Na recolha de textos para o futuro "Portugal dos Pequeninos" em livro, encontrei um "reenvio" para
um post de Vasco Pulido Valente sobre o "cartão único". O dito teve finalmente aprovação em conselho de ministros. Vale a pena, pela oportunidade, reler, também com a devida vénia, VPV.
LIBERALISMO À PORTUGUESA
"Portugal está cheio de liberais, mas de uma espécie rara que não se preocupa muito com a liberdade. Não vi um único sinal de incómodo com o chamado "cartão do cidadão", que o dr. António Costa se prepara para "experimentar" (?) até ao fim do ano. Esse cartão vai ser ao mesmo tempo cartão de contribuinte, cartão de saúde, cartão da segurança social, cartão de eleitor e bilhete de identidade. Por outras palavras, o Estado tenciona reunir num rectângulo de plástico quase tudo o que há a saber de relevante sobre um indivíduo (só me espanta que o sr. Costa se esquecesse da carta de guiar e do registo criminal). Pior ainda: com essa informação o Estado pode averiguar os mais pequenos pormenores da vida de cada um: quanto ganha, que impostos paga, que doenças tem, que medicamentos toma, onde trabalha, quem é o patrão, onde mora, quando vota ou não vota, quem são os pais, com quem se casou, se foi ao estrangeiro e por aí fora. Claro que o Estado já pode meter o bedelho onde lhe apetecer. Só que dantes lhe custava mais. Com o novo cartão, basta carregar em meia dúzia de botões e uma pessoa fica instantaneamente nua para exame e gozo da autoridade. De qualquer autoridade, reparem bem, na prática irresponsável e sem nome, que a decida investigar. O dr. António Costa, ministro da GNR e das Polícias, que anunciou o seu cartão com a vaidade provinciana do indígena numa conferência com Bill Gates, também disse que não o move o menor "preconceito contra o Estado" e garantiu que não "abdicará" de nenhum serviço e de nenhum funcionário. Inesperado, não é? Na América e na Inglaterra, ainda não existem documentos de identificação universal (como coisa distinta da carta de guiar, por exemplo) legalmente obrigatórios."