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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

PARA OS AMIGOS...

João Gonçalves 24 Dez 06


Diferentemente da Miss Pearls, não dou prendas. J'embrasse pas. Todavia, e olhando aos destinatários das que ela encomendou, faço minhas as suas palavras, devidamente adaptadas: "a todos os leitores, aos bloggers que passam por aqui, aos amigos que fiz, a quem está por de trás de um blog e que não conheço, a todos que deixam comentários, que muitas vezes me fazem rir, com quem aprendo, [com quem desaprendo e elimino], este blog (também) é vosso. Um Feliz Natal. Obrigada[o]."

OS DIAS DE AMANHÃ - 2

João Gonçalves 24 Dez 06

"Recusam-se a pensar. Mesmo a apenas três dias do natal, o momento em que Deus se fez homem na palha de uma gruta, a maioria das pessoas precipita-se atrás de tudo o que pensa ser diversão, entretenimento, consumo, modismo. Vão acabar exaustos, atordoados de tanta correria. É como se estourassem de inconsciência, na periferia de si próprios e de um mundo de cujo mistério nem sequer querem ouvir falar. São multidões de solitários. Fogem de qualquer luta, afrouxam-se em submissões, aceitam não ser donos deles mesmos. Nem sequer sabem que estão sós porque a solidão desliza sobre eles sem deixar vestígios como a água na pena dos cisnes. Todos nós somos convidados para entrar num castelo, diariamente, vá lá saber-se por quem. Pode o castelo estar cheio de esplendores e de multidão ruidosa que não deixará de acabar em sepulcro, mais depressa do que seria de esperar, se não desconfiarmos dessa exaltação de fraquezas e se, quando ficarmos sem fôlego, não soubermos que esse é o momento de nos reencontrarmos, reconquistando a dignidade e a personalidade. O castelo é um inferno onde cada instante é um milagre. Agarrar esses instantes, que formam o tempo, escapar da ladainha dos que mergulharam no ruído, viver como um desafio, ter a honra de não se submeter a quem não merece submissão e de depender do amor de quem merece essa dependência, é o que deveria ser - se pensássemos. Mas só quando se está cansado de nunca estar só é possível vencer a violência da solidão e pensar no que vale a pena. As coisas são o que são."

"(...) A maioria mostra-se incapaz de compreender que, não sendo o tempo a passar mas ela própria, não lhe resta alternativa: ou regressa a Cristo ou ele não será mais do que um objecto que a não pode salvar (...) Ele, se nós soubermos receber Cristo, permite escapar aos tranquilizantes que nos adormecem e aos estimulantes que nos dão corda, substitui e dá grandeza à banalidade do quotidiano, essa máquina onde tudo já foi dito e redito. Dizia Alain, tão insuspeito, que o natal não é uma noite nem um fim - é uma aurora e um começo. Mas só é assim se nos recordarmos a todo o instante que Jesus nasceu e viveu na maior pobreza material e na maior riqueza do coração."

"(...) A fé é, antes de tudo o mais, Jesus Cristo nascido na palha de uma pobre gruta. Não pode, por isso, deixar de ser a inspiradora de um radicalismo evangélico que obriga o homem a ir ao fundo das coisas e a não se resignar perante as injustiças, por mais que a mansidão lhe tenha sido ensinada".

"(...) O Advento passou ao lado da maioria de nós, mergulhado no consumismo e no oportunismo. O Natal não passará despercebido. Passará apenas".

"(...) O Natal é o sorriso de Deus num mundo que teima em prosseguir com teofanias desnecessárias e egoísmos aterradores. Sem esse sorriso a vida seria apocalíptica. O tempo seria apenas uma espera sem sentido, a miséria seria aceitada e aceitável e a opressão tolerável e tolerada. Mas há um sorriso e há forças para lutar por um reino de homens e mulheres livres."


