verdi. Das três, o Rigoletto será porventura o trecho lírico mais dramático. O "prelúdio" anuncia melodicamente o que se vai passar. E o que se vai passar está centrado numa "maldição" e na figura do bobo da corte do Duque de Mântua. O resto é residual em relação ao pathos do referido bobo, Rigoletto. A encenação que o São Carlos estreou prima por ser simultaneamente alarve e analfabeta. É alarve porque "desloca" a tensão nuclear da ópera para lado nenhum, misturando tudo e todos num espaço que tanto pode ser um prostíbulo como o Pátio Bagatela, ali a Campolide. É alarve porque introduz interrupções inusitadas para mover peças do cenário, quebrando a "unidade" musical fundamental da obra. E é analfabeta porque, quem a "pensou", ignora o libreto original preferindo introduzir "novidades" como a incestuosa relação do assassino com a sua irmã, no final, ou provocando uma solução cénica contraditória entre o que se diz e o que se faz quando, por exemplo, Gilda "fala" de Madalena (no original, com pena dela - "mais uma enganada" - e, na encenação, com manifesto ódio, em tudo contrário ao libreto). Ao protagonista - não fixei um nome - falta-lhe o ar e, como aos restantes, falta-lhe o fundamental, a densidade dramática. O Duque de Mântua, já de si algo caricatural, é desgraçado pela figura presentemente em cena. Ninguém lhes terá mostrado um "dvd" com Renato Bruson, Nucci ou Alfredo Kraus? A Gilda, cantada por uma americana com um nome improvável, faz vocalmente o que pode, sem possuir um pingo de dotes histriónicos, como todos os outros, aliás. Até a nossa Elisete Bayan, noutra encarnação, safava-se melhor. Finalmente, a orquestra. Esta récita evidenciou como uma boa orquestra, sem um maestro à altura, pode rapidamente oscilar entre a fanfarra da Carris e uma modesta orquestra amadora de província. Este maestro - também não lhe fixei o nome - destruiu o pathos das notas verdianas sem pestanejar. Para primeiro exemplo da "era post- Paolo Pinamonti", a noite não podia ter corrido pior. O São Carlos - já bastava este novo estranho público de ópera - não precisava regressar ao possidónio depois de um momento por vezes discutível mas inegavelmente cosmopolita. Este Rigoletto não respeita a grandeza musical de Verdi. Este Rigoletto lembra um empadão temperado a caldos Knorr e servido em regime de fast-food. Não se recomenda.

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