Não percebo nada de numerologia. Certo é que os dias 27 e 28 estiveram sempre ligados à biografia de António de Oliveira Salazar. Nasceu num dia 28, deveu a sua ascensão política ao "28 de Maio", tomou posse como o mais famoso ministro das Finanças do século passado num 27 de Abril, chegou, para aquelas que seriam as últimas férias no Estoril, no dia 27 de Julho de 1968, foi substituído nas funções de presidente do Conselho em 27 de Setembro do mesmo ano e faleceu no dia 27 de Julho de 1970, precisamente há trinta e seis anos. No último ano de lucidez, Salazar recebeu por diversas vezes o seu ministro dos Estrangeiros, Franco Nogueira, e seu biógrafo. "Todos os dias, quase a todas as horas, vejo o fim da minha vida", confessou-lhe em Abril. E, já depois da queda fatal no Estoril, ainda lhe disse: "no dia em que eu abandonar o poder, quem voltar os meus bolsos do avesso, só encontrará pó". Quando morreu, tinha, na única conta que possuia e onde lhe era depositado o ordenado, 50 contos. Premonitório, sussurrou a Nogueira, dois anos antes da queda, que "chegara ao fim". "Os que vierem depois de mim, vão fazer diferente ou o contrário e contra mim". Era verdade e era necessário que assim fosse. Não o foi completamente porque Caetano estava cercado pelo regime. Mesmo assim, algum "reformismo" de que hoje ainda se sentem os contornos, foram introduzidos nos primeiros anos da década de setenta. "Respirava-se" um pouco melhor. Em quatro anos, uma das corporações apascentadas pela ditadura, a tropa, acabou com ela. O que se seguiu é conhecido. Salazar não deixa ninguém indiferente, pelos piores e pelos melhores motivos. O país que somos em 2006 é, em certo sentido, "salazarento". Aí, o antigo chefe do governo obteve uma vitória póstuma. São ténues os vestígios de uma cultura e de uma qualidade de vida democráticas. Este regime não gerou elites, à excepção de uma ou outra figura que já tinha uma "biografia". É o caso inequívoco de Mário Soares. Na campa rasa do Vimieiro, Salazar quis uma sepultura à altura da sua visão dele próprio e do mundo. As iniciais "A.O.S." encerram simbolicamente uma história que parece nunca acabar.
Primeiro tem de me explicar o que é isso do “desta...
obviamente nao é culpa do autor ter sido escolhi...
Estou de acordo. Há questões em que cada macaco se...
Fui soldado PE 2 turno de 1986, estive na recruta ...
Então António de Araújo foi afastado do Expresso p...