A entrada de António Botto no post anterior não se deveu a nenhum desatino melancólico de que tivesse sido acometido. Vem a propósito do que li e escrevi nos últimos dois dias. Com o habitual atraso, só hoje, domingo, passei pelo Público de ontem e pelo artigo do Augusto M. Seabra sobre os "teatros do poder". Batem muito no Augusto - EPC e Cia. - porque alegadamente o homem não tem "uma obra" e não é brando a zurzir. Para que é que ele havia de ter "uma obra" quando os escaparates já estão inundados com tanta bosta ilegível? E por que é que ele devia deixar de zurzir tudo aquilo que é eminentemente zurzível - quase tudo - no plano da chamada "cultura"? Explico-me. A dado passo do seu artigo, AMS, que não tenho por ingénuo, pergunta o seguinte: "Como é admissível que seja director de um teatro nacional quem, como Fragateiro, declara não gostar de ler teatro (PÚBLICO de 06/04)? Como é possível a pusilanimidade de declarar que "se o Teatro Nacional fosse só dirigido pelo José Manuel [Castanheira, o adjunto] isto era um desastre nas contas, se fosse só dirigido por mim era desastre na estética!" (Visão de 06/04)? Mas então que qualificações tem para o cargo? É só um comissário político?" Quem ler isto ainda pode pensar que as pessoas são nomeadas para os cargos porque são "competentes", "idóneas", movidas pela "recta intenção" ou, nos casos mais patológicos, para defender o "interesse público". E que, consequentemente, a direcção actual do Teatro Nacional D. Maria II seria uma "excepção". Naturalmente que a dupla Fragateiro-Castanheira é dada à paródia, um "tique" que lhe advém da gerência do Trindade - que Fragateiro acumula ilegalmente - e que é aquele produto híbrido entre a FNAT do dr. Salazar e o "aproveitamento dos tempos livres" da democracia. Fragateiro tem a cabeça de um director de companhia teatral dos filmes do Lopes Ribeiro e já não consegue meter mais nada lá dentro. Para além disso, serve os propósitos da actual gestão política do ministério da Cultura, dirigido por dois amáveis ex-comunistas, daqueles que ainda o eram nos anos 80. Escrevo "propósitos" por mero acaso, já que, na realidade, dois anos quase volvidos, não lhes descortino nenhum. Daí que, desde a saída de Carrilho da Ajuda, a decadência do MC tenha sido irreversível, podendo perfeitamente extinguir-se, a bem da nação, por manifesta inutilidade pública. Para não sairmos dos teatros e equiparados, o panorama não muda muito nos outros. Ricardo Pais - à semelhança de Luís Miguel Cintra que dirige uma espécie de "nacional" na Cornucópia, graças à generosidade das receitas fiscais - , tornou-se num encenador do regime. Trocou a sua iconoclastia imaginativa por um confortável lugar de cortesão, uma coisa que advém normalmente com a idade. Na ópera, Paolo Pinamonti deve continuar a espremer-se por todos os lados para obter dinheiro para as suas produções as quais, apesar de tudo, evidenciam um módico de qualidade apreciável, coadjuvado por duas extravagâncias. Uma, acumula - não há mais ninguém, dr. Vieira de Carvalho? - a condição de jurista, de ex-coralista e de membro da direcção do São Carlos com a de membro da direcção da Companhia Nacional de Bailado, desempenhando ambas - só pode - em part-time. A outra, engenheiro mecânico desprovido do talento de Álvaro de Campos, e em tempos "gestor" de um estabelecimento de automóveis para as bandas de Santarém, tem no currículo uma assessoria "técnica" ao gabinete de Carrilho, na Ajuda, provavelmente naquela que é uma das suas muitas "especialidades", para além da mecânica: a construção civil. Foi ainda subdirector da Companhia Nacional de Bailado, durante cerca de nove anos, e deixou literalmente Ana Pereira Caldas - a directora - entregue a si própria quando o Tribunal de Contas recentemente lá foi auditar uma gestão pela qual ele tinha sido co-responsável. Nem um murmúrio se lhe ouviu - mas isso não são coisas de contas, são coisas de carácter - e continua "premiado" com a co-gestão do nosso único teatro de ópera. Finalmente o CCB, que está entregue a um verdadeiro imã do regime, o dr. Mega Ferreira, e a uma senhora que, à falta de outros, tem o mérito de saber gerir muito bem a sua carreira e que, pelos vistos, "cai" bem a qualquer poder. Por isso, Augusto, há mais Fragateiros no céu e na terra do que na tua "filosofia". É só ires atrás deles.
Primeiro tem de me explicar o que é isso do “desta...
obviamente nao é culpa do autor ter sido escolhi...
Estou de acordo. Há questões em que cada macaco se...
Fui soldado PE 2 turno de 1986, estive na recruta ...
Então António de Araújo foi afastado do Expresso p...