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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

NÃO É FÁCIL DIZER BEM - 5

João Gonçalves 3 Out 06


O professor (imagino que seja professor) Carlos Leone, faz os possíveis e os impossíveis para atrair leitores ao que resta do Esplanar do João Pedro George. Mistura bola com outras coisas, e de novo bola com mais coisas, sendo estas quase todas provenientes da INCM. Desta vez, deu-lhe para promover a revista de que é director, a Prelo, da dita Imprensa Nacional- Casa da Moeda. Conheci essa revista quando ela era viva, apesar de ser então dirigida por Diogo Pires Aurélio. Nos anos oitenta, produziram-se números de inequívoca qualidade, incluindo hors série, que valem como verdadeiras "revistas de cultura" minimamente sérias. Entretanto deixei de a ler e, por indicação amiga, soube que Leone a dirigia. Não me interessa. Prefiro ir a um número antigo, dedicado a Eduardo Lourenço, e respigar esta expressão de José Augusto-França acerca dos seus "trabalhos", numa "carta aberta a um mito chamado Eduardo Lourenço": "... tratar dos nossos anos 20 que foram o que foram e nos fizeram, em última instância (é a minha tese), como somos, perdendo o comboio de sermos outra coisa". É isto que falta a Carlos Leone - e a tantos como ele - e que ele ainda não percebeu: patine. O resto é nem sequer chegar a sair da estação.

FALTA DE SORTE

João Gonçalves 3 Out 06

Tudo começou com António Arnaut, o arauto do SNS. Depois, numa segunda encarnação, houve Maldonado Gonelha, um razoável e sério administrador. Mais tarde, quando emergiu Guterres, seguiram-se três ministros completamente distintos: Maria de Belém, Manuela Arcanjo e, no estertor, o próprio Correia de Campos. A única que sabia fazer contas, Manuela Arcanjo, foi despedida ignobilmente numa fase em que o engenheiro já estava por tudo. Como lhe competia, não lhe perdoou. Correia de Campos não teve tempo para mostrar a sua vocação de profeta. Talvez por isso Sócrates o tenha ido buscar de novo. Correia de Campos lembra-me aquelas pessoas que frequentam as barraquinhas de tiro das feiras. Não acerta uma. Tem, para cada dia da semana - fins de semana incluídos -, uma "política". Fecha, abre, anuncia, ameaça, ri-se, põe taxa, tira taxa, volta a rir-se com a mesma leviandade com que afirma que levar uma hora até uma urgência é motivo bastante para a encerrar. Uma hora a contar de onde ou de quê, sr. ministro? Enfim, é tempo de o engº Sócrates começar a olhar com olhos de ver para o que o dr. Campos, em perfeito delírio, anda por aí a plantar. O PS não tem sorte com os seus ministros da Saúde.

A PRESIDÊNCIA

João Gonçalves 3 Out 06


Já se percebeu que, a pretexto da "presidência europeia" do segundo semestre de 2007, o país vai paralisar. Tal como aconteceu com a Expo, o Euro e a "presidência" guterrista de 200o - a famosa "de Lisboa" -, todos estes acontecimentos foram "pontos de chegada". Num país provinciano como o nosso - em que já devem estar em bicos-dos-pés tudo o que é designer do regime por causa do "logotipo" bem como uns meninos e umas meninas emproados para "receberem" os visitantes - uma banalidade como esta nunca é acolhida com normalidade, apesar de ser a terceira vez. Haverá um governo "antes da presidência" e um governo "depois da presidência". Não quer dizer que mudem as moscas. O que pode mudar é a paciência para as ouvir zumbir.

"SEMPRE O MESMO AR"

João Gonçalves 3 Out 06


Concordo com esta leitura do JPP e, por tabela, da Helena Matos. De qualquer forma, não me impressionou nada aquele espectáculo "neo-realista" do dr. Barroso, enquanto porta-voz de uma Europa cega, surda e muda ao que quer que seja, a alombar com sacos de farinha para os "desgraçadinhos" africanos e, oportunisticamente, a dizer que a "prioridade" da Comissão Europeia é África. Ele que experimente dizer isso em sudanês para ver se convence alguém.

ANTES QUE ANOITEÇA

João Gonçalves 3 Out 06

O Tomás comprou o "Antes que anoiteça", do Arenas, no aeroporto de Madrid, a caminho de Cuba. Eu lembro-me de estar a ler a tradução portuguesa, da Asa, num comboio pré-Alfa Pendular entre Lisboa e Coimbra, em 1995. Em Junho desse ano, tinha ido a Cuba pela primeira vez e regressaria para o Natal e Ano Novo. Foi, aliás, no dia de Natal desse ano, passado numa Havana absolutamente tropical, que um rapazito, daqueles que perseguem os "turistas" por todo o lado na esperança de levarem qualquer coisa para casa, e a quem eu recusei dar fosse o que fosse (o meu mau feitio vai sempre na bagagem), me pôs o braço pelos ombros e me disse, com a altivez improvável da sua infelicidade, e num espanhol "acubanado" perfeitamente perceptível e sábio: "tu não és mau, o que estás é amargurado". Como católico, o tal mezzo credenti do Vattimo, poderia assumir que, sob a forma daquele menino pobre de olhar luminoso, o Filho do Homem me tinha vindo dizer qualquer coisa, ao sol escaldante de um Natal diferente. Desgraçadamente esse breve desconhecido conheceu-me melhor, em segundos, do que eu, numa vida inteira, jamais me hei-de conhecer. Nesse mesmo dia, na praça da Catedral de Havana, comprei na rua livrinhos "proibidos" pelo regime, que me foram exibidos discretamente num piscar de olhos, justamente por causa de já ter lido as "memórias" de Arenas. De facto, há quem cite Arenas supostamente a crédito de coisas em que ele nunca acreditou. De Cuba ao exílio nos Estados Unidos, Arena manteve, mesmo na doença e no tremendo sofrimento interior que levou na bagagem, a lucidez. Bem anda o Tomás quando o cita: "A diferença entre o sistema comunista e o capitalista é que, embora ambos nos dêem um pontapé no cu, no comunismo dão-no-lo e temos de aplaudir, e no capitalismo podemos gritar; eu vim para gritar." Eu gostava que aquele menino do dia de Natal de 1995, que desapareceu, como tinha aparecido - com um pontapé no cu numa ruela suja de Havana - e, hoje, já seguramente um homem adolescente, pudesse vir, aqui e agora, dizer-me o mesmo.

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