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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

"ENTRE NÓS E AS PALAVRAS"

João Gonçalves 26 Nov 06

Ao fim do dia da morte de Mário Cesariny, já vi o Chefe de Estado manifestar-se, já li uma declaração de Isabel Pires de Lima e já escutei a bela voz de Manuel Alegre. Do PC, não há muito a esperar. Cesariny foi sempre refractário ao cânone imposto pelo partido e pelos seus bonzos intelectuais, antes e depois "de Abril". Do PS ou do PSD, talvez devesse vir qualquer coisa. Finalmente, quiçá à conta das listas internas que muito o devem preocupar como se o partido fosse um organismo vivo, até à hora em que escrevo, não se ouviu um murmúrio do gabinete de José Sócrates. Não haverá lá ninguém que saiba ler e escrever?

A IGREJA E O MUNDO - 2

João Gonçalves 26 Nov 06

Por causa do passamento de Mário Cesariny (vai ser interessante acompanhar o "movimento das piranhas" que se vão "atirar" ao espólio do pintor), falei no José Manuel dos Santos, seu amigo de muitos anos feito. Por isso, aguardo com natural expectativa a sua "Impressão Digital" da próxima semana no Expresso. Já a de sábado, 25 de Novembro, me merece alguns comentários. Sob o título "O Referendo", o José Manuel, com a habilidade e a elegância de sempre, reduz a questão do aborto - ele, com a mesma eloquência que atribui ao cardeal patriarca de Lisboa, refere-se sempre delicadamente a "IVG" - como uma questão religiosa onde o direito e a supremacia do Estado laico e democrático deve ser inquestionável perante uma Igreja "intransigente" acerca do livre arbítrio humano. E coloca os adeptos do "não" num mesmo registo, "uma voz onde não há lugar para uma distância ao ódio". Apesar de não ser católico, o Zé Manel deve saber tão bem como eu que há tantos caminhos para Deus quanto há homens. Dito isto, nem todos aqueles que votarão "não" no referendo anunciado o farão por causa do que defende a Igreja, mas apesar disso. Aliás, não se esperaria que a Igreja pugnasse por outra coisa, mesmo quando o cardeal patriarca fala em "questão de consciência". A Igreja cumpre o seu papel com os mesmíssimos direitos que assistem aos indivíduos e associações que perpetram pelo "sim". Tem muita influência, é demasiado "institucional"? É natural que tenha e que seja, por razões já de há muito debatidas. Não pode é ter qualquer capitis diminutio em relação a outros movimentos de natureza "laica". Digo isto com o à vontade de quem é favorável à aplicação da lei em vigor, ao criar de condições para esse efeito e que é contra a banalização do aborto, em pleno século XXI, como remédio para um descuido, para um atrevimento ou para a mera ignorância. Não há nenhum arquétipo feminino, por muito respeito ele me mereça, que se sobreponha a um outro arquétipo que escolha o "direito à vida", e vice-versa. Por isso apoio as excepções legais. E, só para terminar, não creio que a Igreja exerça qualquer soberania "sobre os corpos e as almas" e que tema perdê-la. Para além das contingências e do relativismo, a Igreja sobreviverá - sobretudo esta, de Ratzinger - e, com ela, milhões de católicos "pecadores" que encontram ali o conforto espiritual e ético que, infelizmente, até o "Estado social de direito" não consegue dar. Há, pois, vida para além de um simples "sim" ou de um simples "não".

MAIS DO MESMO

João Gonçalves 26 Nov 06

Aquele homem da protecção civil, Gil Martins, tem mais cara de quem atrai catástrofes do que de quem as combate. E a conversa dos "alertas" arco-íris já cansa.

RESPEITINHO

João Gonçalves 26 Nov 06

Mais um momento albanês no PS, com as listas de Sócrates para os órgãos nacionais do partido aprovadas sem um votinho contra. O PS assemelha-se a uma repartição pública dos anos de chumbo. O chefe à frente, isolado, numa secretária, e os funcionários todos alinhadinhos em filas de três, quatro ou cinco, sem poderem levantar o cu da cadeira sem pedir licença. A única novidade foi o dr. Santos Silva "saltar" para o lugar do dr. Jorge Coelho. O seu papel como "grande controleiro" dos media já merecia uma prebenda.

