O Estado, com a excepção do Presidente da República, está reunido em Santarém. Eu sei bem o que isso é porque frequentei alguns congressos do PSD das "eras" Cavaco e Barroso. Ele espraia-se discretamente entre as mesas dos congressistas e, sobretudo, nas bancadas para "convidados". Com a habitual gravitas açoreana, Jaime Gama, justamente a segunda figura do Estado, explicou isso perfeitamente aos camaradas esta manhã. Mais precisamente, explicou-lhes a natureza retórica da "esquerda moderna" por oposição à velha retórica "esquerdista" que, imagino, ele encontra nalgum PS desordenado, pelo PC e pelo BE. Gama, o "ideólogo" de Sócrates - já que estava a apresentar a moção daquele - até pela sua formação filosófica, era o único capaz de produzir um qualquer rendimento mínimo de "ideias" num congresso do qual elas estão banidas. Todavia, foi por aí que o secretário-geral do PS começou. Pediu "debate de ideias" e reclamou que se "preparassem ideias". Parece que os camaradas reagiram a isto sem apoteoses. De facto, Sócrates está a pedir o impossível. Ele não ganhou as legislativas por ter uma ideia. Não tinha nenhuma. O que teve foi a fortuna de Santana Lopes estar do outro lado. Não foram os camaradas de Santarém que lhe deram a maioria absoluta, nem tão-pouco os burocratas "pragmáticos" que andam nos gabinetes a produzir "ideias" com uma demência torrencial. Sócrates está convencido - e os "estudos de opinião confirmam-no - que basta a sua extraordinária e autoritária presença para que tudo o mais seja dispensável. Até o partido. Não é bem assim. Mal ou bem, o PS representa e revê-se numa antiga filiação de valores e de costumes democráticos. No PSD, o "socratismo" passaria sem problemas de maior porque o PSD não tem "ideologia" e, por isso, mais tarde ou mais cedo, estará de volta. No PS, apesar da domesticação efectuada pelos "jovens turcos" que rondam o líder, as origens estão lá. O pragmatismo tecnocrático de Sócrates, que parece embirrar com tudo o que humanamente mexe, cansará um dia essa "esquerda" de que ele se sente representante. Zezinha Nogueira Pinto, com aquela pesporrência irritante que a anda a moer, já declamou a sua admiração pelo "estilo". Pois é. Quem gosta do "respeitinho" e do autoritarismo, gosta de Sócrates. Quem aprecia a autoridade democrática, exercida sem complexos musculados, a prazo fartar-se-á dele. Porque bem raspado, bem raspado, lá por baixo pouco mais existe que nada.
Primeiro tem de me explicar o que é isso do “desta...
obviamente nao é culpa do autor ter sido escolhi...
Estou de acordo. Há questões em que cada macaco se...
Fui soldado PE 2 turno de 1986, estive na recruta ...
Então António de Araújo foi afastado do Expresso p...