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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

ALERGIA

João Gonçalves 4 Mai 06

A dra. Ana Gomes - lembram-se dela? - menciona uma "doença Bush" e profetiza para breve o "julgamento" da administração com o mesmo nome. Felizmente que o actual PS colocou a senhora a bom recato, no Parlamento Europeu, poupando-nos a desnecessárias sevícias. De vez em quando, porém, a referida eurodeputada gosta de fazer prova de vida política mediante acessos como este. No caso da dra. Ana Gomes nem é tanto a "doença". É mais a alergia.

A BOA REALIDADE

João Gonçalves 4 Mai 06

Vi os dez primeiros minutos dos telejornais da noite. A RTP deu prioridade a um "relatório de segurança interna" absolutamente trivial - aumentaram as violações e os assaltos ao multibanco - e fez um directo de Vila de Rei porque tem um programa qualquer que emprega imigrantes brasileiros (os de lá, ao que parece, ou estão satisfeitos ou não estão para se mexer). As outras duas, SIC e TVI, pelo contrário, abriram com a realidade. E a realidade chama-se aumentos dos combustíveis (15 vezes em quatro meses), dos transportes colectivos e de praticamente tudo porque quase tudo deriva do petróleo. Também se chama, por consequência, aumento das taxas de juro anunciado pelo Banco Europeu. Tudo isto escapou ao exercício optimista da RTP oficiosa durante os primeiros minutos de emissão do seu telejornal. Ainda "apanhei" o dr. Teixeira dos Santos, na TVI, a tentar explicar que as previsões do governo para o nosso crescimento económico não baixaram apesar de não terem subido - ou vice-versa - o que me permitiu comer os carapaus fritos mais descansado. Finalmente num zapping entre dois episódios de Will&Grace apareceu-me, na referida RTP, o dr. Pereira, que é ministro da Presidência e um magnífico erzatz do eng.º Sócrates, a prometer-nos a "certificação electrónica dos actos do Estado" para 2007, dentro da lógica "Simplex" em vigor. Era, aliás, o que nos estava a fazer mais falta, sobretudo aos milhares de pensionistas que recebem menos do que o salário mínimo nacional ou às empresas falidas (TVI) cuja apetência pelas novas tecnologias é mundialmente famosa. Agora já sabem. Quem quiser notícias estilo "música no coração", procure a RTP. Ela só deixa entrar a realidade que lhe convém. A boa.

O VAZIO

João Gonçalves 4 Mai 06

De acordo com um estudo publicado no Diário de Notícias, ninguém nos quer comprar. Se o país fosse uma marca, os potenciais consumidores viravam a cara e escolhiam outra coisa, o que só revela bom gosto. O estudo intitula-se "O poder da sedução de Portugal". Aparentemente para além de não "seduzir" os outros, o país também não seduz os indígenas. "Não se interessam" por isto, parece ser a conclusão de 85% dos inquiridos os quais também se estão muito justamente nas tintas para participar no "crescimento do país". Preocupa-os o desemprego, o custo de vida e o SNS, todavia gostam do clima, da "segurança" e da "família", seja lá o que isto for. Cerca de 42% dos ouvidos estão pessimistas em relação à pátria mas moderadamente optimistas em relação a si próprios. Compreende-se. Com o país - pessoas e empresas - endividado até aos cabelos, com as famílias a gastarem o que têm e o que não têm em frivolidades, com a política a gerir uma ficção que ela mesma, dia sim, dia não, alimenta, estava-se à espera de quê? Está porventura na hora de Eduardo Lourenço rever o seu "Labirinto da Saudade - psicanálise mítica do destino português", dos finais dos anos setenta, actualizando-o com os novos "sinais". Não deve ser difícil já que os "sinais" apontam quase invariavelmente numa única direcção, o vazio.

MEDEIA AGORA

João Gonçalves 4 Mai 06

1. Estive ontem na estreia de Medeia, aqui referida. Toda a tragédia gira em torno da pulsão da morte como resposta à pusilanimidade (Jasão) e à sobranceria (Creonte e sua filha). Traição e vingança ecoam nos monólogos devastados da protagonista a quem Manuela de Freitas empresta o melhor das suas capacidades histriónicas. Permanecem intactos, na sua actualidade ou, para não fugir ao jargão, "modernidade", esses monólogos e a descrição da agonia do rei de Corinto e da sua filha feita por um mensageiro (Fernanda Lapa). Não é próprio da condição humana, dos "mortais", a felicidade, como explica o mensageiro. O Sol final, o deus que arrebata Medeia da sua dor perpétua, levando-a para fora de Corinto, não consente a Jasão (João Grosso) outro destino que não a expiação do assassínio da sua noiva e dos seus filhos às mãos de Medeia. Eis a tragédia em estado puro. Nenhuma contemplação dos deuses para com a "nossa" causa, a chamada "mortal". Era assim com Eurípedes. Continua a ser assim agora.
2. "Esta" Medeia é um trabalho incluído na programação de António Lagarto, substituído entretanto à frente do D. Maria II por Carlos Fragateiro e outro senhor cujo nome me escapa. Desta dupla apenas recordo uma entrevista semi-surrealista, estilo "Dupont et Dupond", dada à Visão há uns tempos. Continua sem se perceber o que é que ao certo paira na cabeça dos novos gerentes do Teatro, da mesma forma que não se entende a pressa da tutela em correr com Lagarto dessas funções. Para já, é ele quem vai garantindo a programação que a dita dupla gere. Depois de Medeia, "Bernardo, Bernarda", de Bernardo Santareno - que tem este ano direito a comemorações várias - também é um produto da direcção artística de A. Lagarto. Está na hora da ministra da Cultura ir ao teatro para evitar mais cenas tristes.

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