por VICTOR CUNHA REGO

OS DIAS DE AMANHÃ - 1

João Gonçalves 24 Dez 06


A prosa que vai seguir-se é da autoria do Victor Cunha Rego. Já contei que, por alturas de fim de curso, o João Amaral (por indicação do hoje cónego João Seabra - riam-se lá um bocadinho, grandes servidores laico-republicanos da democracia) me colocou a escrever no "cultura&espectáculos" do Semanário. O jornal estava então sediado na Avenida Duque de Loulé. A redacção era no 1º andar. Durante o tempo em que andei por lá - normalmente para "fechar" páginas - surgia-me, do corredor ou no corredor, e de vez em quando, essa figura misteriosa do director. Sabia que o director, por volta do meio dia, ia até à Igreja do Sagrado Coração de Jesus, à Rua Camilo Castelo Branco, e que não largava o Cioran. Outro mistério. Vindo das aventuras de onde veio, esse raríssimo português - como lhe chamou Vasco Pulido Valente - era dotado de uma fina ironia e de uma amargura intelectual que muitos nunca souberam compreender. Cunha Rego era, ele sim, um jornalista de causas. Foi-o no Brasil, no exílio, e foi aqui. Nunca, aliás, foi outra coisa a vida inteira. A sua escrita é uma lição permanente para todos os pseudo-jornalistas que enchem as televisões e as páginas dos jornais com a sua soberba ignorância e o seu atrevimento anão. As escolas de comunicação social produzem anualmente resmas de idiotas e de parvinhas dispostos a tudo para "aparecerem". Não têm, nem terão jamais uma "biografia". Cunha Rego combateu Salazar com o mesmo fervor com que defendeu Soares, com que o ajudou a derrubar quando foi preciso, como "apoiou" a "direita" e como "voltou" a Soares contra Cavaco perto do fim. Victor já acreditava em Deus quando o conheci. Provavelmente sempre acreditou. Nunca, da sua pena, brotou uma prosa deselegante ou "bárbara". Pelo contrário. A sua lucidez permanente e angustiada deixou-nos pequenas maravilhas em apenas dois ou três parágrafos. A Quasi, em breve, vai editar algumas delas que se juntam ao livro Os dias de amanhã, da Contexto. Já não peço aos seus actuais camaradas de profissão que por aí pululam em textos entre o histérico e cómico que escrevam como ele. Seria uma impossibilidade intelectual. Pelo menos, leiam-no e aprendam qualquer coisinha.

DAR NA FACE

João Gonçalves 24 Dez 06

Existe, porém, um aspecto em que eu não acompanho Cristo e sei que Ele me perdoa. Não dou a outra face. Mais depressa esbofeteio, seguindo outro ensinamento de Jesus: "não é a paz que vos trago mas sim a espada". Até agora, eu tinha o Franco-Atirador (Luís M. Jorge) por uma pessoa e não por uma coisa, um vendilhão modernaço do Templo. Acontece que deparou-se-me esta prosa "à doutor Mengele" progressista. Até eu, que não possuo nem tenciono possuir o dom da paternidade e, muito menos, o da maternidade, acho extraordinário como se podem escrever baboseiras deste calibre, devidamente aplaudidas por outras e outros "mengelezinhos" de trazer por casa. Que a solenidade do dia me absolva. Não quero que "vá passear", Luís. É mesmo vá-se foder.

A UMAS HORAS

João Gonçalves 24 Dez 06

Na Praça de São Pedro, Bento XVI recordou que estávamos a umas escassas horas do Natal. No último domingo de Advento, o Papa lembrou que o verdadeiro protagonista desta noite e desta madrugada é Jesus e que é preciso abrir espaço para Ele. As derradeiras horas do Advento são normalmente passadas nas filas das pastelarias, nos corredores dos centros comerciais e nos lares onde as "famílias" vão recolher os seus velhinhos para os enganarem umas horas com a sua "solidariedade". Às crianças está reservado o pior do dia e da noite. Alucinadas pelas promessas das "prendas" - que desejaram e que já viram -, perdem o significado ou, no mínimo, o encanto do Mistério desta noite. O meu Natal de menino era uma manhã seguinte com umas coisinhas depositadas miraculosamente no fogão, o substituto urbano da chaminé. Era um perú, oferecido por um médico amigo, meio aparvalhado numa varanda e, depois, na cozinha até ser degolado e depenado a preceito. Era uma sala de jantar onde o animal era degustado pela "família", nesse dia esticada às avós, aos tios e aos primos. Se não era nesta casa onde agora escrevo, era noutra. Entretanto os protagonistas desses natais foram crescendo, foram-se separando e foram morrendo. À medida que isso acontece, percebemos melhor a necessidade da presença do Filho do Homem, da "parusia". Todavia Ele esteve sempre aí, desde a primeira hora, e nós não tínhamos dado por Ele. É o Único que verdadeiramente nunca nos abandona, primeira e derradeira esperança do homem no seu mundo perdido para sempre.

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