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portugal dos pequeninos

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João Gonçalves 31 Ago 03

CONFUSÕES

A enviada do jornal Público ao Festival de Cinema de Veneza, de seu nome Kathleen Gomes, relata a apresentação de um filme com Anthony Hopkins e Nicole Kidman, baseado na obra homónima de Philip Roth, The Human Stain, ainda não traduzida entre nós. Acontece que a moça chama a Roth Joseph, e avança com a notícia de que o realizador pretende uma trilogia - cita-se a American Pastoral, e, presumo que a terceira obra deverá ser The Dying Animal. Apesar de serem ambos de origem judia, Philip Roth e Joseph Roth não têm nada a ver um com o outro. O primeiro é um genuíno norte-americano, com uma atribulada vida pessoal, altamente transposta para os seus romances, e é, na minha modesta opinião, um dos grandes escritores contemporâneos. O Roth, Joseph, que viveu o estertor do glorioso império austro-húngaro, e que se suicida na emergência do ciclo hitleriano, foi escritor e jornalista, de nacionalidade austríaca, com uma obra notável, da qual se destaca A Marcha de Radetzky, no contexto que indiquei, traduzida pela Difel. Das obras citadas de Philip Roth, apenas a Pastoral Americana está traduzida pela D. Quixote, esperando eu que o Nelson promova rapidamente a tradução do resto. Para que, ao menos, a rapariga deixe de fazer confusões.

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João Gonçalves 31 Ago 03

ESPERA II

Espero uma chegada, um regresso, um sinal prometido. Pode ser fútil ou terrivelmente patético: em Erwartung (Espera), uma mulher espera o amante, de noite, na floresta (Schönberg); eu não espero senão um toque do telefone, mas a angústia é a mesma. tudo é solene: não tenho o sentido das proporções.
(...)
A espera é um encantamento: recebi a ordem de não me mexer. A espera de um telefonema tece-se, assim, de pequenas proibições, que vão até ao infinito, até ao inconfessável: impeço-me de sair da sala. de ir aos lavabos, até mesmo de telefonar (para não ocupar o aparelho); sofro se me telefonam (pela mesma razão); desespero-me de pensar que, a tal hora, terei de sair, arriscando-me assim a faltar ao apelo benfazejo, ao regresso da Mãe. Todas estas diversões que me atraem seriam momentos perdidos por causa da espera, das impurezas da angústia. Pois a angústia da espera, na sua pureza, exige que eu esteja sentado num café, ao lado do telefone, sem fazer nada.
(...)
Um mandarim estava apaixonado por uma cortesã. "Serei vossa, diz ela, quando tiverdes passado cem noites à minha espera, sentado num tamborete, no meu jardim, debaixo da minha janela." Mas, à nonagésima nona noite, o mandarim levantou-se, pôs o tamborete debaixo do braço e foi-se embora.


Roland Barthes, Fragmentos de um discurso amoroso

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