Um povo que não respeita a sua história ou, pior do que isso, que "adapta" a história ao bel-prazer do momento, é um povo sem memória e, a prazo, condenado. Uso o termo "povo" porque, em democracia, é suposto o governo dele emanar. A ministra da Cultura, uma amável professora catedrátrica de Letras do Porto, como não podia deixar de ser, quer deixar a sua "marca de Zorro" no sector que lhe entregaram. A colecção Berardo não só não chega, como nem sequer foi ela que tratou do assunto. E, assim como asssim, é do comendador. O resto são pagamentos e simpáticas cedências provisórias ao Estado. Deu-lhe, por isso, para o tal "museu da língua e dos descobrimentos" no único espaço que restou da
Exposição do Mundo Português, dos idos de 40, o "museu de arte popular", a Belém. A coisa ministerial tem, aliás, uma designação horrenda:
"Mar da Língua - Centro Interpretativo das Descobertas". Certamente não passará de mais um "pólo" masturbatório para sentar os amigos e os primos dos amigos. O pavilhão que sobreviveu à
Exposição, e cuja concepção pertenceu ao arquitecto Jorge Segurado, acolhe o conceito estético-político de uma época da história portuguesa do século XX que muito democrata "esclarecido" não consegue engolir. Teria sido porventura bom que ele não tivesse existido, mas o facto é que existiu. A resposta de Pires de Lima para a eliminação daquele espaço e do respectivo acervo é concludente: "A vida dos museus não é eterna. Eles nascem, vivem e morrem. Não devemos estar presos a uma atitude conservadora." E, depois, não resistiu à sua própria ideia de "política do espírito", se é que tem alguma: "É preciso fazer opções quando se faz política cultural. Um museu da Língua e dos Descobrimentos é mais aberto e mais rentável". De acordo com a professora, o novo museu "é de uma importância fundamental para a autoconsciência da língua". Esta da "autoconsciência da língua" esmaga qualquer pedragulho dos anos 40, não é verdade? Será que a ministra tem "consciência" do que anda a dizer? Depois, o novo museu "será meramente virtual, sem acervo físico, apostando nas novas tecnologias e na interactividade". Isto é, o "plano tecnológico" também serve para rasurar a história. Alguém ainda tentou explicar à ministra que o museu de arte popular - vide
Público - "é, em si mesmo, um documento histórico incontornável para o estudo da história do Estado Novo." Pois é. Todavia, a "política do espírito" agora é outra ou nenhuma. A diferença é que ninguém falará destes quando morrerem.
Adenda: Agradeço a
António Machado a precisão sobre o que sobrou da Exposição.
Primeiro tem de me explicar o que é isso do “desta...
obviamente nao é culpa do autor ter sido escolhi...
Estou de acordo. Há questões em que cada macaco se...
Fui soldado PE 2 turno de 1986, estive na recruta ...
Então António de Araújo foi afastado do Expresso p...