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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

"GO TO THE ROOT"

João Gonçalves 31 Out 06


"If you go to the root with all you've got, there is no way you won't injure family, friends, and innocent bystanders."

Norman Mailer

A DOAÇÃO

João Gonçalves 31 Out 06


O primeiro-ministro foi até Moçambique - como bem sintetizou o Miguel Sousa Tavares na TVI- doar Cahora Bassa aos autoctónes. Foram para aí quarenta anos e mais de dois mil milhões de euros enterrados. O "contrato" com Moçambique equivale a eu emprestar mil euros e um carro a um amigalhaço e, depois, de volta, receber uns cêntimos e a cadeirinha do bébé que ia no carro. Parece que há para aí uns duzentos e tal milhões de euros que Moçambique nos deverá dar em "tranches" e, em 2008, está tudo "saldado". Também fica a ex-colónia liberta - e os cofres do Estado português também - dos pagamentos aos administradores lusos que lá andaram a encher a pança. O sr. Gebuza não fez a coisa por menos e lembrou a um vago e "poético" Sócrates que, naquele momento, se enterrava o último vestígio da "ocupação estrangeira". Em delicadeza, foi o melhor que se pôde arranjar. Nunca soubemos lidar com esta coisa chamada Ultramar. Nem o dr. Salazar, nem a democracia. Numa altura em que o país se esfarela na ilusão "tecnológica", na obsessão "deficitária" e no consumismo desenfreado que alimenta o sistema bancário e a inconsciência "tuga", Sócrates foi a Moçambique "aliviar-se" do velho fardo do homem branco. E até pagamos - e de que maneira - para isso.

POLÍTICAS DO ESPÍRITO

João Gonçalves 31 Out 06


Um povo que não respeita a sua história ou, pior do que isso, que "adapta" a história ao bel-prazer do momento, é um povo sem memória e, a prazo, condenado. Uso o termo "povo" porque, em democracia, é suposto o governo dele emanar. A ministra da Cultura, uma amável professora catedrátrica de Letras do Porto, como não podia deixar de ser, quer deixar a sua "marca de Zorro" no sector que lhe entregaram. A colecção Berardo não só não chega, como nem sequer foi ela que tratou do assunto. E, assim como asssim, é do comendador. O resto são pagamentos e simpáticas cedências provisórias ao Estado. Deu-lhe, por isso, para o tal "museu da língua e dos descobrimentos" no único espaço que restou da Exposição do Mundo Português, dos idos de 40, o "museu de arte popular", a Belém. A coisa ministerial tem, aliás, uma designação horrenda: "Mar da Língua - Centro Interpretativo das Descobertas". Certamente não passará de mais um "pólo" masturbatório para sentar os amigos e os primos dos amigos. O pavilhão que sobreviveu à Exposição, e cuja concepção pertenceu ao arquitecto Jorge Segurado, acolhe o conceito estético-político de uma época da história portuguesa do século XX que muito democrata "esclarecido" não consegue engolir. Teria sido porventura bom que ele não tivesse existido, mas o facto é que existiu. A resposta de Pires de Lima para a eliminação daquele espaço e do respectivo acervo é concludente: "A vida dos museus não é eterna. Eles nascem, vivem e morrem. Não devemos estar presos a uma atitude conservadora." E, depois, não resistiu à sua própria ideia de "política do espírito", se é que tem alguma: "É preciso fazer opções quando se faz política cultural. Um museu da Língua e dos Descobrimentos é mais aberto e mais rentável". De acordo com a professora, o novo museu "é de uma importância fundamental para a autoconsciência da língua". Esta da "autoconsciência da língua" esmaga qualquer pedragulho dos anos 40, não é verdade? Será que a ministra tem "consciência" do que anda a dizer? Depois, o novo museu "será meramente virtual, sem acervo físico, apostando nas novas tecnologias e na interactividade". Isto é, o "plano tecnológico" também serve para rasurar a história. Alguém ainda tentou explicar à ministra que o museu de arte popular - vide Público - "é, em si mesmo, um documento histórico incontornável para o estudo da história do Estado Novo." Pois é. Todavia, a "política do espírito" agora é outra ou nenhuma. A diferença é que ninguém falará destes quando morrerem.

Adenda: Agradeço a António Machado a precisão sobre o que sobrou da Exposição.

OS NOSSOS

João Gonçalves 31 Out 06


"Creio que [Deus] tem um grande sentido de humor. Às vezes dá-nos um abanão e diz-nos "não te leves tão a sério". Na verdade, o humor é uma componente da alegria da criação. Em muitas questões da nossa vida, nota-se que Deus também nos quer impelir a ser mais leves, a perceber a alegria, a descer do nosso pedestal e a não esquecer o gosto pelo divertido."

Joseph Ratzinger, Deus e o Mundo - a fé cristã explicada por Bento XVI, uma entrevista com Peter Seewald, Tenacitas, Outubro de 2006

O EXEMPLO DA D.EDITE

João Gonçalves 31 Out 06

Fiquei a saber que a Sra. D. Edite Estrela entende que uma mulher com o vírus HIV não deve dar à luz. Mais. Que uma criança filha dessa mulher não deve vir ao mundo porque poderá ter SIDA. Ou seja, essa mulher pode e deve recorrer ao aborto para interromper a sua gravidez, se quiser. Moral da história da D. Edite: os seres humanos portadores do HIV são menos pessoas que as outras. Estou esclarecido.

