
O
"Diário da Manhã", mais conhecido por
Diário de Notícias, titula que "assessor de Cavaco Silva encomendou caso de escutas". Repare-se na escolha cirúrgica do verbo "encomendar". Eu também podia escrever que alguém "encomendou" o título ao DN. Que há "encomendas" distribuídas com parcimónia pelos
media. Que os
media vivem de "encomendas". Que as "encomendas" são a causa de existir dos
media. Ou, no limite, que os "jornalistas" são umas belas "encomendas", tipo
concierge de condomínios de luxo, etc., etc.
O DN não gosta de Fernando Lima. E este regime protagonizado pelo admirável líder não gosta de Cavaco. Um mais um igual a cinquenta. De resto, importa "debilitar" Cavaco para depois de 27 de Setembro. Porque não interessa nada saber se há serviços de informações oficiais ao serviço de causas partidárias e, dentro destas, de uma pequena, abusadora e precária clique. Não. Um cromo do
Expresso, um Rui não sei quantos, ouvido sobre isto na
Antena1 (a versão sonora do
Diário da Manhã), até teve um lapso significativo - se calhar não foi - decretando que Cavaco devia "pedir desculpas" a José Sócrates (depois saiu-lhe "pedir explicações"). E o ainda director do
Público sugere que houve interferência "tecnológica" em
mails do jornal para se forjar um, justamente o que deu origem à "notícia" da "encomenda". "Pedir desculpas a Sócrates". Percebem? Vão navios cheios de fantasmas...
O jornal Público de Quinta-Feira, num artigo assinado por Ana Cristina Pereira, dá conta que "só um terço do noticiário político parte da iniciativa das redacções dos jornais", citando um livro agora apresentado em público, da autoria de Vasco Ribeiro- Fontes Sofisticadas de Informação.
Vasco Ribeiro, coordenador do serviço de comunicação e imagem da Reitoria da Universidade do Porto, "fez uma análise aleatória interpelada:um dia por cada semana de 1990, 1995, 2000 e 2005 de notícias publicadas nas secções Política ou Nacional do Correio da Manhã, Diário de Notícias do Jornal de Notícias e do Público."
E concluiu que "só um terço do produto jornalístico [polític0] ser produzido por iniciativa das redacções. (...) Mais de sessenta por cento do noticiário é induzido por assessores de imprensa, relações públicas, consultores de comunicação, porta-vozes. " Incluem-se todos os actos de campanhas eleitorais, cerimónias oficiais, inaugurações, visitas, manifestações etc etc.
Em caixa, o jornal dá conta de algo curioso, neste aspecto: "O Correio da Manhã e o Diário de Notícias" apresentam-se como jornais de poder", refere Vasco Ribeiro, com base na sua análise. E o DN é o jornal que ouve mais fontes anónimas, nas notícias.
- posted by josé @ 18.9.09 1 comments