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portugal dos pequeninos

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RAZÕES E CORAÇÕES

João Gonçalves 15 Dez 06

Como se diz no calão liceal, a Fernanda Câncio "esticou-se". Diria, aliás, que de tão progressista e "progressiva" que quer parecer, está cada vez mais reaccionária. Nesta nervoseira, como é que consegue chegar a Fevereiro bempostinha? O seu artigo no Diário de Notícias constitui um magnífico passo em frente para enterrar o melhor argumentário do lado do "sim" na lama. Mais valia ter estado quietinha com o computador. Eu, que a considero corajosa, altiva e, imagine, consequente na sua inconsequência, fiquei siderado com esta sua miserável prosa. Vamos por partes, embora me apeteça parar já nesta: "grande parte dos animais vivos tem um coração que bate - o que não faz ninguém reconhecê-los como pessoas". Escrever isto a propósito de um embrião vivo, comparando o incomparável - apesar de existirem animais que são bem mais "pessoas" do que muitas pessoas que eu conheço -, para além de demagógico, é intelectualmente desonesto e absolutamente fascisto-feminista, ou seja, obsoleto. Se, como diz a autora, os do "não" "apostam na ignorância", em que é que ela aposta com este disparate? Eu, que defendo a lei actual, não me recuso a falar nos "casos excepcionais" porque eles são de uma clareza cristalina na letra da lei. A mera exclusão da ilicitude não obriga ninguém a interromper a gravidez se algum dos "casos" se verificar. É uma faculdade, não é um direito. Pelo contrário, é um direito aquele que se pretende ver consagrado através da liberalização total do aborto desde que realizado até às dez semanas de gestação, por exclusiva vontade da mulher. Ora, na civilização em que eu vivo e pretendo continuar a viver, nenhum crime passa a direito par delicatesse ou para "justificar" filosoficamente qualquer arquétipo. Jean Genet, nos seus "romances", ergue constantemente o homicida à categoria de herói - e sensual ainda por cima. Todavia, é literatura apenas e em qualquer parte do mundo civilizado um homicida é mesmo um homicida, e não um herói ou uma "vítima". A constante apresentação da mulher como "vítima" - "a rejeição das mulheres" - para justificar o recurso ao aborto como um "direito" praticamente inalienável, em pleno século XXI, é pura demagogia sexista e pura má-fé. Acha a Fernanda que os milhares de mulheres que votam "não" desejam a sua própria "rejeição"? Ou que qualquer eleitor que o faça está pensar em apoucar alguém ou em diminui-lo enquanto cidadão e ser humano? Por amor de Deus. Finalmente, um coração é um coração desde que bata, fora ou dentro de outro corpo. Eu tenho um, a Fernanda tem outro. Não reconheço nenhum tipo de autoridade moral à Fernanda Câncio para determinar que tem "mais coração" do que eu. Ninguém tem o monopólio do coração. Experimente funcionar mais com a razão e menos com a emoção e vai ver que se dá melhor com a vida.

14 comentários

De Santiago a 15.12.2006 às 23:01

Caraças! Isto é que é perseverança...
Ainda não conseguiu levá-la a almoçar? Quer que eu tente interceder por si?

De Anónimo a 16.12.2006 às 11:04

É isso: alguém que ajude este homem ou não há sossego!

Mas a análise é débil. O que se considera um homicida é, em qualquer parte do mundo e em todas as épocas, derivado das conveniências das castas dominantes.
Há homicidas que passam à História como bons governantes, óptimos juízes, excelentes mães, ilustres cientistas, bravos guerreiros e benfeitores da Humanidade.
Verifica-se até que uma simples farda pode tornar um homicídio num acto louvável.
Ora a Lei não protege a Vida: protege a propriedade. Sempre foi esse o intuito do Legislador.
E é da propriedade (do corpo, do património genético, da força de trabalho futura) que se trata. Para alguns, aqueles lobos que pretendem vestir a pele do Cordeiro, continua a ser apenas uma questão de controlar o rebanho.
Por isso não me venham com Humanismos de pacotilha. Quem tiver objecção de consciência contra o aborto poderá sempre recusar-se a praticá-lo. Se a lei o proíbir ficamos todos impedidos de exercer a objecção de consciência. Por isso voto SIM.

António José Brett-Hepford Sacadura, médico.

De Anónimo a 16.12.2006 às 19:48

O jornalismo de causas é imparcial ?

O que é feito da imparcialiadade do Jornalismo ?

De Teresa a 18.12.2006 às 13:37

E agora, como se eu fosse muito muito burra, explique-me porque há excepções que são uma "faculdade" e outras que são um "direito"..

De João Gonçalves a 18.12.2006 às 14:34

Teresa: vá à FNAC e folheie um livrito qualquer de introdução ao estudo do direito ou de noções básicas de direito. Ele explica-lhe a diferença.

De Teresa a 18.12.2006 às 21:51

Não preciso.... fiz isso há muitos anos e com os melhores Mestres - que também vendem na FNAC mas eu era mais Sebentas policopiadas. Por isso lhe peço para me explicar. Excepção é excepção.
E deixe de ser arrogante. Fica-lhe mal ao tom de pele.

De João Gonçalves a 18.12.2006 às 21:57

Oh Teresa, dá-me ideia que, para além de português, também sabe direito. Para quê, pois, estes jogos florais? Está claríssimo no post. E, de facto, a minha pele ressente-se muito com o frio. Que recomenda?

De teresa a 19.12.2006 às 00:04

Para si o mais tradicional - creme nivea e óleo de amêndoas doces.
Quanto ao resto, acho que ou não quis ou não conseguiu ver o óbvio - por vezes, mesmo aqueles de quem gostamos, fazem asneira da grossa. No entanto, e dada a época natalicia, fica sempre bem tentar fazer um embrulho bonito. Mesmo que o presente seja envenenado.
( e já agora, sabe que o envenenamento é o único crime em que a tentativa é punida exactamente da mesma forma que o acto consumado? E sabe porquê? Porque, ao que parece, era um crime tipicamente feminino e o legislador, homem, defendeu-se. E isto não é politica. É História do Direito.E sim, devem-se vender livros na FNAC)

De João Gonçalves a 19.12.2006 às 12:22

Mas, diga lá, Teresa, a "gente" conhece-se? É que para os conhecidos eu faço sempre desconto no meu mau feitio...

De teresa a 19.12.2006 às 13:10

No sentido bíblico, não nos conhecemos de certeza. Isto por aqui é mais um conhecimento a modos que kantiano - vou fazendo uma ideia.
Mas mesmo não conhecendo deixe-se de maus feitios - o mau feitio tolda-nos sempre o raciocínio.

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