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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

CATARSE

João Gonçalves 4 Fev 06

Faz-me alguma impressão ver uma mulher intelectualmente brilhante como Maria Filomena Mónica permitir que, a encimar uma entrevista concedida ao suplemento "XLS" do Público e por causa de um livro objectivamente menor, se diga o seguinte: "só na idade adulta, quando escreveu o seu último livro, Bilhete de Identidade, Maria Filomena Mónica percebeu até que ponto foi rebelde, livre e independente".

LER

João Gonçalves 4 Fev 06

Esta "coisa espantosa" de Constança Cunha e Sá. Concordo com ela. Já se "batia" no infantilismo político representado pela candidatura Alegre antes do desastre de Soares a 22 de Janeiro e apesar do mesmo Soares. Eu fi-lo aqui desde o primeiro momento. E se tivesse de escolher entre um e o outro, nunca hesitaria. Alegre precisava de ser "denunciado" na sua aventura populistico-romântica tão brilhantemente representada pela pasionaria Helena Roseta. Repito. Esprema-se o homem e não sai nada. Nem sequer boa poesia.

BROKEBACK MOUNTAIN

João Gonçalves 4 Fev 06




Nos anos cinquenta, Joan Crawford e Sterling Hayden protagonizaram um dos diálogos fetiche mais memoráveis da história do cinema. O filme era Johnny Guitar, de Nicholas Ray. Johnny pergunta a Vienna: "how many men have you forgotten?" Vienna responde, "as many women as you've remembered". Johnny dirige-se a Vienna, "don't go away" e Vienna esclarece, "I haven't moved". No princípio dos anos 80, Wim Wenders, com um argumento de Sam Shepard, "enfiou" Harry Dean Stanton num "peep-show" com Nastassja Kinski - o filme era Paris/Texas, onde Travis, o personagem viajante de Stanton, reencontra a ex-mulher. Estão separados por um vidro e pela vida. Travis - e agora passo a citar um texto de Eduardo Prado Coelho - "na longa cena do peep-show, conta: eles amavam-se, faziam de tudo uma aventura, ir comprar coisas à mercearia era uma aventura, riam de coisas estúpidas, ela gostava de rir, ele gostava de a fazer rir, e só queriam uma coisa: estarem sempre juntos. Ele, ele confessa: não suportava estar separado dela, não suportava ir trabalhar e ficar longe dela, não suportava trabalhar, porque, quanto mais longe estava dela, mais enlouquecia, até que enlouqueceu. "Deviam ser muito felizes", diz Jane". Esta "introdução" vem a propósito de Brokeback Mountain, de Ang Lee, que estreia para a semana entre nós e que alguém por perto me fez chegar em versão "dvx" que vi no computador. O filme, ao contrário dos outros dois, é parco nas palavras. Todavia, como os outros dois, não "economiza" noutras coisas. Ao longo de vinte anos, dois homens - esta é a "novidade" da película de Lee: não são um homem e uma mulher - mantêm entre si, apesar dos filhos e das esposas verdadeiramente patéticas, uma relação "nascida" no acaso de um trabalho solitário a tomar conta de ovelhas numa remota montanha americana. Depois cada um segue a sua vida, familiar, de trabalho e de mentira, até que - por se tratar de uma "contra-história" de amor - emerge inevitavelmente a tragédia, ambígua com se de "crime e castigo" se tratasse. Os "cowboys" de Brokeback Mountain são homens banais, não exactamente atípicos de uma determinada América "profunda", pouco dados a subtilezas de espírito ou de corpo e quase incompreensivelmente (do ponto de vista deles) apaixonados um pelo outro. Não é, por isso, um filme sobre "maricas", como alguma pequena burguesia de espírito, sempre analfabeta e sequiosa por um leve "escândalo", possa supôr. É um filme sobre a solidão humana na linha, por exemplo, de Million Dollar Baby. Não agride ninguém porque, na sua forma simples e magoada de exprimir as coisas, "fala" a qualquer um de nós, como "falam" ainda hoje os filmes de Nicholas Ray e de Wim Wenders. Brokeback Mountain, como o "rancho" de Vienna/Joan Crawford ou o "peep-show" de Kinski, é um lugar metafórico para onde, nos raros instantes de euforia antes da inevitabilidade, se pode "fugir" da vida como ela estupidamente é.

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