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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

"NÃO TENHAIS MEDO DE VÓS PRÓPRIOS"

João Gonçalves 2 Abr 06


"Não tenhais medo daquilo que vós próprios criastes, não tenhais medo nem sequer de tudo o que o homem produziu e que está a tornar-se cada dia que passa maior perigo para ele! Enfim, não tenhais medo de vós próprios!"

Karol Wotjyla, João Paulo II

FAZER AS CONTAS

João Gonçalves 2 Abr 06

Segundo uma peça do Expresso de ontem sobre o Teatro Nacional D. Maria II, em 2005, cada espectador teria custado ao erário público cerca de 123 euros, ou seja, qualquer coisa como quase 25 contos em moeda "antiga". Num comentário anónimo deixado num post anterior, perguntava-se "quanto custa ao Estado um espectador com vistas mais as sanefas do S. Carlos". Lembrei-me instantaneamente de um escrito de 1998, de Maria Filomena Mónica, publicado no livro "Cenas da Vida Portuguesa" (Quetzal). Segundo um estudo de um professor do ISEG, consultado pela autora, bem como conjugando-o com outro artigo da altura, podia afirmar-se que, nos finais dos anos noventa, o custo médio real de um bilhete no S. Carlos rondava os 475 euros, isto é, quase cem contos. Entretanto passaram alguns anos e apuraram-se, num certo sentido, as produções e os critérios de escolha do repertório. Se fossemos fazer as contas aos desempenhos financeiros reais dos primeiros anos do século (custos de produção e de funcionamento/nº de bilhetes vendidos + nº de bilhetes oferecidos), talvez não fosse surpreendente o resultado, a ultrapassar muito provavelmente a barreira dos 550/600 ou mais euros per capita. Todavia eu sei, por experiência própria, que não são comparáveis os custos de uma produção teatral, ou de um bailado, com os de uma ópera. Porém, de acordo com o que se sabe, um dos critérios que terão levado ao afastamento de António Lagarto do D. Maria, foi justamente o alegado excessivo défice na ratio custo/benefício do exercício. Se fossemos por aí, como pelos vistos o governo foi em relação a Lagarto, provavelmente todos os directores dos teatros nacionais e equiparados deveriam ser demitidos, à excepção porventura de Ricardo Pais, uma eminência que se tornou numa espécie de director vitalício do regime. Com o PRACE, os teatros nacionais aparentemente recuperam a autonomia financeira e passam a ter o estatuto de entidades empresariais estatais, tipo "empresa pública", como o São Carlos já o foi no passado. Espero que isso não se traduza apenas em alterar as remunerações dos seus dirigentes, o que equivaleria a aumentar muito mais o já insustentável custo real de cada bilhetinho. Enfim, mude-se o que se mudar, o contribuinte que não vai à ópera , que não vê teatro e que não gosta de bailado - e, pior do que isso, que não é educado para tais gostos -, já sabe o que o espera. É só fazer as contas.

A CONSTITUIÇÃO

João Gonçalves 2 Abr 06

Não vale a pena perder muito tempo com ela, mas faz hoje trinta anos a Constituição da República Portuguesa. Foi aprovada pela Assembleia Constituinte de 1975, com os votos contra do CDS do doutor Freitas do Amaral que já na altura hesitava entre os velhos e os novos tempos, dando corpo ao famoso "centrismo" que o levaria tão longe quanto a membro destacado de um governo homogéneo dito socialista. Em apenas uns escassos meses sobre a dobra da "revolução" provocada pelo 25 de Novembro de Ramalho Eanes, a CRP de 76 representou o compromisso possível entre as duas legitimidades em presença, a revolucionária - que persistiu através do Conselho da Revolução, das "conquistas" consagradas no novo texto e do absurdo "caminho para o socialismo" -, e a democrática, onde a sobreposição dos direitos, liberdades e garantias e de um sistema político-institucional de tipo ocidental sobre o resto, acabou por fazer escola. Até Marcello Caetano, do seu exílio tropical, elogiou o texto do prisma formal, reconhecendo nele o dedo de muitos dos seus epígonos académicos. As sucessivas revisões a que foi sujeita corresponderam aos impulsos político-partidários do momento e às prioridades impostas. Quando vemos, por exemplo, o PC e Jerónimo de Sousa tão agarradinhos a ela, é caso para desconfiarmos. Seja como for, a CRP de 76 é um "marco" de tempos difíceis e de transição. Não tem impedido nada de fundamental e poupou-nos, a seu tempo, ao vexame internacional. Não é por culpa dela que somos o que somos e que estamos como estamos. Neste momento, a CRP continua gigantesca e inutilmente barroca, como compete a um texto formatado pelas maravilhosas cabeças das nossas faculdades de Direito, salpicado aqui e ali com os jargões habituais da pura retórica política. Bastar-lhe-ia porventura um terço do articulado para cumprir eficientemente o seu propósito, sem derrames "progressistas" desnecessários.

LER OS OUTROS

João Gonçalves 2 Abr 06

No Quarta República, o post de David Justino intitulado "A reforma da administração pública". "Concluo que o referido esforço sendo meritório assume um custo político certo (andar a mexer nos diplomas orgânicos só gera instabilidade na administração que nos últimos quatro anos já havia sido objecto de reforma) e um retorno incerto ou insignificante, ou seja, mais valia estarem quietos ou então ter mais ambição." David Justino fala naturalmente por si, como julgo que todos mais ou menos fazemos na blogosfera. Eu, modesto cidadão, subscrevo o teor do seu post. Todavia não deixo de registar que o autor é assessor do presidente Cavaco Silva. Pode ser que, por vezes, pense alto. E bem, como é o caso.

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