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portugal dos pequeninos

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João Gonçalves 8 Jan 06

No Minha Rica Casinha, "O tempo dar-lhe-á o valor que merece" e "Muito limitou ele os estragos"., em O Acidental, "Maturidade Política", de Henrique Raposo e no Mar Salgado, "A dimensão espectacular", de Filipe Nunes Vicente.

CAMPANHA - DIA 1

João Gonçalves 8 Jan 06

Gostei de ver em Cascais, ao lado de Cavaco Silva, António Capucho, António Pires de Lima, Fernando Seara, João Lobo Antunes, o maestro Álvaro Cassuto, o general Rocha Vieira, Marcello Mathias, Lígia Monteiro e muitos outros. Como diria a Joana Amaral Dias, todos diferentes e todos iguais. Já agora, constato que anda por aí mais um pequeno número de carácter lúdico. Nem a Constança lhe conseguiu resistir. Numa acção da campanha de Cavaco, cantou-se algures a "Grândola Vila Morena". A "esquerda" e o jacobinismo tradicionais indignaram-se. Eu pensava que este tema popular, divulgado por José Afonso, fosse património nacional, ou seja, de todos. E com o direito a que todos, quando muito bem entendessem, a pudessem entoar. Ou seja, que já fossemos todos mais crescidinhos e maduros. Afinal, há quem se ache com direito a ser dono dela, apesar de simbolizar a liberdade e a democracia. É por esta e por outras que não vão lá.

AGORA...

João Gonçalves 8 Jan 06


... se me dão licença, vou apoiar o meu candidato para Cascais. Hoje acordei assim, "cavaquista".

MICRO OU MACRO-CAUSAS

João Gonçalves 8 Jan 06

As anunciadas "mexidas" no Teatro D. Maria II, com a remoção de António Lagarto da direcção artística e da direcção do Teatro, e a sua substituição por Carlos Fragateiro, retirado ao híbrido "INATEL/FNAT/Teatro da Trindade", motivaram este post. Ontem à noite cruzei-me com o Augusto M. Seabra e falámos um pouco do que está a acontecer na Cultura. Não acompanho todos as opiniões do Augusto nesta matéria, mas parece-me importante, no contexto actual, ler o artigo dele no Público de domingo, "Golpe no Teatro Atentado às Liberdades", sem ligação mas reproduzido em O Melhor Anjo. Dele retiro apenas o seguinte:
"Há alguma razão para neste momento demitir a direcção do Dona Maria? Nenhuma. Mais: um secretário de Estado que era defensor de manter Fraústo da Silva é agora o autor deste golpe. E deste modo, o que contradiz ele? O programa do governo, nem mais: "Avançaremos, também, para formas de recrutamento e actividade das respectivas direcções artísticas [dos teatros nacionais] que as tornem menos dependentes da lógica de nomeação governamental directa e mais distintas das funções de administração". E assim coloca em xeque o responsável último, o primeiro-ministro.
O Dona Maria tem uma estrutura aberrante: um teatro nacional que é uma sociedade anónima. Isso determina condicionalismos de gestão, que pela necessidade de equilíbrio financeiro determinam também limites de acção. Em vez de, como lhe competia, mudar o quadro institucional, a tutela desrespeita o compromisso público e político do governo e opta pela nomeação governamental directa. Até quando, senhor primeiro-ministro, permanecerá tal desprezo e irresponsabilidade à sua revelia e não obstante comprometendo-o?
O enunciado de intenções de Carlos Fragateiro é simplesmente sinistro, uma tentativa de dirigismo que é um dos mais graves atentados à cultura e às liberdades no Portugal democrático. Do teatro nacional são banidos Eurípedes, Shakespeare, Racine, Strindberg, Tchekov, Brecht, Pinter, etc, para se inventar uma dramaturgia portuguesa adaptando/"popularizando" outros materiais. No Trindade, Fragateiro "inventou" como dramaturgo Diogo Freitas do Amaral; quiçá teremos agora "A Ceia do Cardeal" de Joaquim Pina Moura.
Mas mais: ele não esconde que a partir do nacional o seu intuito é ocupar a rede dos teatros públicos. Depois da tentativa de dirigismo pedante e "modernaça" de Cunha e Silva temos agora a tentativa de dirigismo "popularucha" de Fragateiro. Está o primeiro-ministro do Portugal democrático e membro da União Europeia disposto a permitir, à sua revelia, esta violação de todos os princípios, esta afronta à herança cultural europeia e à liberdade criativa?
Mas mais: meus caros concidadãos, autores, intérpretes, agentes culturais, este é um momento decisivo de mobilização. Não se trata de defender alguém em particular, mas de uma questão de princípio. Esta é a hora em que se verá se existe ou não o potencial de uma "comunidade artística". Não se venham discutir regulamentos e subsídios se não houver capacidade de dizer não a uma tão escabrosa tentativa de dirigismo - Carlos Fragateiro não pode entrar na Casa de Garrett!"


