
Ainda só li um jornal, à mesa do café, a torradas, tosta mista e sumo de laranja. A pior notícia do Sol diz-me que a filosofia deixa de ser obrigatória até para aceder, na universidade, ao curso da dita. Formei-me em direito mas não saberia sobreviver - já nem sequer digo viver - sem aquilo a que Boécio chamava "o consolo da filosofia". Aliás, foi nas masmorras que Boécio escreveu o livrinho, só, torturado e votado a uma morte prematura por causa da "política". As "modernas" gerações estão a ser criadas para a facilidade e para o não pensamento ou, quando muito, apenas para o "pensamento que calcula", de acordo com a fórmula de Heidegger. Daí a reprodução em série de licenciados analfabetos. Um amigo meu, que ensina física na universidade, mal consegue ler os testes dos seus alunos, apesar da "matéria". Outros desistem, noutros cursos, logo aos primeiros parágrafos. A filosofia ajuda a pensar e pensar não consta da "agenda" do dia. Quando entrei para a universidade, a faculdade onde se incluía o direito, era chamada de "faculdade de ciências humanas". Agora é mais uma "faculdade de direito". Não poder aceder, por causa da estúpida burocracia da "educação" democrática, a uma das mais belas realizações do espírito humano, diz tudo dos tempos que vivemos. Ou melhor, que não vivemos.
Como é possível ensinar alguma coisa a uma pessoa que não sabe o que é um "conceito"? Dei aulas durante 3 anos, e verifiquei que a capacidade de abstracção é cada vez menor.