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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

A «FÁBRICA DE IDEIAS»

João Gonçalves 1 Jun 09


Há coisas que não convém que passem despercebidas. A "casa da democracia", vulgo Assembleia da República, como não tem mais nada para fazer, aprovou esta fantástica Resolução. O que é que "resolveram", pois, os deputados da Nação? Decidiram criar e desenvolver (juro) «uma fábrica de ideias» na administração pública. É um naco de prosa imperdível. O léxico inclui termos tão extraordinários e "modernos" como «importação da inovação para a linha da frente», «melhorar de forma incremental», «abordagem estruturada de geração e de aceleração da implementação no terreno de ideias inovadoras», «estimular a geração de ideias», «incubar e experimentar as ideias/projectos», estimular «a iniciativa e o empreendedorismo dos funcionários públicos, recompensando o mérito e eliminando a estigmatização do erro», montar um «ecossistema de parceiros para a inovação», «constituição em cada ministério de um núcleo de inovação« ou «alocar recursos financeiros para a incubação de ideias inovadoras.» Depois disto tudo devidamente «implementado», estará, julga-se, aberta a «fábrica de ideias" (mais uma) virada para a enésima reencarnação do "novo homem português." O pior é que não há meio de ele emergir.

16 comentários

De Anónimo a 01.06.2009 às 12:37

Para quem não sabe, na língua do PS, um "interface modal" é uma estação de comboios com uma paragem de autocarros e um parque de estacionamento.

De jg a 01.06.2009 às 12:41

O léxico utilizado para a descrição do diploma, diz tudo.
Um verdadeiro fenómeno!
Não nos bastava os malucos do riso?!

De JCM a 01.06.2009 às 14:19

Às vezes não percebemos o alcance de certas coisas. Quando se fala de niilismo, estamos a falar de quê? Também disto. Isto é pura e simplesmente o niilismo em acção. Isto não é nada, nao significa nada e, excluindo mais um inferno burocrático no Estado, não produzirá absolutamente nada. Parece haver uma secreta palavra de ordem que comanda toda esta gente: dissolver, dissolver, dissolver, até que não reste pedra sobre pedra.

De Carlos Medina Ribeiro a 01.06.2009 às 15:05

Então tomem nota desta anedota, verídica, e que eu acompanhei BEM DE PERTO:

Numa empresa portuguesa muito conhecida, um determinado engenheiro andava a dinamizar uma série de actividades (tendo em vista a melhoria da produtividade) quando foi chamado ao gabinete da Direcção.

«Meu caro» - disse-lhe o Director - «o que você anda a fazer pode estar muito certo, mas sucede que, com isso, está a colocar em causa a minha competência».

E o mais curioso é que estava cheio de razão...

De Nuno Castelo-Branco a 01.06.2009 às 15:25

SESSENTA E CINCO ANOS SEM UM VERDADEIRO Parlamento, eis o brilhante resultado. parabéns...

De Anónimo a 01.06.2009 às 15:58

Ó Nuno Castelo Branco....olhe que o parlamento português na primeira decada do século XX tambem deixava muito a desejar. A coisa é muito mais profunda do que uma simples dicotomia monarquia/republica.

De Nuno Castelo-Branco a 01.06.2009 às 16:14

Isso sei eu, anónimo das 3.58. No entanto, deixava também muito a desejar, devido à presença de um certo tipo de gente que fez baixar dramaticamente o nível do discurso - coitado do José Estêvão, se pudesse ter ouvido o Costa e o Almeida... - que infalivelmente desmbou na reles demagogia. Referia-me apenas a um parlamentarismo verdadeiro como a evolução o mostrou em toda a Europa. O Parlamento britânico, ou o francês, por exemplo, contaram com episódios idênticos aos que se verificavam no S. Bento da Monarquia e isso não impediu contudo, a sobrevivência da liberdade e o enraizamento da própria instituição parlamentar. Aqui é o que se vê: o descrédito, a falta de fundações do edifício político-partidário e agora, suprema manigância, querem impingir o voto obrigatório. À falta de legitimidade, arranja-se assim, um artifício.
Sempre gostava de trazer aqui e agora o Bordalo para desenhar umas caricaturas.

De Anónimo a 01.06.2009 às 16:51

Viva João & Cª.

Coisa mais ou menos do género "Fábrica do Inglês" no Reino de Silves.

De qualquer forma, julgo de alto grau de aplicabilidade aquela velha máxima católica:

"Felizes os ignorantes, porque é deles o reino dos céus".

Essa é que essa. :D

A

Rui

Ps. Apenas para apreciadores (isto no dia da crianza (que não os Casa Pia):

De Alison Shaw, Album "Cranes - Forever", tema Cloudless.

De Anónimo a 01.06.2009 às 18:00

Mas que brilhante manancial de expressões neo-socio-tecnológicas consolidadas nos confins da massa infantilo-encefálica, brilhantemente perspectivadas como ideias pós-modernas de aplicação horizontal, na óptica do legislador.

De BuRRocrata a 01.06.2009 às 18:29

Its a brave new world !

É todo um novo tipo de governança e de reforma das mentalidades por via eufemistica.

Pex, na administração pública: projectos, objectivos, defesa dos postos de terabalho trabalhadores, balcões, lojas, superação, (in)adequado, desafios, proximidade contratualização, negociação, mobilidade especial, competências comportamentais, relevante, excelência e excelente, monitorizar, excedentário...

Its a brave new world !

PS - mas a "poesia" de que o postante deu exemplo, é deliciosa...: . Muito boa !:)

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