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portugal dos pequeninos

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Um espectáculo sórdido

João Gonçalves 4 Jan 16

Acompanho atentamente as eleições presidenciais desde as primeiras livres em 1976. Não votei, era menor, mas já votei em 1980. E não só votei como fiz activamente parte da Comissão Nacional para a Recandidatura do Presidente Eanes", a CNARPE. O mesmo aconteceria em 1985-1986 com o Movimento de Apoio Soares à Presidência", o MASP, integrando uma obscura "comissão de juventude" onde conheci, entre outros, Seguro e Costa, e onde quem vinha da "Direita" era especialmente "acarinhado". Aliás, esta terá sido porventura a última grande campanha política para a eleição do presidente da República. A disputa de 1996 entre Sampaio e Cavaco, ganha pelo primeiro, já não teve metade da graça porque não havia mais ninguém. Jerónimo saiu de cena para Sampaio brilhar e o guterrismo, em princípio de carreira auspiciosa, fez o resto. Dez anos depois, Cavaco era o derradeiro candidato "natural". Estive com ele na derrota e na vitória, embora mais em letra de forma do que de outra maneira. Agora subscrevi a candidatura de Marcelo e, durante algumas breves semanas na primavera passada, tentei ajudar Henrique Neto "por uma Nova República" mas não deu. Com isto tudo quero significar estarmos perante as eleições presidenciais mais desinteressantes e politicamente medíocres de que tenho memória. Como se esta infelicidade não fosse suficiente, as televisões e as candidaturas combinaram uns debates improváveis, feitos a correr entre todos, enquanto a campanha não começa oficialmente. O que dará, em apenas quatro dias do novo ano e até ao final do dia de hoje, 14 (catorze) debates: duetos, tercetos, quartetos falhados e um na rádio com os dez magníficos. Ainda faltam vinte e tal e um final, em plena campanha e com todos, em canal aberto nas três generalistas. Salvo o devido respeito, é um mau serviço prestado à dignidade do cargo que esta gente (a maior parte ignora o que é que está a fazer nos boletins de voto num lamentável sinal do estado a que tudo chegou) se propõe exercer e uma ajuda à abstenção que nenhum candidato parece interessado em combater. Evitar as campanhas "tradicionais", que tiveram o seu tempo adequado e imprescindível, não implica este torpe exercício desincentivador de qualquer "esclarecimento" ou virtude cívica. O presidente eleito a 24 de Janeiro vai ter muito que se espremer para recompor as coisas. Desde logo para se recompor deste espectáculo sórdido.

Jornal de Notícias, 4.1.2016

Foto: Marcos Borga

 

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