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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

TOYS 'R' US

João Gonçalves 28 Jun 06


É assim mesmo. Não deixe o professor Marcelo passar-lhe à frente. Já leva uns quinze dias de avanço.

NAS RUAS DA AMARGURA

João Gonçalves 28 Jun 06

O sr. Ruas, vizir eterno em Viseu e presidente da "associação nacional de municípios", instou os autócnes a "correrem à pedrada" com inspectores do ministério do Ambiente. "Arranjem um grupo", berrou o "autarca", e é "correr [com eles] à pedrada". Isto foi dito, sem um murmúrio da assistência, na "assembleia municipal de Viseu". O sr. Ruas, à semelhança de outros, deve ser considerado pelos seus eleitores como um autarca "modelo". Por feitio (mau), desconfio de autarcas. Dos que falam e dos que se calam. Porém, ainda desconfio mais de homens que pintam o cabelo e o bigode. O sr. Ruas junta brilhantemente as duas maleitas. Uma desgraça nunca vem só.

COISAS DE VELHOS

João Gonçalves 28 Jun 06


1. O post anterior suscitou alguns comentários interessantes. Pena é que haja autores que se escondem por detrás do anonimato e de uma igualmente interessante "teoria científica". Convido-os, desde já, e para além dos comentários que vão deixando, a produzir prosa identificada que possa ser convertida em posts. Todavia, não é por isso que deixo de fazer algumas observações.
2. A primeira - a mais óbvia e da qual deriva tudo o mais - prende-se ao motivo do post, um livro. Sem que o livro seja lido e entendido, não saímos destes jogos florais. Insisto. O autor, Simon Goldhill, propôe-nos o seguinte: tentar perceber em que medida a cultura clássica está presente no nosso quotidiano político - a democracia-, de costumes, religioso, social, etc. Para o fazer, Goldhill, um especialista em Grego, explica, entre outras coisas, os padrões de comportamento cívico dos "antigos" e, nisto, inclui-se a atitude dos mesmos perante as "afinidades electivas" e sexuais. Falamos de sociedades - na pratica e exclusivamente - de natureza patriarcal, nas quais a amizade viril e a cumplicidade intelectual - a dos "cidadãos" entre si, e destes com os mancebos destinados a ser mais tarde, também eles, "cidadãos" - são dados essenciais para entender aquilo a que o tradutor chama de classicismo (literalmente, Goldhill, em epígrafe, titula "como é que o mundo antigo molda as nossas vidas") . Por outro lado, o autor discute, à luz dessa "vida em ruínas", a respectiva projecção no dia-a-dia, pelo menos, do "homem ocidental". Heidegger, aliás, insistia na etimologia da palavra "ocidente" - a terra do Ocaso, do declínio do ser - e, ao lermos Goldhill, percebemos porquê.
3. Mais. O facto de, por uma forma relativamente generalizada, se impôr - impormos - um "padrão" normativo aos comportamentos sexuais, a partir da classificação "hetero" e "homo" inventada por volta de 1870 na Alemanha, não significa que ele exista realmente. A tese respeitável do "hipotálamo", por exemplo, não explica por que é que soit disant "homossexuais" praticam sexo com pessoas de sexo diferente quando lhes dá na telha, e em fases completamente distintas do "crescimento", ou por que ditos "heterossexuais" o fazem de igual modo com pessoas do seu sexo. Por consequência, Goldhill interroga-se sobre se fará algum sentido falar de "natural" nestas matérias, deixando um mote sugestivo: "limita-te a fazer o que acontece naturalmente".
4. A frase de Aristóteles, lida à luz da "normalidade", seria uma aberração porque vivemos numa era em que a troca de galhardetes "românticos" - evidenciada nos "discursos" do "dia dos namorados", nas falas dos filmes, das televisões e dos "romances cor-de-rosa" - é uma componente indispensável do transporte "amoroso". Todavia, nada disso se encontra nas grandes tragédias clássicas ou nas epopeias de Homero. Penélope e Ulisses "omitem" o desejo que sentem um pelo outro - Ulisses "alivia-se" pelo caminho com outras o os que desejam Penélope estão condenados -, mas nem por isso deixam de ser marido e mulher para todos os efeitos, incluindo o sexual. E Páris arruina-se por causa do desejo que sentia por Helena. Isto é, Homero afirma, através dos seus heróis masculinos e femininos, que o desejo é perigoso para os primeiros e sintoma de corrupção para as segundas. Na antiguidade existe uma hierarquia na qual está vedado ao homem ser desejado, nem sequer pela esposa. Não existe reciprocidade, apenas supremacia, sob pena de pública expiação nos simpósios ou nos ginásios. Até a poetisa Safo, exilada em Lesbos, e que se atreveu a dar forma de letra ao seu desejo por mulheres, foi amplamente apoucada por esse facto. E na relação homem-mancebo, a dependência também é total. O arquétipo grego de beleza ignora ostensivamente a mulher sobre a qual o homem tem total poder, da mesma maneira que o tem sobre os seus desejos, sobre a sua casa, sobre os seus filhos e sobre os seus "rapazes".
5. Como escreve Goldhill:
"A cidade clássica está constantemente a lembrar-nos que o idoso casal junto ao chalé coberto de rosas não é o desfecho natural de uma história de amor, por mais que continue a predominar na cultura ocidental contemporânea. A aceitação e promoção por parte dos antigos da falta de reciprocidade no amor vai contra os sentimentos dos amantes modernos, aqueles que parecem mais básicos e naturais. O cliché segundo o qual "o amor é igual em todo o mundo" constitui uma maneira de evitar o pensamento incómodo de que as nossas emoções mais profundas podem ser estruturadas por expectativas e pressões sociais e não acontecem de forma expontânea. A diversidade tentadora do passado transforma o "Quem é que julgas que és?" numa pergunta inquietante."

