Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

TELENOVELAS

João Gonçalves 20 Ago 06



O Jorge Ferreira desafia-me a dizer das telenovelas "Morangos com açúcar" e "Floribella" tão ou mais "mal" do que disse do "mundial" nas televisões. Já percebi que, quer a TVI, para a primeira, quer a SIC, para a segunda, não se poupam, nem nas horas infinitas de transmissão, nem nos horários. Sobre os "Morangos" - que constituem o maior "pastelão" da TVI desde há não sei quantos anos - já várias vezes me pronunciei. É um "retrato" da adolescência light - haverá outra? -, com diálogos primitivos, "amores" previsíveis e "enredos" idiotas, tudo na transição entre o "secundário", a universidade ou o nada. O casting espreme-se por arranjar meninos e meninas com umas carinhas larocas e os meninos e as meninas espremem-se para aparecer na telenovela. Pelo meio houve um drama - a morte "real" de um dos actores - que infelizmente foi explorado até à exaustão. Ainda o mês passado, estando de férias no Algarve, quando liguei a televisão manhã cedo, lá estava a repetição de uma série anterior dos "Morangos" com o morto. Da "Floribella" nada posso dizer, mas imagino que a "ideia" - se é que aqui há lugar a ideias - é "concorrer" com a outra, com a publicidade inerente promovida pelo grupo Balsemão. Dá resultado. O filho da minha empregada, com quatro anos, sabe as músicas de cor e identifica uma a uma as personagens nuns gigantescos "suplementos" coloridos que o Expresso oferece aos sábados. "Morangos com açúcar" e "Floribella" cumprem - não interessa se mediocremente ou não - a sua função de entretenimento. Como lhes compete, são frívolas e esquecíveis, como o é o quotidiano dos putativos espectadores. Quem as vê, revê-se naquilo porque aquilo limita-se ao que as imagens contam. Não exige pensamento, não compromete e até tem pretensões "pedagógicas", como, no caso dos "Morangos", "ensinar" o sexo seguro, a grande mitomania dos tempos correntes. E a intriga é sempre acessível a qualquer analfabeto. As televisões generalistas lá fora, quer na Europa, quer nos EUA, não são, nesta matéria, exemplo que se recomende. Produtos deste género fazem parte do livre arbítrio da democracia. Quem quer, vê, quem não quer, desliga. Todavia não confundo as coisas. A bola, seja na forma de campeonato ou de "liga", invade outro território que é o da informação. Os telejornais transformaram a bola numa telenovela e, no caso do "mundial", chegámos a ter a telenovela durante quase 24 horas quando ocorria um jogo "importante". Aliás, a RTP, "serviço público", que não tinha acesso aos jogos, não se poupou nessa patriótica missão. A diferença é que as telenovelas, por mais básicas que sejam, não pretendem salvar a pátria. Quando muito, podem aliviá-la momentaneamente e distraí-la. Com a bola, como o Jorge sabe, já não é bem assim. Confunde-se com a política e, através dela, faz-se política. Cada vez que a selecção solta um murmúrio ou mete um golo, a pátria sente-se redimida. Mesmo ficando tudo na mesma - como fica - não há instituição do Estado que não se entregue às pernas salvívicas dos jogadores. Ainda a "liga" não começou, e já não se pode ouvir o "sr. presidente". Tudo serve de pretexto para minutos infinitos nos telejornais, desde o autocarro do sr. Pinto da Costa até às azias do sr. Vieira. Presumo que o sr. Hermínio Loureiro, ilustre deputado da nação e que foi secretário de Estado dos Desportos do dr. Barroso, não quis ir para presidente da "liga" só para passar o tempo, ou o bastonário da Ordem dos Advogados para presidente da assembleia geral do Sporting, por não ter mais nada que fazer. O futebol cumpre fielmente uma função política e a função política não dispensa o futebol. O resto - as telenovelas, o macaco Adriano, o "noddy" e outros que tais -, para já, ainda não atrai a política. Só o sr. Avelino Torres, por acaso um subproduto circense da política e do futebol, é que se sentiu "atraído". E vejam só como acabou.

14 comentários

De Francisco Teixeira a 20.08.2006 às 14:03

Excelente post. Sou levado a concordar consigo, no entanto uma dúvida se levanta. O filho da sua empregada sabe as músicas de cor. Este é um retrato da adolescência..., Porquê. É isto que me preocupa não o facto de este lixo passar. Não há alternativas a quem tem de ver televisão ou a quem tem por função educar. Não se lhes dá alternativa. Não há escolha. Quem não souber inglês e seja forçado a ver televisão está condenado a não ter escolha. Ou então faz como uma adolescente que conheço que diz que os morangos são tão fora da realidade da adolescência que ela conhece que se diverte a ver até onde vai a incongruência. O pior é quando a adolescência começar a copiar aquilo. E a pensar que os professores é que são bons e dão bons conselhos porque os pais em casa não querem saber deles. Esta é uma das mensagens dos morangos!

