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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

"SOMOS CRUCIFICADOS PELOS ABORRECIDOS"

João Gonçalves 31 Dez 05


1. Apetecia-me terminar o ano, neste blogue, com os primeiros versos do "Inferno" de Dante: "Da nossa vida a meio da jornada,/Em tenebrosa selva me encontrei,/Perdido era o caminho verdadeiro./Como é, porém, penoso dizer qual/Era desta selva a braveza e a sombra./De que só a memória traz temor!" (na tradução de Fernanda Botelho). Ou com uma passagem do livro de Enrique Vila-Matas, Paris nunca se acaba: "Pensem quais podem ser as razões básicas para o desespero. Cada um de vocês terá as suas. Proponho-vos as minhas: a volubilidade do amor, a fragilidade do nosso corpo, a opressiva mesquinhez que domina a vida social, a trágica solidão em que no fundo todos vivemos, os reveses da amizade, a monotonia e a insensibilidade que andam associadas ao costume de viver." (na tradução de Jorge Fallorca).
2. Estes trezentos e sessenta e cinco dias suportaram-se melhor por causa da companhia diária de outros blogues, de livros, de instantes, do sol e do mar. Mais do que nos jornais, na televisão ou mesmo em alguns livros e, de certeza, mais do que em muita gente, encontrei na blogosfera, nas pessoas (muitas que não conheço) por detrás dos blogues, mais "calor" dito "humano" do que na puta da "vida como ela é". Por isso, e apesar do que disse aqui, não resisto a "listar" os "cobloggers" que, em 2005, me foram imperdíveis, pelos motivos mais diversos: Abrupto, (O)Acidental, Almocreve das Petas, Anarca Constipado, Bicho Carpinteiro, Blasfémias, Bloguítica, Elba Everywhere, Esplanar, Da Literatura, Desfazedor de Rebanhos, (O) Jumento, Mar Salgado, Margens de Erro, Minha Rica Casinha, (A) Origem das Espécies, Quando o blog bate mais forte e Tugir.
3. "Somos crucificados pelos aborrecidos", escreve Vila-Matas, citando Cioran, esse magnífico transviado romeno em Paris. E continua, e eu com ele: "é mais que sabido que tanto Deus como o Diabo ultimamente têm dado mostras suficientes que não têm nada de perfeitos e sim de muito torpes, vemo-los chegar frequentemente tarde ao teatro das suas operações". Como o moribundo Imperador Adriano, de Marguerite Yourcenar, procuremos apenas entrar no novo ano de olhos abertos. Ámen.

A RODA DO MILHÃO

João Gonçalves 31 Dez 05



A isto só se pode responder com isto.

ANO A SABER A POUCO - 3

João Gonçalves 31 Dez 05



Agora vamos ao mais fácil, das coisas, pessoas e gestos de que não gostei em 2005, seguindo a sugestão de Constança Cunha e Sá. Não sei se é o caso dela, mas eu, com muita honra, pertenço ao clube dos pessimistas antropológicos. Não me considero propriamente "de direita", como os meus amigos de O Acidental, mas cada vez que vejo certas personagens a bater com a mão no peito e a jurarem pela "esquerda", tenho dúvidas. O meu estado normal é "contra mundum", apesar da frase que repito para mim mesmo, até à exaustão, de João Paulo II, o "meu" desaparecido do ano: "I hope against all hope". Detesto a minha profissão e às vezes gosto de me imaginar em Manhattan ou em Long Island (podia ser em Santarém ou noutra cidadezinha do interior) a tomar conta de uma biblioteca pública. Este ano, por causa de coisas, pessoas e gestos, a minha desconfiança para com o "próximo" que Deus e Ratzinger me mandam amar, aumentou. Tudo visto e ponderado:
  • a forma como as televisões "cobriram" a agonia do Papa Woytjila;
  • o ar, por vezes pesporrente, por vezes bimbo, de Fátima Campos Ferreira no "Prós e Contras" da RTP;
  • a dupla da SIC Notícias, ambos com um timbre anasalado, que costuma apresentar-se ao fim da tarde;
  • o Mário Crespo, quando, no "Jornal das Nove" da dita SIC Notícias começa "a falar para dentro" e a fazer "boquinhas";
  • o Ricardo Costa, quando lhe dá para pitonisa;
  • no tempo do governo Santana Lopes, os "comentários" dengosos de Luis Delgado e de Bettencourt Resendes;
  • no tempo da candidatura de Cavaco Silva, os comentários dengosos de Luis Delgado;
  • o "soarismo" retardado dos comentários de Luis Osório;
  • a ideia de "um país de eventos" do José Medeiros Ferreira;
  • a campanha de Manuel Maria Carrilho, Bárbara Guimarães incluída;
  • Ana Sousa Dias perante Marcelo Rebelo de Sousa;
  • Vitor Ramalho, o primeiro fervoroso "soarista" e o primeiro a querer desistir depois das autárquicas;
  • Helena Roseta, uma fiel inconstante;
  • os meus amigos "soaristas" que preferiram o "soarismo" à amizade, por causa de Soares e de Cavaco;
  • os comentários de António Vitorino na RTP;
  • António Vitorino, em geral;
  • Francisco Assis na campanha autárquica no Porto;
  • Fátima Felgueiras, a mal explicada autarca ex-socialista, nas suas idas e voltas;
  • Isaltino Morais, em geral;
  • Daniel Oliveira, do Bloco e do horrível "Eixo do Mal";
  • o dr. Louçã e a sua insuportável vaidade "religiosa";
  • a direcção do PSD, com excepção para a Paula Teixeira da Cruz;
  • as aparições de Santana Lopes que não consegue respeitar o "luto";
  • o líder da JP;
  • o Bernardino Soares, um jovem estalinista precocemente envelhecido;
  • a mania de "bater" no George W. Bush a torto e a direito, embora apeteça;
  • Júlio Machado Vaz, o sexólogo do regime;
  • o constitucionalismo coimbrão, sempre atento, venerando e obrigado desde os tempos do dr. Salazar até ao "terceiro" dr. Soares;
  • os juristas, classe a que eu, com manifesta infelicidade e com doses maçicas de Lexotan, pertenço;
  • os coletes reflectores nos automóveis e/ou a bandeira nacional;
  • os jipes, particularmente quando conduzidos por senhoras dentro da cidade, símbolos de uma sexualidade reprimida;
  • jogos de futebol perto de casa e adeptos com cachecóis;
  • os drs. Lino e Pinho, membros do actual governo;
  • a forma como Campos e Cunha foi tratado pelos seus colegas de governo e a sua saída intempestiva;
  • o dr. Jorge Lacão, em geral;
  • a OTA e o TGV;
  • a vacuidade do Plano Tecnológico;
  • o longo sono da "cultura";
  • o "Bilhete de Identidade", de Maria Filomena Mónica;
  • a publicidade histérica aos livros idiotas da Sra. Rowling;
  • o falso livro da D. Maria José Ritta;
  • a falsa reflexão sobre a candidatura, anunciada no verão pelo dr. Soares;
  • João Soares, em geral;
  • José Mourinho e treinadores de bola em geral, tais como um senhor holandês que passa a vida a falar um português "espanholado" e a repetir "o partido" a toda a hora;
  • os "provedores dos leitores" nos jornais;
  • Cavaco a "dar confiança" aos adversários;
  • Jorge Coelho na "Quadratura do Círculo";
  • telemóveis 3G (parece que é assim);
  • (pode ser que continue...)

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