Adenda: As protagonistas de "A Mais Velha Profissão", de Paula Vogel, presentemente em exibição no Dona Maria - Lia Gama, Maria José, Glória de Matos, Fernanda Montemor e Lurdes Norberto - estarão logo à noite, pelas 20 horas, à porta do Teatro onde lerão publicamente uma "carta" sobre este desagradável assunto.

FRANÇOIS MITTERRAND, 10 ANOS DEPOIS -2

João Gonçalves 8 Jan 06

Não somos perfeitos, graças a Deus. Eu, entre milhares de defeitos, terei - de acordo com algum pensamento politicamente correcto - um fascínio intenso pela personalidade de François Mitterrand cujo desaparecimento, há dez anos, a França pomposamente relembra. O próprio Mitterrand gostava de recordar que acreditava na força simbólica dos grandes gestos. Como presidente, como doente e, depois, mesmo já como morto, Mitterrand esculpiu a preceito o seu destino. E hoje, em Jarnac, sua terra natal, é outra vez a simbologia do grande gesto que leva até lá a França institucional - a da esquerda e a da direita - em peregrinação. As coisas que ele quis que se soubessem, só se souberam quando ele quis. Encenou o "guião" das suas "pompes funébres" e - basta ler as páginas e páginas que os hebdomadários franceses lhe vêm dedicando nos últimos dias - é tido genericamente por um príncipe. Mitterrand era o político completo, desses que não se fabricam mais. Luz e sombra, integridade e contradição, lealdade canina às amizades, impiedoso nas traições, duplicidade nos gestos, inteligência intuitiva, um sedutor pela palavra, tudo e mais do que isto foi François Mitterrand. O que temos mais próximo dele, "em grande" - Mário Soares - mesmo assim fica a milhas de distância. Mitterrand acreditava nas "forças do espírito" e avisou os franceses, na última vez que se lhes dirigiu como presidente, que os não abandonaria. A sua sombra vagueia na sociedade e da política francesas ombro a ombro com a do gigante De Gaulle. Mitterrand passou mais tempo a combater De Gaulle e o seu "golpe de estado permanente", como chamava à 5ª República, do que propriamente ao serviço da dita. Quando o fez, entre 1981 e 1995, na sua original concepção do verdadeiro exercício do poder, foi mais De Gaulle do que De Gaulle "lui même". Odiado e amado nas suas hostes e nas adversárias, "secou" a política francesa por muitos e bons anos. Chirac, apesar de esforçado e bem parecido, não consegue dar mais do que aquilo que se vê. Até no "post mortem", foi perfeito no seu desalinho magistral e perfeitamente controlado ao milímetro. Nas suas "Mémórias Inacabadas", Mitterrand, interrogado acerca do "sonho" que se abriu com a eleição de 1981, responde secamente que não é aos sessenta e cinco anos que se começa a sonhar. Todavia foi longe nesse sonho bem realista, sobretudo se pensarmos que, meses depois, lhe seria diagnosticada a doença fatal que o acompanharia, quase até ao fim, em segredo. Num livro notável que escreveu "a meias" com Elie Wiesel, Mémoire à Deux Voix, Mitterrand, que não gostava de pessoas "transparentes", explica-se até onde deseja e tanto quanto um homem como ele se pode "explicar". Wiesel pergunta-lhe: "gostaria de ainda estar vivo em 2010 para assistir ao que estará a acontecer? é o seu presente que o preocupa ou é o futuro imediato?". E Mitterrand responde: "Não. À semelhança do que Willy Brandt quis que ficasse como seu epitáfio, eu diria que fiz o que pude".

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