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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

TENTATIVA E FRACASSO

João Gonçalves 2 Fev 06


A literatura maior não é decididamente feliz. E, como diria Pessoa, tem a tremenda "consciência disso". Não o entender - é a vida que verdadeiramente imita a arte e não o contrário - é andar por cá a ver passar os comboios. Talvez por isso Camus tivesse escrito que o suicídio era a única questão verdadeiramente filosófica. Terminado o "circo" da nossa vida pública, tendemos a olhar para o espelho. Eu não gosto muito do que vejo. Tento e fracasso. Tenta outra vez e fracassa melhor, mandava o Beckett. Eu concordo com ele. Tento outra vez e fracasso sempre melhor.

UM LIVRO

João Gonçalves 2 Fev 06


Aqui está um bom livrinho para ler e meditar na cama, com a chuva. Podia servir de prefácio às "teorias da qualificação" que supostamente brotam do "plano tecnológico" dos drs. Pinho e Mariano Gago, entre outros "iluministas" do nosso tempo.

DO ARMÁRIO PARA O ANTIQUÁRIO

João Gonçalves 2 Fev 06


"Num momento em que a instituição matrimonial está em crise profunda em Portugal e no mundo (basta ver os números de casamentos e compará-los com os números de divórcios nos últimos anos), com a consequente queda abrupta de copos-de-água que já atinge o sector, incluindo diversas figuras célebres do nosso jet-set; numa altura em que já ninguém se quer casar - só os homossexuais têm a capacidade e a vontade de reabilitar esse sacramento."
Paulo Pinto Mascarenhas, in O Acidental

SEGUIR EM FRENTE

João Gonçalves 2 Fev 06

O meu amigo Rui Costa Pinto "contou" na Visão uma "história" supostamente secreta envolvendo "secretas". Por causa dessa "história" ninguém teve descanso. Nem o autor, nem o chefe da "secreta" propriamente dita, nem o dr. Silva Pereira, o erzatz do primeiro-ministro. Os partidos promoveram a sua pequena crise de "escândalo" e pediram explicações parlamentares. Silva Pereira ameaçou mesmo com tribunais e falou em coisas "grosseiras". No fundamental, estaria montada uma "secreta" pertinho do chefe do governo, ao arrepio do controlo parlamentar e de outros controlos impostos pelas leis e pelos bons costumes. Não sei se isto é fundado ou não. Uma coisa é certa. Desde o 25 de Abril, altura em que foi desmontada a PIDE/DGS, a matéria das informações passou a ter má reputação. A polícia política, para além de política, "tratava" informação, aqui e nas falecidas colónias. Muitos dos funcionários dos serviços ultramarinos foram, aliás, "aproveitados" para os organismos congéneres instituídos por este regime. Nenhuma democracia adulta pode dispensar um serviço de informações minimamente credível. Convém lembrar que foi o insuspeito Mário Soares, chefe do "bloco central", quem "deu à luz" o sistema em vigor que o decurso do tempo foi "adaptando". E que, à "cabeça" do sistema está, como sempre esteve, o primeiro-ministro. A nossa dimensão e outras ninharias recomendariam a fusão dos serviços num só. Talvez fosse por aí que se devesse começar e, quem sabe, alguém esteja a "estudar" o assunto, mais ou menos junto do chefe do executivo. Esta peripécia acabou por" esconder" o primeiro encontro entre José Sócrates e Cavaco Silva. É só mesmo isso que é preciso. Seguir em frente.

LER

João Gonçalves 2 Fev 06

... três poemas de Francisco Assis Pacheco, no Origem das Espécies.

O SILÊNCIO DAS SEREIAS

João Gonçalves 2 Fev 06


Naquela conversa aqui relatada com Medeiros Ferreira (não me parece que seja uma inconfidência), fiquei a saber que a estrofe do poema de Rilke que ilustra o Bicho Carpinteiro - "se eu gritar, quem poderá ouvir-me nas hierarquias dos anjos?" - foi ideia sua. Há uns anos, numa conferência em Lisboa, George Steiner, num francês irrepreensível, citou a "Parábola das Sereias", de Kafka. Lembrei-me dela agora, não sei bem porquê. Como Ulisses, talvez alguns tenham sobrevivido ao canto das sereias. Todavia, nenhum homem jamais sobreviveu ao seu silêncio. Lá onde as sereias deixarem de cantar, reina qualquer coisa pior do que a tentação de Ulisses. Talvez o fim de uma certa ideia de "humanidade".

