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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

DEUS NÃO DORME

João Gonçalves 19 Mai 06


A minha ex-colega de curso, Maria João Sousa e Faro, considerou improcedente a providência cautelar intentada pela editora "Oficina do Livro" e pela "marca registada" Margarida Rebelo Pinto contra o livro de João Pedro George, "Couves & Alforrecas", da "Objecto Cardíaco". Venceu o bom senso. "A juíza considerou "ostensivamente desadequada e desproporcionada" a pretensão dos requerentes, pois atinge "o próprio âmbito de protecção constitucional" do direito à liberdade de expressão" e que "o texto de João Pedro George "se contém genericamente dentro da crítica objectiva", embora pontuado por expressões «incorrectas e indelicadas [...] susceptíveis de se revelarem ofensivas dos direitos do bom nome, honra e consideração" de Margarida Rebelo Pinto". O tribunal "também desvalorizou a presuntiva apropriação da marca “Margarida Rebelo Pinto”, sem a qual ficaria esvaziado o objecto da crítica" (fonte: Eduardo Pitta). Fico contente pelo João e pela decisão sensata da Maria João. Deus não dorme, sei lá.

POBRE PAÍS

João Gonçalves 19 Mai 06


Ao contrário do colega de coluna Francisco Trigo de Abreu, não vibro com o futebol. Perante a bola, oscilo entre a indiferença e a abominação. Não me entusiasma a loucura das hordas coloridas que correm para os estádios. Não suporto a maneira como é relatada nas rádios e nas televisões. Desconfio da bondade da maior parte dos dirigentes. Todavia, juro que me esforço por encontrar formas de vida inteligente no vago balbuciar dos principais protagonistas. O sr. Madaíl, por exemplo, o eterno “patrão” do futebol nacional, presumo que já não entusiasme ninguém. Penso até que nem ele próprio está muito convencido daquilo que diz. Limita-se a estar e a ir ficando com o beneplácito de todos. Também a imensa vaidade do sr. Scolari não me provoca tremores incontroláveis como, pelos vistos, à nação inteira. Abrir os telejornais das três televisões generalistas com os ditos cujos por causa dos “eleitos” de Scolari para a Alemanha, é a prova viva do nosso irremediável primitivismo. O país afunda-se mansamente a atira-se poeira para os olhos da populaça sob a forma de jogadores de futebol, devidamente acompanhada pela retórica oca dos respectivos patrões. As próximas semanas destinam-se precisamente a isso. Até o comentador oficial do regime, o meu caro professor Marcelo, distinto companheiro da praia do Guincho, não escapou ao populismo da coisa. Parece que a RTP o vai transformar em “comentador” do Mundial. A patética e vulgar exibição das bandeiras nacionais por tudo quanto é sítio, limita-se a criar estados artificiais de ansiedade colectiva alimentada pelas televisões A “futebolização” da vida pública pode fugazmente alimentar ilusões mas não ajuda a tornar a sociedade portuguesa mais adulta. Os “pobretes mas alegretes” do dr. Salazar foram substituídos pela “alegria” democrática do futebol. A “classe política”, das esquerdas às direitas, preenche colunas nos jornais e participa em mesas redondas nas rádios e nas televisões para apreciar os chutos na bola, cada qual com o seu cachecol de estimação. Com exemplos destes, não admira que o “povo” tenha dificuldade em sair do seu natural estado de necedade. Uns homens a correr atrás de uma bola, aqui ou lá fora, são o sonho possível que alimenta milhares de vidas vazias. De desilusão em desilusão, sempre com a mesma crença idiota na “vitória”. Pobre país.

(publicado no Independente)

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