GRANDES FRASES

João Gonçalves 28 Jun 06


"Uma mulher é uma deformidade natural".

Aristóteles, citado por Simon Goldhill, em "Amor, Sexo e Tragédia - a contemporaneidade do classicismo" (Aletheia Editores, 2006). A capa que se reproduz é a da edição em língua inglesa. Talvez por causa da pudicícia nacional, a versão portuguesa optou por outra coisa, não deixando, no entanto, de fazer o seu sentido. Na nossa, retrata-se o "pecado original", o momento da trinca na famosa maçã , sob o olhar vigilante da serpente. Eva, segundo a "lenda", brotou duma costela de Adão, e fundou, sem o saber, a tradição sexual judaico-cristã. "Boy meets girl, girl meets boy", e por aí fora. Nem sempre foi assim. Nem sempre é assim. Este precioso livrinho explica, com erudição e graça, por que, apesar disso, é essencial - por causa de sabermos "quem somos", "donde vimos" e o "que é que andamos cá a fazer", sozinhos e em comunidade política- conhecer a vida antiga e a cultura clássica, afinal ainda tão subtilmente presente nas nossas tristes vidas "amnésicas". O livro toma como ponto de partida uma frase de Cícero: "se ignoras de onde vens, serás sempre uma criança". Serve para a vida, serve para a sociedade. Talvez a nossa.

"O TEMPO REAL"

João Gonçalves 27 Jun 06


Um simples "click" num computador pôs imediatamente Portugal naquilo a que o primeiro-ministro chamou de "tempo real com o que se passa lá fora". Falo dos dez milhões de caixinhas de correio electrónico que os CTT/Estado puseram à disposição do "povo". Mais tarde vi o dr. Zorrinho, coordenador do sublime "plano tecnológico", a explicar que, desde que haja um "ponto de contacto" - no vizinho, nos correios, no café, na casa-de-banho, etc., etc. -, é só "mandar" e "receber". Acontece que o "tempo real" de que falam o engº Sócrates e o dr. Zorrinho não é o mesmo em Lisboa ou em Boticas. Nem a "vizinhança" ou sequer o posto de correios. Aliás, bastava olhar para a plateia que compunha o evento para perceber a frivolidade do exercício. Estava ali meio regime, de um lado e do outro, os "sempre-em-pé" do empresariado público. São dois países diferentes, com "tempos" diferentes. Confesso que não sei qual é o mais "irreal".

