A propósito de Eanes, pressenti em alguma blogosfera o antigo ódio - acéfalo e caciqueiro mesmo quando disfarçado de "intelectual" - ao General. Eanes, apesar de ter sido o primeiro Chefe de Estado eleito por sufrágio directo, universo e secreto, nunca foi bem aceite pelos "democratas" da partidarite. Soares, o "dono" moral desses "democratas", fermentou o referido ódio que ainda agora ressuma nas entrelinhas do que escrevem. Tal como Cavaco, Eanes, na "lógica" destes "democratas", não é - felizmente, digo eu - dos "deles". Porque estão habituados ao regime (e à falta de vergonha que é costume estar-lhe associada: por exemplo, para a semana Chávez regressa a Portugal para "negociar" com os "pais espirituais" destes "democratas"), estranham que Eanes tivesse recusado os "retroactivos" da pensão e lançam-lhe o estigma da "acumulação". É que para estes "democratas", existem "democratas" de primeira e de segunda classe. Soares e Sampaio estão, seguramente, na primeira classe. Eanes, quando muito, fica pela segunda porque eles, os "democratas", apesar de tudo são generosos. Eanes não foi exactamente um contínuo do regime nem mais um dos seus vulgares papagaios pagos a preço de ouro para "comentar", nos jornais e nas televisões, o mesmo regime que os apascenta. Nunca, aliás, pagaremos (e não falo de dinheiro que é a
lingua franca do regime e dos seus papagaios) devidamente a esse homem a sua coragem física e moral em tempos sombrios. Como escreve o Baptista-Bastos, «
num país onde certas pensões de reforma são pornográficas, e os vencimentos de gestores atingem o grau da afronta; onde súbitos enriquecimentos configuram uma afronta e a ganância criou o seu próprio vocabulário - a recusa de Eanes orgulha aqueles que ainda acreditam no argumento da honra.»