Por falar em "esquerda" e em "direita", apenas duas observações rápidas. Ando a ler, com o vagar que o livro exige, as "crónicas" e as entrevistas de António José Saraiva reunidas num calhamaço da Quidnovi. Lá pelo meio, há uma série de textos que AJS escreveu para a revista Vida Mundial, nos idos de setenta, em pleno "fascismo-marcelismo", como diriam aqueles patuscos do "não apaguem a memória". AJS é insuspeito. Foi demitido da função pública pelo regime e esteve exilado em França. Quando regressou, depois do "4/25", não apreciou o que viu, sobretudo naquilo a que metaforicamente se chama "universidade". As crónicas da Vida Mundial são um exemplo de lucidez e de coragem cívicas que tomara muitos dos "cronistas" do actual regime possuírem. Ninguém as censurou, enquanto agora se encontram formas mais subtis de calar quem não come da gamela "democrática". Já em plena "democracia", por exemplo, no Diário de Notícias, em Maio de 1979, a propósito de "cultura e bibliotecas", AJS escrevia: "O antigo regime era acusado de fazer "obras de fachada"; pelo menos fez o actual edifício da Biblioteca Nacional. Mas nunca se viu, como hoje, tanta fachada sem obras". Querem melhor descrição do que esta para os "investimentos" do dr. Pinho e para as "grandes obras" do dr. Lino? Finalmente, o Sol anuncia que o presidente da Câmara de Santa Comba Dão quer fazer um museu da casa onde nasceu António de Oliveira Salazar. O museu recolheria objectos pessoais do antigo Presidente do Conselho, teria um auditório e serviria de centro de estudos do Estado Novo. Há cinco anos visitei o local e a campa rasa do antigo Chefe do Governo, no Vimieiro. A degradação, a destruição propositada e o abandono podiam ser comparados com o que o governo da democracia espanhola - trinta vezes mais madura e segura do que a nossa - fez com os locais de residência do Generalíssimo, como ainda agora se pôde constatar aquando da presença de Cavaco Silva em Madrid, no Palácio do Pardo, onde a ala onde residia Franco está conservada e interditada aos visitantes oficiais. O complexo com que encaramos o século XX português, marcado indelevelmente pela personalidade de Salazar, não serve os propósitos da história, nem ajuda a democracia portuguesa a fortalecer-se. Salazar não foi um mero fantasma que passou pelos ares de Portugal. É a sua sombra - pelo menos no seu lance autoritário e mesquinho - que se perpetua no actual regime, particularmente com este governo dito socialista. No resto, e como escreveu António José Saraiva em 1989, no Expresso, "Salazar foi, sem dúvida, um dos homens mais notáveis da história de Portugal e possuia uma qualidade que os homens notáveis nem sempre possuem - a recta intenção". Não merece um museu. Merece dez.
Primeiro tem de me explicar o que é isso do “desta...
obviamente nao é culpa do autor ter sido escolhi...
Estou de acordo. Há questões em que cada macaco se...
Fui soldado PE 2 turno de 1986, estive na recruta ...
Então António de Araújo foi afastado do Expresso p...