MÁRIO CESARINY DE VASCONCELOS 1923-2006

João Gonçalves 26 Nov 06


A última vez que vi o Cesariny, aconteceu depois da estreia de "Um Auto para Jerusalém", há quatro anos, no D. Maria II. Fui com o José Manuel dos Santos e, já não me lembro bem em que circunstâncias, um pequeno grupo reuniu-se em torno da estátua do António José de Almeida à espera que o homem aparecesse, e lá fomos todos para a casa/atelier arranjada pelo João Soares ao Cesariny, ali para os lados do mausoléu da Caixa Geral de Depósitos. Há já seguramente alguns anos que o Cesariny não fodia nem podia com este pequeno "reino cadaveroso" em que estamos atolados. Fodia-se mais e mais livremente na ditadura, por causa do "interdito" e da polícia, e a tropa dava-se a outros "passeios" pelo Rossio. Havia menos medo do outro, afinal o mesmo. Estar para aqui a debitar palavras bonitas na morte de Cesariny daria direito a que ele me mandasse tranquilamente para o caralho. Lá onde agora repousa, irrequieto e livre para sempre, o Cesariny está melhor do que nós, os seus eunucos, amor-ódio de estimação, sem os quais não valia a pena ter escrito nada. Gloriosa vida eterna a um dos poucos que a merece.

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Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar

A IGREJA E O MUNDO - 1

João Gonçalves 26 Nov 06


O papa Bento XVI está, a partir de terça-feira, na Turquia. A visita à "Porta" tem um significado simbólico fundamental, num país em que, apesar da declarada laicidade do Estado, ser cristão é tomado publicamente como uma afronta. Ratzinger não vai à Turquia "redimir-se" do discurso de Ratisbona. Vai, suponho, explicar às autoridades religiosas e políticas - o sr. Erdogan parece que vai arranjar uns minutinhos - que, não obstante o "diálogo" entre religiões (a esmagadora maioria é muçulmana) e até prova em contrário, foi o cristianismo irradiado a partir de Roma, erguido sobre os escombros do império romano e que comporta a liberdade pela fé e pela razão, o verdadeiro "sucessor" dessa civilização imortal. Nada disto encontramos numa Turquia oficiosa que se esforça por ser europeia enquanto nas profundezas rosna contra o mundo criado a ocidente. Por isso, e como o cardeal Raztinger, sou adversário da adesão da Turquia à União Europeia. O "alargamento" está a ser levado longe demais e, não tarda, ainda temos a Rússia do sinistro Putin a assinar "acordos de cooperação" privilegiada com Bruxelas que, por ser mais burocrática do que política, parece disposta a tudo para assegurar o "sucesso" de uma diplomacia sem espinha dorsal. Bento XVI , como nas palavras do Senhor - "convertei-vos ou perecereis todos" - confirmará à Turquia e ao mundo, uma vez mais, o inderrogável lema do pontificado do seu antecessor: "não tenhais medo, abri os vossos corações a Cristo".

NÓS E OS OUTROS

João Gonçalves 26 Nov 06


Ontem, antes de ir ver o novo James Bond, apareceu-me na televisão o nosso 1º ministro, com aquela máscara plastico-sorridente que ele coloca quando está a fazer propaganda, com o gesto característico das mãos juntas a acompanhar o "discurso", ora para a direita, ora para a esquerda. Que me dizia ele? Tentava, se bem percebi, demonstrar-me as virtudes do TGV Madrid-Lisboa, ida e volta. Já estou a imaginar os comboios a abarrotar de passageiros para trás e para diante, de manhã à noite, deslizando sobre carris que, à primeira tromba de água, ficam submersos. Para além do trivial e dos "interesses", o que é que português comum espera da vitesse que o ligará à sumptuosa Madrid? Ir e vir mais deprimido do que quando deixou Lisboa? Ficar por lá? Sonhar-se, por umas horas, espanhol e, por consequência, europeu? Contentinhos, os socialistas que governam a Ibéria voltaram aos respectivos mundos. Não são estas "cimeiras" de chacha que mudam a natureza das coisas. Eles continuarão eles e nós, para mal dos nossos pecados, nós.

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