Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

O CONSOLO DA FILOSOFIA

João Gonçalves 23 Set 06


Ainda só li um jornal, à mesa do café, a torradas, tosta mista e sumo de laranja. A pior notícia do Sol diz-me que a filosofia deixa de ser obrigatória até para aceder, na universidade, ao curso da dita. Formei-me em direito mas não saberia sobreviver - já nem sequer digo viver - sem aquilo a que Boécio chamava "o consolo da filosofia". Aliás, foi nas masmorras que Boécio escreveu o livrinho, só, torturado e votado a uma morte prematura por causa da "política". As "modernas" gerações estão a ser criadas para a facilidade e para o não pensamento ou, quando muito, apenas para o "pensamento que calcula", de acordo com a fórmula de Heidegger. Daí a reprodução em série de licenciados analfabetos. Um amigo meu, que ensina física na universidade, mal consegue ler os testes dos seus alunos, apesar da "matéria". Outros desistem, noutros cursos, logo aos primeiros parágrafos. A filosofia ajuda a pensar e pensar não consta da "agenda" do dia. Quando entrei para a universidade, a faculdade onde se incluía o direito, era chamada de "faculdade de ciências humanas". Agora é mais uma "faculdade de direito". Não poder aceder, por causa da estúpida burocracia da "educação" democrática, a uma das mais belas realizações do espírito humano, diz tudo dos tempos que vivemos. Ou melhor, que não vivemos.

12 comentários

De Anónimo a 23.09.2006 às 22:46

É lamentável e gostava de saber quem faz estas coisas. Como se admite perdê-las, quero dizer.

Como é possível ensinar alguma coisa a uma pessoa que não sabe o que é um "conceito"? Dei aulas durante 3 anos, e verifiquei que a capacidade de abstracção é cada vez menor.

De Cecília a 24.09.2006 às 01:31

Não é verdade o que o "sol" diz. A Filosofia continua a ser obrigatória no 10º e 11º, em todos os cursos. No 12º aparece como opcional em CC-H.
Poderá confirmar neste endereço:

http://www.novasoportunidades.gov.pt/modalidade_detalhe.aspx?cod=13

De Anónimo a 24.09.2006 às 01:46

Portugal caminha para uma trivialidade arrepiante. As nossas elites exclusivamente concentradas no "ter" esqueceram o "ser". A boçalidade dos nossos ministros (incluindo o primeiro) e dos nossos presidentes (incluindo o actual)nem repara na gravidade destas medidas. Um país de gente que não pensa governa-se melhor.


alcoólico-anónimo

De Vasco a 24.09.2006 às 09:44

Sejamos realistas. Numa economia global, onde a competividade é fundamental, os cursos de ciências humanas e sociais (à excepção, talvez, da sociologia, quando aplicada à vida empresarial) não preparam gente para o mercado de trabalho. Que empresa bem gerida e que queira ser competitiva irá admitir um sujeito licenciado em filosofia ou em história, por exemplo? Pouco ou nada conhecem acerca do mundo real. Alguns trazem a cabeça cheia de ideias ocas ou mesmo subversivas. Isto quando não são semi-iletrados.
Há que fechar certos cursos universitários que não estão ligados a saídas profissionais, ou limitá-los drasticamente, para rentabilizar o investimento no ensino.

De jg a 24.09.2006 às 12:44

Este "Vasco" é do Compromisso Portugal ?

De m. a 24.09.2006 às 17:00

Como diz a Cecília, a Filosofia continua a integrar os currículos do ensino secundário nos 10º e 11º anos, pª todos os cursos incluindo os de carácter científico, exactamente como no anterior currículo. Já a opção de exigir uma disciplina como específica no acesso ao ensino superior é da exclusiva competência das universidades - e se prescindem de disciplinas ditas 'exigentes' por alguma razão será (sabe o que são 'rácios' na máquina logística do ensino superior? aquela coisa em q se alarga o facilitismo ou aumenta os chumbos pª garantir nº de alunos capaz de assegurar o empreguito aos que por lá andam?).

De io a 24.09.2006 às 18:49

Metade do que o "Vasco" diz é verdade... a outra metade é uma imbecilidade... Escolham.

De Anónimo a 25.09.2006 às 10:31

Em números, como o Vasco deve gostar, 70% do que diz é imbecilidade, 30% é a autonomia das universidades a viver à sombra do estado.

Sauridio

De Vasco a 25.09.2006 às 12:34

Imbecilidade? Vejamos. Hoje quase todos os jornais diários dão a receita que há uma semana foi preconizada por quem sabe, no "Compromisso Portugal", a respeito da função pública. Respigo da notícia do "Público" a seguinte passagem: «Na opinião da comissão, "o recrutamento (para o funcionalismo público) depende excessivamente das habilitações académicas e do saber retórico, desatendendo às necessidades específicas do serviço"».
Se Heidegger e outros filósofos quaisquer nos ensinassem a criar emprego e riqueza, talvez valesse a pena perder tempo com eles. Assim não. A filosofia, tal como a história e outras áreas das ciências humanas, não são matérias peioritárias. Delas, bastará o suficiente para formar cidadãos/consumidores conscientes dos seus deveres e do seu papel na sociedade civil. Saber retórico para gastar o tempo do patrão já há muito quem o faça. No sector privado ainda pode ser despedido. Na função pública só poderia ser promovido. Mas os ventos estão a mudar, felizmente.

De Anónimo a 25.09.2006 às 12:35

matérias prioritáris e não "peioritárias"

Comentar post

Pág. 1/2

Pesquisar

Pesquisar no Blog

Últimos comentários

  • João Gonçalves

    Primeiro tem de me explicar o que é isso do “desta...

  • s o s

    obviamente nao é culpa do autor ter sido escolhi...

  • Anónimo

    Estou de acordo. Há questões em que cada macaco se...

  • Felgueiras

    Fui soldado PE 2 turno de 1986, estive na recruta ...

  • Octávio dos Santos

    Então António de Araújo foi afastado do Expresso p...

Os livros

Sobre o autor

foto do autor