
Não sendo um cavaquista da 25ª hora - daqueles picoitos meretrizes de Elêusis a que alude Ezra Pound e que pululam por aí travestidos de académicos, disto ou daquilo e que são muito respeitáveis porque asseguram a famosa paz das famílias -, estou à vontade para comentar, quando e se me apetecer, as prestações do PR e recandidato a Belém nas próximas três semanas. E de comentar o que as meretrizes de sentido oposto às primeiras (sempre "candidatas" a qualquer coisinha como o Pitta, versejador invertebrado que já tinha idade para não fazer figuras de Marques Lopes ou de "corporativo"). Já se percebeu que Cavaco optou pelo minimalismo. Está rodeado de Constituição - e de bonzos que temem as rupturas - por todo o lado. Correrá contudo o país convencido que "acredita" e que é preciso que o país "acredite". Em quê? Na competitividade das empresas falidas? Num sistema produtivo destruído? Num mundo de trabalho deprimido? Numa banca dependente e rapace? Numa juventude doutoradamente desempregada? Falo disto, assim, brutalmente, porque Cavaco é sucessor dele próprio em Belém e é o único que é verdadeiramente candidato a um cargo que, apesar de todas as limitações, não merecia a idiotia catatónica dos restantes pretendentes que tiveram a infelicidade de obter as legais sete mil e quinhentas assinaturas. Mas o referido minimalismo não lhe servirá de muito. Julgo (ainda julgo) que Cavaco, ao fim destas décadas de dedicação à causa pública, não pretende ficar associado ao descalabro socialista e à inoperância parlamentar. Deverá falar as vezes que forem necessárias e, com a legitimidade eleitoral renovada, jamais deve hesitar em denunciar ao país um e a outra. O minimalismo escolhido numa campanha que acompanho à distância vai custar-lhe uma forte abstenção a 23 de Janeiro. Porque ninguém é mobilizável por lugares-comuns e trivialidades depois da humilhação geral que entrou ontem em vigor. Aliás, é só disso que se vai tratar nos próximos 20 dias - de evitar que a abstenção dos que empobreceram por decreto vença nos boletins de voto. Por aqui, farei o que puder sem lambe-botismos imbecis para que não pendo. Mas com a feliz recomendação do Doutor Salazar na ideia: decididos até onde ir, não devemos ir mais além.
- «E a Doutrina da vida Universal, que se encerra no simbólico grão de trigo de Elêusis, que deve morrer e ser sepultado nas entranhas da terra, para que possa renascer como planta, à luz do dia, depois de abrir caminho através da escuridão em que germina. É a mesma doutrina pela qual o candidato, tendo passado por uma espécie de morte simbólica no quarto de Reflexões, renasce para uma nova vida como Maçon e progride por meio do esforço pessoal, dirigido pelas aspirações verticais que são simbolizadas pelo prumo». (Wikipedia)
Ciente.