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portugal dos pequeninos

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A ESCRITA MARICAS

João Gonçalves 23 Set 06


"O meu Verão passou-se em fervorosa releitura dos meus dois autores preferidos: o divino Marcel e o divino Thomas". Podia começar assim uma redacção da antiga quarta classe de um menino sobre-dotado. Nada mais enganador. A frase pertence a Frederico Lourenço, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, escritor e tradutor de clássicos. Vem na sua coluna habitual no suplemento "6ª" do Diário de Notícias. Lourenço adquiriu notoriedade com as suas traduções da Odisseia e da Ilíada- parece que, afinal, discutíveis - e com a sua trilogia "Pode um desejo imenso" ("Pode um desejo imenso", "O curso das estrelas" e "À beira do mundo"), tudo dos Livros Cotovia. De tal maneira que a editora pôs cá fora recentemente estes "romances" em forma de um, com o título do primeiro. Lourenço, graças à referida trilogia, a uma "autobiografia" - "Amar não acaba" - e à sua idade, tornou-se numa espécie de ícone de uma geração homossexual chique, geralmente mal resolvida e mal fodida, que se revê nos delíquios insuportáveis da sua escrita. Verdadeiramente, Lourenço integra uma categoria de escritores que praticam aquilo a que eu chamo "a escrita maricas". Esta "escola" inclui vários tipos de escrita - poesia, romance ou ensaio - e não deve a toponímia às opções sexuais de quem a pratica. Releva antes da forma como os autores e as autoras expõem as suas "ideias" (quando as têm), tornando muitas vezes rísivel ou soporífera a respectiva leitura. Aliás, e como escreve o Eduardo Pitta no único texto sério que conheço sobre a matéria, "literatura homossexual é um pleonasmo". E continua. "O que sempre houve é literatura feita por homossexuais, a qual, com carga erótica ou sem ela, não tem sido coutada de escritores homosssexuais. Jorge de Sena era heterossexual. Henry James e Evelyn Waugh são notoriamente ambíguos (a despeito da juventude sparkling do segundo). E Luiz Pacheco? Discurso directo: "Gostas de broche? - pergunto e encaro-o [...] e pela primeira vez noto como me apetecia aquele corpo, ser dono ou servo daquele aparato movediço de carne, pele, ossos, pêlos, força". Não vale a pena extrapolar, mas a figura do magala é com certeza um fantasma português." (in "Fractura, A condição homossexual na literatura portuguesa contemporânea", Angelus Novus Editora, 2003). Ou seja, tal como eventualmente a sexualidade é indivisa e só o objecto a quem ela se dirige pode ser de uma ou de várias naturezas, também não me parece que subsista uma "escrita" marcadamente sexista enquanto tal. Basta ler os romances autobiográficos de Henry Miller para entender o que pretendo exprimir ou mesmo a prosa violenta e "anti-maricas" de Jean Genet. Entre nós, onde normalmente se vive de leve, se escreve de leve e se morre de leve, como Eça dizia de Júlio Dinis, a tendência é sempre a mesma: afastar a vida e a realidade de tudo o que possa perturbar a pequena cabeça do putativo leitor. Ora a verdadeira literatura - mesmo, ou sobretudo, a de Proust que Lourenço refere - é um parto doloroso e uma morte mais do que anunciada. Não existe literatura inocente, a tal da "arcádia" a que alude Lourenço. Sem querer repetir clichés conhecidos - de Bukowski a Pasolini - toda a grande literatura tem de passar pelos "ciclos" que simultaneamente a redimem e a perdem: o do sangue, o do esperma e o da merda. Proust, que uma passagem da sua Recherche fez rir Frederico Lourenço na Meia-Praia de Lagos, fechou-se num quarto para escrever o que escreveu. Por assim dizer, saiu-lhe do coiro, da forma mais dolorosa que possamos imaginar. Não se pode falar da vida que emerge da verdadeira literatura com entrefolhos, punhos de renda ou lápis-de-cor. Frederico Lourenço podia ter terminado a sua "autobiografia" com a frase "tudo na vida tem o estigma da caducidade". Só que não resistiu à "arcádia" e perpetrou uma vulgaridade: "só amar não acaba". Um "escritor" que não entende que "amar" pode nem chegar a acontecer, é porque não sabe ler os seus "divinos" Marcel Proust e Thomas Mann.

16 comentários

De tlpg a 23.09.2006 às 15:34

Excelente.

De pp a 23.09.2006 às 18:04

Porra, lá se foi o tento na língua. Já viu que com o que disse vai ter as "renas e veados " à perna com acusações de homofobia!? Eu sei que não adianta dizer que não é disso que se trata, mas assim o meu estimado "bloguista" dava uma de bento de XIV.
pp - um leitor agradecido e regular

De Anónimo a 23.09.2006 às 18:11

V deve é estar descompensado.
Pergunte ao seu psicoterarpeuta se o que lhe falta é esperma ou merda...

FL não é um ícone de ninguém, e o que ressalta neste poste é o costumado provincianismo e a inveja maliciosa que tanto o caracterizam...

De João Gonçalves a 23.09.2006 às 18:27

A si, pelo menos, merda na cabeça não lhe falta. O resto não sei nem me interessa. "I am not my own subject".

De Anónimo a 23.09.2006 às 21:42

Mon Dieu.....

De Sebastian Melmoth a 23.09.2006 às 22:18

Tal como disse o PP, vai ter renas e veados à perna, o assunto mexe com muitas (faltas de) sensibilidades.
Por muito tempo e esforço investidos nos hominídeos, a tendência natural é para a preguiça e imbecilidade e o mexerico; é mais imediatamente apetitoso discutir sobre pessoas e não sobre as ideias das pessoas.
Lamento remexer no cocó, mas intriga-me e quase fico sem sono por tentar imaginar por que razão o anónimo animoso aqui de cima, respiração na frase, dizia: o que o terá levado a presumir que o que falta ao João é esperma ou merda, excluindo sem explicação que pudesse ter também falta de sangue, na aplicação do decalque dos ciclos a que a grande literatura não escapa.
Intriga-me. Relembra-me a recriminação que me era feita em criança, quando com toda a naturalidade me escapava da boca a palavra merda, e logo de imediato recebia da tutoria: "O que foi, tens a boca cheia dela?".

De Anónimo a 24.09.2006 às 00:50

ui, agora vai ter que aguentar a pancada...
aqui há uns tempos num blogue que tinha manifestei uma opinião parecida e foi um pandemónio.

De Pedro Nogueira a 24.09.2006 às 11:32

Brilhante, arrasador, sem espinhas.

De cínico a 24.09.2006 às 15:55

Sr. P. Nogueira:

É o tipo de souflés que eu abomino.

Não há nada como como 4/4 de vinho, pão de centeio, uma pinga de azeite e uma pitada de sal, e temos o esplendor da Gécia na pena de FL.

Agora idiotices da nouvelle cuisine, isso é que não passa de uma verdadeira paneleiragem.

De cínico a 24.09.2006 às 15:57

deve ler-se Grécia.

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