De Joshua a 20.08.2006 às 15:47

Não aquece nem arrefece. As modas são passageiras, as caras larocas logo se tornam adultas e foleiras.

A popularuchidade é um merchandizing com tempo de validade.

A glória da fama são dez minutos na sanita, mas pagos e bem pagos.

De raquel teixeira a 20.08.2006 às 17:58

só digo isto:ou os senhores da televisao acham-nos a todos uns parvinhos que podemos levar com qualquer programazeco sem conteúdo nem proveito ou o "zé povinho" de facto é pouco interessante e mt displicente e gosta de levar com aquela injecção toda..cerca de 7h por dia entre floribella e morangos..verdade seja diot,cm qq um já espreitei ambas e esporadicamente já vi um ou outro episódio,não o nego..mas por favor,estou de férias e se quiser ver um canal generalista as opções de programação são deploráveis..

De raquel teixeira a 20.08.2006 às 18:02

e continuando..tb achei completamente absurdo e de um grau de morbidez extremo a exploração até a última da morte dakele jovem actor,por favor..ao menos tem de haver respeito pela dignidade humana e por a pessoa que já faleceu..qt ao futebol..sou daquelas que adora ver jogos da seleccçao e do meu clube do coração mas o que as tvs fizeram no Mundial já irritava um santo..

De raquel teixeira a 20.08.2006 às 18:05

e por mais que adore futebol,acho inadmissivel que um telejornal se centre quase exclusivamente num acontecimento desportivo,não só pq é dado um grau de importância desfasado daquele que realmente tem,cm tal atenção não é dada a outrads modalidades em que até ganhamos alguma coisinha..em suma este é estado da nossa televisao..e qd Sr. Penim diz que a floribella é serviço público,está td dito..

De HO a 20.08.2006 às 18:48

Discordo. Os MCA são concebido para atingir um target que inclui a infância, não apenas os adolescentes e jovens adultos - e isto faz toda a diferença.

É, exclusivamente, uma questão de responsabilidade pessoal? Com certeza; e é precisamente por isso que é tão propriado o apelo ao auto-controlo e a crítica preocupada. Dirigidos primordialmene aos pais, certamente. Mas em exclusivo? Dúvidas, muitas dúvidas: "Most people in television do not know how much responsibility they have. Television has immense power and all power must be controlled. Civilisation is the fight against violence and this is threatened by television" - Karl Popper

As críticas de blogues liberais ao artigo da MFM na última Atlântico provocoram-me genuíno espanto.

Eximo-me de explicar aqui as razões porque já o fiz, em dose pantagruélica, nas caixas de comentários destes posts d'O Telescópio:

http://otelescopio.blogspot.com/2006/08/revista-atlntico-de-agosto-posta-longa.html

http://otelescopio.blogspot.com/2006/08/incompreensivel.html

De gito a 20.08.2006 às 19:05

Se não puserem esse tipo de coisas vão pôr o quê? Programs de Qualidade é!?!? Para isso, façam como eu e vejam a :2.

De io a 20.08.2006 às 19:48

Estou completamente de acordo... mas tenho uma duvida ... será possivel... ou mesmo desejavel... que alguma "entidade" faça pedagogia dirigida aos pais e encarregados de educação sobre a pobreza de contiudo e dialigos dessas novelas? Só posso falar doa
orangos que vi em zapping ---

De PPP a 20.08.2006 às 21:11

Só acho que o mundo da politica e do futebol nao se deveriam misturar, ainda por cima um deputado ser patrão dos patros do futebol, mas isto dava outro post que aproveito para te desafiar a escrever. Até já.

De Emily a 21.08.2006 às 02:35

Quando ocasionalmente, ao fazer zapping, vejo dois ou três planos da tal moranguisse, passo imediatamente, de tão indigente e perverso que tudo aquilo é. Diálogos paupérrimos, representação pam,óia; umas meninas que aparentam uns15 anos, com uns marmelinhos muito repenicados nos biquinis reduzidos, muito maquilhadas, nuançadas, com brincalhoças revisteiras pendentes das orelhas. Há em tudo aquilo e aliás em toda a cultura actual de massas, portuga, um grande cheirinho a putéfia barata (macha e fêmea),a infância e adolescência parva e insolentemente obtusa.
Também estive nos Algarves recentemente. E o número de criancinhas guinchantes, nos restaurantes, perfeitas pestinhas sobre as quais, os pais não têm o menor controle, é considerável.
Invente-se outra gente!

Comentar post

Pág. 1/2

Pesquisar

Pesquisar no Blog

Últimos comentários

  • João Gonçalves

    Primeiro tem de me explicar o que é isso do “desta...

  • s o s

    obviamente nao é culpa do autor ter sido escolhi...

  • Anónimo

    Estou de acordo. Há questões em que cada macaco se...

  • Felgueiras

    Fui soldado PE 2 turno de 1986, estive na recruta ...

  • Octávio dos Santos

    Então António de Araújo foi afastado do Expresso p...

Os livros

Sobre o autor

foto do autor