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João Paulo Sousa declara-se ateu. Como ele diz, a propósito da visita do Papa Ratzinger ao campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, "questionar o silêncio divino durante o Holocausto é mais do que uma novidade, é quase uma dúvida." E logo acrescenta: "na Idade Média ou em séculos mais recentes, estas declarações seriam uma heresia." Ratzinger, sendo "contra o mundo", como escrevia ontem Vasco Pulido Valente, é um dos seus mais acutilantes "analistas". É, aliás, essa "análise" realista a única que pode servir à Igreja neste momento. Ao contrário do João, não sou ateu. Como aqui escrevi há uns tempos, sou um crente que duvida e um céptico que crê. Que crê cada vez menos no "homem" e cada vez mais na persistente mensagem do "Filho do Homem", Aquele que na cruz, em angústia, clamava: "Senhor, por que me abandonaste?". O gesto e as
palavras do Papa Bento XVI em Auchwitz confortam nestes tempos de dúvida, de falta de esperança e de conflito do homem consigo mesmo e com os outros. Sendo o Papa, por excelência, um "transmissor" da "Palavra", é extraordinário ouvir este intelectual alemão perguntar, em pleno solo da horrível memória da morte e do desespero, onde é que estava Deus nesse momento. "Por que permaneceste em silêncio, Senhor?", questiona Ratzinger. E o silêncio de Bento XVI, curvado perante o "terrível cortejo de sombras" de Auchwitz, significa meditar em como é possível continuar a crer depois "daquilo". Todavia, é ainda Ratzinger quem responde. "Sim, por detrás destas lápides encontra-se fechado o destino de um número incontável de seres humanos. Eles pertencem à nossa memória e estão no nosso coração. Não têm qualquer desejo que nos enchamos de ódio. Pelo contrário, eles revelam-nos o efeito terrível do ódio. Pretendem ajudar a nossa razão a encarar o mal enquanto tal e a rejeitá-lo. O seu desejo é que se instale em nós a coragem para fazer o bem e para resistir ao mal. Querem que vivamos os sentimentos expressos nas palavras que Sófocles colocou nos lábios de Antígona face ao horror que a cercava: "estou aqui não para que nos odiemos todos mas para que nos amemos". Nunca o silêncio falou tanto.
Primeiro tem de me explicar o que é isso do “desta...
obviamente nao é culpa do autor ter sido escolhi...
Estou de acordo. Há questões em que cada macaco se...
Fui soldado PE 2 turno de 1986, estive na recruta ...
Então António de Araújo foi afastado do Expresso p...