
A "história das casinhas" foleiras, supostamente inventadas por Sócrates na versão engenheiro técnico camarário, não acrescenta um átomo a nada. Vinte ou duzentos "projectos", maior ou menor "desleixo" do seu autor e a eventual violação do princípio das incompatiblidades parlamentares mudam alguma coisa no país em relação a Sócrates ou de Sócrates em relação ao país? Não mudam. Pelo contrário, banalizam essa relação e trivializam o putativo faltoso desleixado (quem é que não gostava de ter imaginado trambolhos assim ou assado e ser, menos de vinte anos depois, 1º ministro?) . Porque, de uma forma geral, o português dito "médio" é como esse Sócrates dos anos oitenta, um
parvenu acabado de chegar das berças para se sentar no parlamento. Um esperto deslumbrado. Até aquelas coisas que alegadamente desenhou são o retrato dessa mediania muito satisfeita consigo mesma que, apesar da mudança de visual, ele personifica. Julgo que ninguém minimamente alfabetizado possui alguma ilusão acerca do "progresso" e da "modernidade" representados por Sócrates. As "casinhas" são apenas um episódio na vida de um homem com uma
não biografia apesar dos hagiógrafos das fichas e dos analfabetos funcionais espalhados pelos
media sempre prontos para rameirais figuras. Ele existe precisamente porque
não existe. Um dia, quando desaparecer do poder, muito adequadamente ninguém se lembrará dele. Porque, quando existe, é em tosco retocado algo que, nestes pequenos monumentos ao mau gosto, nem sequer houve o cuidado de disfarçar.