PLATEIAS

João Gonçalves 30 Out 06

Estive aqui. Eu e parte do regime. Dois ministros - um de Estado - e um secretário de Estado. Um prémio Nobel, a maçonaria, o dr. Perestrelo, a Pilar, o dr. Balsemão, a Joana (simpatiquíssima), o sr. Carvalho da Silva, a Teresa de Sousa, a Flor Pedroso, o prof. Freitas. Interminável e insuportável, o prof. Freitas apresentou o livro a seguir à Joana "anti-imperialista". Federico Mayor Zaragoza foi espanhol, ou seja, franco, alegre, descontraído, em suma, um anti-Freitas sebentário que mais parecia estar a querer sentar o homem numa cadeira de uma imaginária academia feita à medida da sua confusa cabeça. Adiante. Mário Soares é suficientemente grande para pairar sempre acima das pequeninas cabeças de alguns "camaradas" que se imaginam agora donos disto. Alguns eram meus amigos e eu, pelo menos, ainda sou amigo deles. Se confundem as coisas, é porque não aprenderam nada com os autores do livro. Até Freitas, no seu desalinho mental e político, lá chegou. Não custa nada. Não sou eu que sou socialista e "tolerante". Como eles dizem, eles é que são. Saúde e fraternidade, dr. Soares.

LER NA RETRETE

João Gonçalves 30 Out 06


Caro JCD: percebo-o. Tanto percebo que me parece que a coisa merece transcrição integral, com sublinhados meus.
PNL

por Eduardo Prado Coelho (O fio do horizonte, in Público)

A Casa Fernando Pessoa organizou um debate sobre o Plano Nacional de Leitura, com a habitual moderação de Carlos Vaz Marques. Não tendo o dom da ubiquidade, não tive a oportunidade de estar presente. Lamento, porque o tema interessa-me e o convite incluía um "dossier" com declarações várias sobre a questão. Acontece que a leitura destes textos tem aspectos impressionantes. Alguns são considerações equilibradas e razoáveis. Mas outros revelam a mais espantosa ignorância e vocação para a tolice desenfreada. Grande parte destas vem de blogues, que pela desenvoltura da escrita, uma espécie de tu cá, tu lá, parece que favorece o disparate.Tanta demagogia! Uma personagem anónima, em algo que se intitula "Rabbit"s Blog", diz esta coisa publicitária: "O Modelo e Continente têm umas promoções de autores que ganharam o Nobel a 3,50 euros. A vantagem deste programa é que, ao contrário dos programas estatais, não só não custa um cêntimo ao contribuinte como é capaz de pôr mais gente a ler". Deve tratar-se de um funcionário do Continente que se pretendeu pôr em bicos dos pés. E que, com esta oscilação entre um anarquismo de esquerda e um fascismo de direita, vai-se buscar sempre o grande argumento: o bolso dos contribuintes. Mas isto é secundário. Porque a grande estupidez está nesta incapacidade de diferençar entre a promoção de uns livros a preços mais ou menos ocasionais e o que deve ser a consistência e complexidade de um verdadeiro Plano Nacional da Leitura. Este é um dos tópicos, o que passa pela ideia de que se não pode gastar dinheiro público com projectos deste tipo. Ora eu devo confessar: sempre que ouço a expressão "o dinheiro dos contribuintes" puxo a pistola. E não costumo falhar os alvos.A segunda ideia, mais elaborada e requintada em demagogia, é a de que as pessoas lêem imenso, mas não lêem aquilo que os intelectuais queriam. Daí a fúria deles, desanimados por não serem promovidos. Isto tem ainda a ver com uma outra idiotice que se propagou: o Plano Nacional da Leitura teria por função dizer às pessoas o que devem ler. Neste plano, Vasco Pulido Valente, que até pode ser uma pessoa inteligente, acumula todas as coisas absurdas, insensatas e totalmente desconhecedoras da realidade que se podem dizer sobre estas matérias.Como se lê: num estilo mais ou menos aparvalhado, um tal senhor Luís Aguiar Conraria, no blogue "A destreza das dúvidas", diz que "nunca se leu tanto como se lê hoje; basta ver o sucesso em Portugal de Dan Brown ou de Miguel Sousa Tavares. As comissões de bom gosto acham que devíamos ler Sophia de Mello Breyner e não Margarida Rebelo Pinto. (...) Provavelmente mandavam-nos ler poesia do século XIV no original". Eis o que se chama alguém que sabe verdadeiramente o que é literatura. Quanto ao meu amigo José Saramago, afirmou que a leitura será sempre questão de minorias. É verdade, embora o número que constitui essas minorias varie conforme os países. Mas David Mourão-Ferreira dizia escrever para "uma imensa minoria", e é portanto no "imensa" que está a questão."
Apenas dois ou três comentários. EPC, como bom intelectual orgânico - seja lá qual for o regime - tem o "dever cívico" de defender aquilo que o regime apresenta como bom para a educação geral das massas e para a sua subtil introdução nos estudos literários. Em 1975, como em 2006. Não pode, por isso, deixar de se colocar do lado do obscuro Plano Nacional de Literatura, coisa que, pelos vistos, está perfeitamente esclarecida na sua extraordinária cabeça. Em segundo lugar, EPC, apesar de ser uma "figura de esquerda", permite-se - o que é que ele não se permite - exibir a sua superioridade intelectual sobre os assalariados do eng.º Belmiro de Azevedo, num comentário de excelente recorte literário sobre um bloguista. E fazer um trocadilho reaccionário acerca do "dinheiro dos contribuintes", como se o "PNL" se pagasse por si. Depois, é claro que na cabeça de EPC, Vasco Pulido Valente não pode jamais pronunciar-se - nem ele, nem mais ninguém que não pertença à nomenclatura "intelectual" do regime - sobre uma "realidade"(?) que é apenas "real" nas cabeças fulgurantes e amiguistas dos membros da referida nomenclatura. O resto é lixo e supermercados. Finalmente - e aqui EPC tem razão - a frase do Conraria não passa de um dichote idiota sem qualquer relevância. Se bem que me pareça que cada um é livre de ler ou de não ler o que lhe aprouver, não é certamente o "PNL" (e, muito menos, o EPC) que vai induzir o prazer de ler - o mau, o bom e o péssimo - nos putativos leitores. Entre nós, será sempre uma "imensa minoria" a fazê-lo. Nem que seja na retrete.