A VIA ESPANHOLA

João Gonçalves 27 Jun 06

O Diário de Notícias (sem link) conta, a partir de um texto do El Mundo, que deu entrada num tribunal de Madrid o primeiro pedido de divórcio entre same-sexers. De acordo com a notícia, os rapazes casaram-se em Outubro do ano passado, ao abrigo da legislação Zapatero sobre a matéria, depois de uma ligação prolongada. Agora, um deles alega que o outro não lhe permitiu realizar-se plenamente, já que "trocou" uma putativa carreira de "modelo" e de dono de um "salão de beleza para cães" (juro) para ir atrás do "respectivo" para Paris. Parece que é assim a história. A seguir vem uma "estatística" curiosa. Dos duzentos e tal mil casamentos realizados em Espanha, no período abrangido pela nova legislação, apenas 0,6% corresponde a matrimónios entre same-sexers. E - convém lembrar - a dita legislação alcança o direito sucessório e o direito à adopção. Ou seja, não parece que o contrato de casamento - que, pelos vistos, continua a fazer a felicidade de pessoas de sexo diferente - esteja a ser um "sucesso" junto da auto-intitulada "comunidade gay" que maioritariamente prefere continuar como free lancer. Convinha, por isso, e já com este exemplo do divórcio - na versão do "copianço" integral das grandezas e misérias do contrato - que as "associações" domésticas reflectissem sobre o assunto. André Gide dizia que é melhor ser odiado por aquilo que se é, do que ser amado por aquilo que não se é. Querem mesmo um "remake" do patético do casamento para as vossas vidas? Têm a certeza?

VAZIO

João Gonçalves 27 Jun 06


Estes iranianos são uns pândegos. O embaixador em Lisboa fala num "lugar vazio" que Portugal pode preencher nas negociações em curso por causa da "crise nuclear". Salvo o devido respeito, isto parece-me uma impossiblidade, não só física, como política. É que não se vislumbra em parte alguma do mundo um lugar tão vazio como aquele que Freitas do Amaral ocupa. Vazio por vazio, mais vale deixar o lugar assim.

ALEGRIA DE ESCREVER, ALEGRIA DE LER - 2

João Gonçalves 27 Jun 06

O João Villalobos, que escreve no Corta-Fitas, deixou um comentário neste post que me apetece glosar aqui. De facto, prenuncio a chegada de mais "literatura" do género "Amar depois de amar-te", de Fátima Lopes. Nada em mim se opôe a que isso aconteça. Sou um liberal anarquizante cujos níveis de tolerância são muito mais elevados do que eu próprio suspeito. No entanto, convém garantir que esses "escritores" saibam construir frases, depois juntá-las e, finalmente, atribuir-lhes um módico de sentido. Até pode ser o caso da Lopes, não tenciono sequer fazer uma ideia. Sucede que "contar" uma história não é fácil, sobretudo se for uma boa história. Tem de haver por lá um rasgo qualquer que a "ilumine", que justifique a sua leitura e não tanto a sua publicação, hoje em dia coisa de somenos importância. Francisco José Viegas e Miguel Sousa Tavares, por exemplo, conseguem "emitir" essa subtileza, esse "ambiente" de que falava Vergílio Ferreira para definir o "romance". Até para ter "graça" ou "desgraça", isso tem de lá estar. Ora, encontrar esse "eixo" é difícil. O que é fácil é vender "histórias" e, nisso, qualquer das hipóteses mencionadas, é perita e pelos motivos mais extraordinários, porventura todos alheios à noção que eu possuo de literatura. Aqui, sou menos liberal, seguramente mais "clássico" e, no extremo, mesmo reaccionário. Esta subliteratura, eventualmente respeitável, é uma maneira de prolongar, em forma de livro, uma "imagem" de televisão. Nada mais.

NA SOMBRA

João Gonçalves 27 Jun 06


Num sítio qualquer em que o parlamento fosse a sério, os sindicatos fossem a sério, a administração pública fosse a sério e, finalmente, o Estado, como um todo, fosse a sério, esta pretensa reforma mereceria outra atenção e outra importância. A trapalhada, no entanto, resume-se a decepar umas míseras árvores e à realização regular de jogos florais entre os membros do governo e os sindicatos. Não há, como nunca houve, um "pensamento estratégico" e, sobretudo, político a presidir à causa. Nem sequer existe "pensamento único". Apenas inexiste um. Mesmo assim, dada a importância que lhe é dada, a coisa devia - nem que fosse por pudor "democrático" - ser discutida de forma mais "ampla" pelos chamados representantes da nação, sentados na famosa "casa da democracia". Todos, e não apenas os delegados do PS no governo e nos gabinetes. Falamos da putativa "reforma" do Estado português e não de um capricho de circunstância, um fait accompli. Todavia, não se muda ninguém contra a sua vontade e, pior do que isso, na sombra, de forma atomista e "contabilística". Em devido tempo, se Deus quiser, tudo correrá naturalmente mal.

ENQUANTO PORTUGAL DORME...

João Gonçalves 27 Jun 06

... embalado pela bola, por Timor e pelo serial killer de Santa Comba, o que é que o governo anda a fazer? E a funesta "oposição"? E o inútil parlamento? Como diria outra "grande escritora", tirada directamente dos ecrãns da televisão, isso agora não interessa nada, não é verdade?

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