O
Eduardo é ligeiramente mais velho e o
João ligeiramente mais novo. Ambos escrevem a propósito do Bairro Alto quando ele era vivo. Também o conheci. Conheci-o nos restaurantes onde o João Amaral combinava comigo escritos vãos para o
Semanário. Conheci-o nas noites quentes de Agosto de 1982, com o Vicente Batalha, o amigo de sempre que me levou pela primeira vez ao
Pap'açorda e ao
Frágil, aberto dois meses atrás. Enamorei-me do
Frágil onde passei muitas das noites desse ano e do seguinte. Era normalmente dali que partia para outras deambulações decididamente mais "rascas". Numa delas, a Guida Maria levou-me de carro até à porta da
Lontra, na Rua de São Bento - que mulher lindíssima, a Guida Maria - e pediu-me que fosse lá dentro ver se o Pedro Oliveira - que homem lindíssimo, o Pedro - por lá andava. Não andava. Eu fiquei e voltei muitas noites à
Lontra, para onde arrastava colegas de curso como o Rogério Alves, um folgazão que a Ordem dos Advogados ainda não conseguiu estragar. Na noite em que Bush pai declarou guerra ao Iraque por causa da invasão do Kuwait, estava no
Frágil com a Ana Pereira da Silva e o Humberto, e começou a ouvir-se "War", do Boy George. Daí em diante, as idas ao Bairro Alto e ao
Frágil espaçaram-se como as amizades e os amores. Fui um "pré-Margarida Martins", dos tempos em que a porta era aberta por um rapaz loiro e actores "serviam" bebidas. Na comemoração do primeiro ano do
Frágil, fui " à festa" com o José Ribeiro da Fonte ou, pelo menos, entrei com ele. Regressei para outras festas mas percebi que o
Frágil estava a esfumar-se. Ainda tentei o bar do Hernani, umas ruas abaixo. Numa fase dada ao fado, por alturas da "Lisboa 94", irrompi com o Duarte por algumas casas do dito à procura da Beatriz da Conceição. Depois despedi-me definitivamente a não ser para um almoço ou um jantar rápidos. Entretanto o Bairro Alto começou a ser invadido por hordas literalmente bárbaras e deu-se início àquela mania de estar a beber, ou melhor, a exibir um copo de plástico na rua. Com o copo, também se exibem corpos assexuados que se contemplam bovinamente. A estudantada acéfala fala do "bairro" com uma intimidade e com uma cumplicidade absolutamente inverosímeis. Fingem a alegria em bebedeiras atrozes que os tornam incapazes para, no mínimo, foderem ou serem fodidos. O ambiente toldou-se e virou lixo, em sentido material e humano. Uma vez, o Miguel Lizarro, em pleno
Frágil, olhou em volta e sussurrou-me : "já reparaste, estão todos cheios de vontade de ir para a cama uns com os outros, mas ninguém avança". Alguém acabava sempre por avançar. Agora, nem vontade, nem cama, nem "avanços". Nada. É tudo de plástico como os copos. O Bairro Alto perdeu definitivamente o que tinha de mais belo: a sua noite, a sua autenticidade e o seu esplendor. Trocados, como escreve o João, por
"uma suja e graffitada ficção do que foi." Um Bairro dos Pequeninos.
Primeiro tem de me explicar o que é isso do “desta...
obviamente nao é culpa do autor ter sido escolhi...
Estou de acordo. Há questões em que cada macaco se...
Fui soldado PE 2 turno de 1986, estive na recruta ...
Então António de Araújo foi afastado do Expresso p...