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portugal dos pequeninos

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ANGOLA É NOSSA

João Gonçalves 8 Abr 06

Depois de ler o patético texto de Nicolau Santos no Expresso, sobre a visita de Sócrates a Angola, escrito num avião entre venerandos e anafados "empresários portugueses", percebi que não nos safamos tão depressa da nossa má consciência histórica e do nosso secular oportunismo. O PS de Mário Soares tinha pelo menos a virtude de não se espremer para bajular o "preto". Sem temores reverenciais para com a nomenclatura de Luanda, Soares fez a sua última visita de Estado, como PR, a Angola. Depois seguiram-se Guterres e Barroso. O primeiro, na sua proverbial beatitude, mereceu pouco mais do que uma vaga atenção por parte de José Eduardo dos Santos. Já Barroso, um "amigo", teve outro tratamento por causa do "perdão" da dívida. Entretanto, por cima da miséria e da tristeza de uma população faminta e de um regime que ignora olimpicamente os famosos "direitos humanos", chegaram os "empresários portugueses" com a sua esperteza ignorante, o seu dinheiro e a sua endémica insensibilidade. Foi tudo isso que Sócrates levou no dito avião para "consolidar" a "cooperação" com Angola, que é como quem diz, para favorecer os "negócios" de meia dúzia de chicos-espertos indígenas que pactuam com os interesses da cleptocracia de Luanda. Ficou tão feliz que até correu e firmou uma relação "pessoal", segundo disse, com dos Santos que, como sabemos, é um modelo de democrata africano. No meio deste espalhafato, não deve ter ocorrido a nenhum dos presentes portugueses que Angola mantém intacto o seu desprezo por nós. Ao regime do MPLA - que faz misteriosamente parte da Internacional Socialista que eu pensava que era uma coisa mais ou menos séria para social-democratas - convém estas mesuras, feitas de um misto de interesse e de pedido permanente de desculpas por termos existido "lá", que sempre representam estas espaventosas viagens de Estado. Todavia custa-me a entender como é que José Sócrates consegue conciliar o seu alegado pendor "nórdico" e discreto, referido a Nicolau Santos, com esta babugem frívola para cima de uma ditadura. Há momentos e lugares em que ser apenas "institucional" não basta.

O SR. COMENDADOR

João Gonçalves 8 Abr 06

Homens da cepa do sr. comendador Berardo não são propriamente filantropos. Após anos a "ameaçar" levar a sua colecção privada daqui para fora, Berardo negociou com o actual governo a melhor forma - para ele, naturalmente - de isso não acontecer. Para tal, a ministra Pires de Lima teve de passar por sumários vexames públicos produzidos pelo sr. comendador - recordo, entre outros, o mimo de "saloia" - e sujeitar-se à intervenção directa do primeiro-ministro, presumivelmente através de Alexandre Melo, seu assessor para a cultura, para que o famoso "acordo" fosse assinado há dias. O Estado abjurou perante o sr. comendador e obrigou-se a "entrar" com cerca de 500 mil euros/ano para poder exibir as 863 peças que fazem parte da colecção, sem nenhuma certeza de que daqui a dez anos o sr. comendador não lhe apeteça, com a colecção já devidamente valorizada, desaparecer com ela para onde lhe aprouver. Mega Ferreira, o presidente do CCB, hipotecou, com o habitual gosto e alegria de bem servir que o caracteriza, parte significativa da estrutura do Centro para a instalação do "museu/fundação de arte moderna e contemporânea- colecção Berardo" de que este será presidente, com o óbvio direito a nomear e a despedir o respectivo director. Os argumentos utilizados pelo Estado para justificar este "acordo" seriam risíveis se não fossem trágicos. É evidente que não estão em causa, nem a qualidade da colecção Berardo, nem o seu "interesse" cultural. O que parece ser discutível são os termos do "acordo" para o "parceiro" Estado, ou seja, para os contribuintes que supostamente devem usufruir do acervo. Apesar dos beijinhos e abraços, não tenho a certeza de que o "interesse nacional" se tenha sobreposto aos interesses privados e legítimos do sr. comendador. Pelo contrário, penso até que Berardo conseguiu "meter" o governo no seu já vasto espólio, como um vulgar troféu de caça. O sr. comendador só dá um chouriço a quem lhe der um porco.

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