OH JOÃO...

João Gonçalves 29 Out 06


... não conhecia esta sua faceta "democrática". Olhe, ao minuto 12, o telejornal da RTP já tinha posto o "querido líder" a regozijar-se pela sua esmagadora vitória (na moçãozinha, a coisa ainda conseguiu ser mais aconchegada: 99%) o qual atribuiu isso à alegria do partido com a sua governação e, naturalmente, com a sua única e excelsa pessoa. Depois, intervalou com uma peça sobre "pirataria informática" e, agora, aos 20, lá passaram Louçã, Jerónimo de Sousa e Lula. Ainda bem que existem cidadãos exemplares como o João que estão sempre na primeira linha da denúncia dos "filhos da puta". Bem haja.

TRAGICOMÉDIAS

João Gonçalves 29 Out 06


São a farsas como esta e esta que a minha querida amiga Maria Alexandra Mesquita (vide comentários a este post), chama "políticas públicas da cultura"? Se é, mais vale estar quietinha e, repito, acabe-se de vez com a tragicomédia que é o Ministério da Cultura. A lei orgânica "ficciona" novas entidades, nomeadamente as entidades públicas empresariais em que se vão tornar os teatros nacionais. No Porto, Ricardo Pais parece andar contentinho, já que não tem dado entrevistas e, em compensação, Pires de Lima tem-lhe dado muita coisa. Em Lisboa, o moribundo D. Maria II - que, em apenas dois anos, passou de SA para EPE - está enguiçado naquele revivalismo pseudo-moderno do ex-director do Trindade. E a Companhia Nacional de Bailado e o único teatro de ópera português, vão "fundir-se" (ou melhor, refundir-se) em torno de uma coisa chamada "OPART, organismo de produção artística, EPE", "conservando as respectivas identidades". Muito me vou eu rir por causa desta do "conservando as respectivas identidades". É claro que, apesar dos "títulos", a fonte pagadora - descontando o mecenato que, no caso da CNB, é o seu "bezerrro de ouro" - é a mesma, o OE e os impostos. Quanto às quatro delegações regionais do ministério - que deviam ter sido extintas com esta lei orgânica - passam a chamar-se mais prosaicamente "direcções regionais". Continuarão bovinamente a não servir para nada. Está, pois, aberta, como nos outros ministérios, aliás, a corrida.

QUERIDO LÍDER

João Gonçalves 29 Out 06


A grande surpresa do dia é, sem sombra de dúvida, a eleição, por 97% dos votos dos militantes "mesmo militantes" do PS, do seu secretário-geral, o honorável camarada José Sócrates. Nem no tempo em que o partido era vivo se alcançou tamanha proeza. A última vez que um líder foi reconduzido neste registo albano-coreano aconteceu em 2001, com o camarada António Guterres. Depois seguiu-se uma entronização patética no Pavilhão Atlântico que culminou, em Dezembro do mesmo ano, com a fuga envergonhada do líder depois de uma estrondosa derrota na urna que conta, o país. Não sou socialista, mas teria vergonha de ver o partido de Soares, Zenha, Soromenho ou Medeiros Ferreira transformado neste imenso e branco deserto "ideológico", dirigido por um bando de jovens turcos tecnologicamente "musculados". Ironia a deste PS que nos ensinou a "amar" a democracia e que, agora, está nas mãos de uma pequeníssima nomenclatura de aprendizes de democratas. E maus, ainda por cima. Paz à sua alma socialista.

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