PODEM FICAR COM ELE

João Gonçalves 2 Fev 06

A empáfia do homem não tem limites. Por causa de "ainda" não terem atribuído o Nobel a Francisco Ayala, à beira dos cem anos, Saramago, com manifesta humanidade e condescendência, explicou que tal se devia ao facto de a sua obra não ser "suficientemente conhecida". E acrescentou que "a lógica da Academia sueca é uma lógica que às vezes se entende muito bem e outras não." Nunca este vaidoso teve tanta razão. Só não se percebe bem em que parte é que ele encaixa. Estes derrames foram proferidos por causa de Granada o ir homenagear como seu "filho adoptivo". Podem ficar com ele.

CONFUTATIS

João Gonçalves 2 Fev 06

De vez em quando, para me reconciliar comigo e com o mundo, ouço Herbert von Karajan. Hoje é um daqueles dias em que os meus melhores mortos aparecem. Na ponta da batuta está o Requiem KV 626 de Mozart, pela Filarmónica de Berlim, na vozes de Anna Tomowa-Sintow, Agnes Baltsa, Werner Krenn e José Van Dam. Podia fechar o blogue já aqui.

O ESPLENDOR E A GLÓRIA

João Gonçalves 2 Fev 06

Alguns amigos e amigas imaginam transportes e derrames melancólicos cada vez que aqui ponho um poema, bastas vezes do Joaquim Manuel Magalhães. Ele, melhor do que eu, tem ensinado e escrito sobre poesia - a dos outros - em ensaística vária. Dou-me com a sua poesia há muitos anos e foi sobre ele que escrevi o meu primeiro texto num jornal. Como em certas coisas sou conservador, não o deixei pelo caminho. Está sempre um livro qualquer dele por perto. Considero-o, insisto, um dos melhores poetas contemporâneos na nossa língua. Porém, para não perder o fio à meada, lembro apenas, do prefácio de Eduardo Lourenço à Crítica Literária de William Wimsatt Jr. e Cleanth Brooks (Fund. Gulbenkian), o seguinte: "O poema é antes de tudo um texto e uma textura que em sentido rigoroso não tem exterior ao qual reenvia. O poema é, literalmente falando, "um mundo", ou antes um outro mundo de que é necessário, sem sair dele, "narrar o esplendor e a glória"." Estamos, pois, entendidos.

A CERTEZA METÓDICA

João Gonçalves 2 Fev 06


... e continuei assim, graças à Bomba, agora "atlântica": " "How can I take an interest in my work when I don't like it?" ( Francis Bacon)

AMIZADE

João Gonçalves 2 Fev 06


... e acordei assim: "what can I do for you, my friend?"

CONSEQUÊNCIA DO LUGAR

João Gonçalves 2 Fev 06


Tenho uma tristeza
no bolso de dentro
do velho casaco.
Dobrada, quebrado.
Tenho uma tristeza
suja de papel
e de letras gastas.


Eu quero deixá-la
no café sem noite
tiro-a do bolso
pouso-a nos olhos,
em cima da mesa
também é de ti.
Vinha de ninguém.

Charco de jardim
dádiva na mão
triste, por abrir
e depois a dor
aperta-me o punho
por anoitecer.
Venho de uma rua
para o teu lugar.

Olha para mim
para a sala toda
para esta tristeza
atirada ao chão
entre rastos de água
os dedos acolhem
um sorriso vão.

Parou tudo agora
neste ritual
que nada detém.
Bolso de casaco
costas da cadeira
chuva na cidade
vou da tua beira

para um quarto triste
com a mãe que dorme
noutro corredor
o sangue vigia
a pequena lei
a minha tristeza
chamavas-lhe amor.


Joaquim Manuel Magalhães

Hoje adormeci assim...

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