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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

NÃO É FÁCIL DIZER BEM - 12

João Gonçalves 27 Dez 06


Não é mesmo nada fácil, Carla. Estão aí para trás onze posts que o comprovam. Não tenho jeito para Augusto Gil, o da "balada". Fiquei vacinado quando o decorei, em menino e moço, na primária. E ainda recitei em público um poemazinho medonho, não sei de quem, intitulado "Ser bom", que levou a minha mãe a derramar umas honestas lágrimas pelo talento declamatório do rebento. E era, enquanto o "sistema" o permitiu, um menino de quadro de honra. Ainda figurei no do Pedro V, imediatamente antes da Revolução florida. Depois veio o Mauro de Vasconcelos, o O'Neill, o Garrett, o Eça, o Pessoa, a história da literatura do Saraiva e do Lopes. Os livros de J.B.Priestley, Pinter e outros, emprestados a partir de um quinto andar da Avenida da República, já derrubado. O direito, o acto falhado para a história ou coisa parecida, e uma passagem fugidia pela Nova, no curso do hoje professor doutor Abel Barros Baptista. Apenas duas cadeiras e o José Ribeiro da Fonte. Sempre os livros atrás e menos as sebentas. Um ano repetido e eu mudado. O amor pelo caminho, logo aos vinte e poucos. A força de um muro permanente entre mim e o "outro". Crescer e viver à sombra desse muro inexpugnável. Para sempre, diria o Vergílio Ferreira. Chego aqui cansado, aos quarenta e seis, com estes versos de Herberto Helder (nem sequer é dos meus preferidos), lidos pela primeira vez no irrepetível verão de 83: "chega a mão a escrever negro/e, conforme vai escrevendo/mais negra se torna." Percebe agora?

OS DIAS DE AMANHÃ - 2

João Gonçalves 27 Dez 06

As taxas de juro activas vão aumentar em 2007, já para a semana. Muitos portugueses estão a pagar à banca o empréstimo para a compra de casa própria e é justamente a prestação desse empréstimo que forçosamente subirá. Também aumentam a electricidade, os combustíveis, os fármacos, os internamentos públicos. Em suma, a "vida", a outra, aumenta na segunda-feira. Por estes dias, ninguém se tem dado ao trabalho de pensar nos dias de amanhã. Depois não se queixem.

LER OS OUTROS

João Gonçalves 27 Dez 06

Afinal, existem formas de vida sensata no Glória Fácil.

SERVIÇO PÚBLICO

João Gonçalves 27 Dez 06

O senhor engenheiro terá lido isto antes ou depois da sua mensagem optimista? Parece que somos o grande exemplo europeu do que NÃO se deve fazer em matéria de finanças públicas. Sempre servimos, afinal, para alguma coisa.

OUVIR OS OUTROS

João Gonçalves 27 Dez 06

No Crítico, do lado direito da página, pode escutar-se uma "transmissão da Antena II a partir do Teatro Nacional de São Castos". É uma blague que contém, entre outras pérolas, Natália de Andrade. Esperemos que, em 2007, a blague não se torne numa triste realidade às mãos do dr. Vieira de Carvalho e sus muchachos e muchachas.

VERME

João Gonçalves 27 Dez 06


Um pessoa minha "amiga" enviou-me há pouco uma "sms" onde escreve que andou a ler uma biografia do nosso D. Carlos (não sei se a de Rui Ramos) e concluiu, e passo a citar, "que se não fosse a importância decadente que dá [dou] à merda, até tinha [eu] semelhanças com o dito" e que "[eu] podia evitar essa sua [minha] degradação já que a si [a mim] ninguém lhe dá um tiro." Daqui concluo que: a) perco demasiado tempo com coisas e gente que o não merece; b) que, apesar de republicano, talvez me possa rever nalguns traços desse grande assassinado da Rua do Arsenal (quem sabe, o gosto por Paris, sem as putas), designadamente por termos sido ambos de Lanceiros e eu ainda poder vir a levar um tiro; c) estou a degradar-me. Já que estou a "degradar-me", peço emprestado ao Filipe Nunes Vicente (quando for em breve a Coimbra compenso-o) este poema doutro "decadente", o Teixeira de Pascoaes, de quem ando a ler o "São Paulo", prosa altamente recomendável a todos os degradados deste nosso pequeno mundo.

"UMA PROFISSÃO ESSENCIAL: A do "Verme", de Pascoaes:


" Eu vivo no interior das negras sepulturas.
Só eu sei conhecer as grandes amarguras
Dos que pedem à terra a paz e o esquecimento...
Na sua antiga dor encontro um alimento...
E nas suas lágrimas sombrias e geladas,
Como nos lagos ou nas fontes prateadas,
Às vezes mato a sede... E o mau ar que respiro
Tem o amargo sabor dum último suspiro...
Por isso conheço a dor do homem..."

A ILUSÃO

João Gonçalves 27 Dez 06

Ao primeiro-ministro convinha-lhe, na sua austeridade soturna, meditar nisto. Em vez da "confiança" e dos "sinais encorajadores", Sócrates devia ter confrontado a raça que pastoreia com a realidade. Só que a realidade empurra a ilusão e só vagamente entra na cabeça das pessoas. A avaliar por isto, o "consumo privado" está aos melhores níveis da melhor Europa. Daqui a uma semana, quando todos os forrobodós passarem, a realidade, qual serpente venenosa, descerá pelas chaminés como nunca um qualquer pai natal desceu. A um Sócrates virtual corresponde um país irreal e vice-versa. Se calhar está tudo bem assim e não podia ser de outra maneira.

BARBÁRIE CIVILIZACIONAL - 2

João Gonçalves 27 Dez 06

Alguns anónimos comentadores ficaram muito indignados por isto. Acusaram-me, até, de falta de sensibilidade. Se bem percebi, consideram "natural" que uma menina de doze anos seja mãe em consequência de ter começado a praticar "educação sexual" antes mesmo de a escola lha ensinar, como mandam os bons costumes democráticos. Ela aprendeu por si, com os seus dois "namorados", à semelhança do que acontece com qualquer adolescente, seja ele da Lapa ou da Amadora. E não me pareceu que nenhum dos namorados fosse propriamente um menino como ela. Ora, em linguagem chã, isto é pedofilia e da grossa. Ou estes beneméritos imaginam que a dita só existe quando intervêm pilas e rabinhos? No caso da menina de doze anos, o crime praticado sobre ela com o seu consentimento é semi-público, ou seja, depende de queixa para prosseguir a acção penal. Ela e os seus - a avó foi mãe aos 16, a mãe dela, aos 14, e ela aos 12 - bem como os "teóricos" da coisa, acham que está tudo muito bem assim. Problema deles? Não. Problema nosso, do nosso primitivismo, e da sociedade de novos monstros que andamos alegremente a construir. Se isto é uma civilização, então não sei o que é uma civilização.

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