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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

Os candidatos presidenciais e a situação

João Gonçalves 18 Nov 15

 

Jornal de Notícias, 18.11.2015

A pirueta perpetrada no resultado das legislativas mantém as atenções centradas na chamada governabilidade. E em Cavaco Silva. Os mais inquietos, sobretudo os "transformistas de 4 de Outubro", abundam na necessidade de "rapidez" na decisão e nos insultos mais ou menos velados ao presidente. Mas, com os poderes cerceados pelos zelotas da revisão de 1982, este tem de decidir com a ponderação que as circunstâncias exigem. Circunstâncias que são da mais diversa natureza. Desde as formais impostas pela Constituição - Governo demitido e em gestão e impossibilidade de dissolução do Parlamento até 4 de Abril - até às políticas: emergência de uma maioria informal, atípica, que apenas aceita a "entrada em funções" de um Governo minoritário do PS devidamente "vigiado" pela ala mais minoritária da aritmética parlamentar. Onde existia uma coligação eleitoral e de Governo vencedora, sem maioria absoluta, passou a estar uma frente não eleitoral perdedora, disposta a somar votos de deputados para sustentar precariamente um segundo Governo minoritário. Se o PR não precisasse de tempo para avaliar estas subtilezas do espírito e da engenharia partidária é que seria preocupante. Tudo isto conduz a que as eleições presidenciais marchem a reboque destas circunstâncias. E que os candidatos presidenciais sejam rebocados pelo tacticismo que as mesmas impõem a todos os agentes políticos. Não há dia ou hora em que os candidatos não apareçam para comentar o curto termo como se não estivessem a candidatar-se a um mandato de cinco anos. E, mais relevante do que isso, para exercer em plenitude as competências que a Constituição prevê para o chefe do Estado. Julgo que um candidato presidencial não se propõe minimizar o seu papel político e institucional enquanto PR. Não se candidata, decerto, para poucochinho ou para "valet de chambre" de qualquer partido ou facção. Percebe-se assim que Marcelo, o mais provável sucessor de Cavaco Silva, não diga mais sobre o tempo que passa do que aquilo que pretende dizer. Mesmo que isso incomode a coligação e muitos dos seus putativos eleitores. Por falar em directo para o país, sem mediadores, é inevitável que o iconoclasta Marcelo desagrade a alguns por querer agradar a praticamente todos. Faz parte do guião. E Marcelo, até por ser o mais livre dos candidatos verosímeis, é o mais "natural" de todos eles. Quem de direito tome nota. Até porque não há outro no deserto das presidenciais.

Quem pede o quê

João Gonçalves 25 Jul 15

 

Na semana que passou ficámos a conhecer os candidatos a deputados pelo PS. Melhor. Ficámos a saber que Costa persiste fiel ao princípio que o determinou a correr com Seguro: incluir excluindo e excluir incluindo. Nos próximos dias segue-se a coligação PSD/CDS. Verdadeiramente só interessa observar o que vai fazer o PSD. Pessoal e politicamente não espero grande coisa. A tendência de quem está no poder é a de "reforçar" o pior do que não presta e não oposto. O mesmo se diga do programa eleitoral. Há muito que foi apresentado: em Bruxelas, junto de quem o valida. Estes "preparados" - do PS e da coligação - provavelmente ditarão uma proximidade no número de mandatos a alcançar por ambas as partes em Outubro. O Doutor Cavaco, com os já longos trinta anos que leva disto, pressentiu esse desfecho na alocução em que marcou a data das eleições. Um bocadinho mais à frente, um bocadinho mais a trás e uma vetusta abstenção valerão tempos interessantes e seguramente mais "políticos" do que os que temos vivido. Mas os partidos não servem só para o recreio infantil dos lugares. Será então altura de mostrar que percebem o que o eleitorado lhes exige. Porque é assim que isto funciona. Não são os partidos que pedem ao "povo" que lhes "dê" algo. É o "povo" que diz aos partidos o quer deles e, sobretudo, o que não quer. 

Só lá para Outubro

João Gonçalves 18 Jul 15

 

Confesso que os mais recentes "desenvolvimentos" europeus, a par com as exibições políticas caseiras por via da pré-campanha legislativa, empurraram-me para uma maior indiferença relativamente ao desfecho das eleições deste ano. Expliquei isso, em parte, no Jornal de Notícias. As sondagens, aliás, vêm confirmando que o "problema" não é apenas meu e que não há princípio da caridade que salve os principais protagonistas. De tal forma que estou propenso a concordar com o chefe da campanha do dr. Costa, Ascenso Simões, quando descortina algumas virtudes numa maioria relativa. Quando o dr. Passos, numa entrevista, afirmou ser-lhe indiferente que a maioria lhe pertença, ou ao dr. Costa, desde que seja absoluta para que o tratado orçamental vigore enquanto programa de governo, então mais vale guardar as bandeirinhas para outras legislativas precoces. Daí as presidenciais poderem ter mais interesse. Pelo menos para mim. Mas só lá para Outubro.

 

A uma vetusta notabilidade do PSD, o dr. Balsemão, venerando empresário de comunicação social desde o século passado, ocorreu que "milhões" de portugueses (palavra de honra) anseiam pela candidatura presidencial do dr. Rui Rio. Como tal, convidou-o a montar "o cavalo do poder" que raramente passa à porta de quem, como o dito Rio, terá tão nobre vocação político-tauromáquica. Ora segundo o sempre bem informado dr. Marques Mendes, Rio estará a selar o referido "cavalo" já para a segunda quinzena do mês corrente. Como o que vou dizer a seguir é mais do que do tempo e presença do dr. Balsemão, cuja prestação como 1º ministro persiste inolvidável em cabeças tão insuspeitas como a do Doutor Cavaco saison 1981-1985, talvez conviesse ao "número um" do PSD atentar em duas ou três coisas todas ligadas pela mesma funesta consequência política. Em 1980, precisamente nos idos de Julho, a então Aliança Democrática foi ao Rossio fazer um comício para apresentar o seu candidato presidencial: o general Soares Carneiro. Em Outubro, nas eleições legislativas, a AD renovou a maioria absoluta e, numa conferência de imprensa, anunciou-se essa vitória como a "primeira volta das presidenciais". Em Dezembro, após uma campanha tão dramática quanto trágica, o incumbente Eanes ficava. Cinco anos depois, já Cavaco presidia ao PSD e com eleições legislativas igualmente em Outubro, Freitas do Amaral recebeu o apoio do presidente do PSD para Belém num encontro na sua sede de candidatura. Cavaco ganhou as legislativas, sem maioria, mas, mesmo 1º ministro, empenhou-se de norte a sul na campanha de Freitas até Fevereiro de 1986. Soares ganhou na 2ª volta. Finalmente, vai para dez anos,  o mesmo Soares "impôs-se" ao PS maioritário de Sócrates como candidato a um terceiro mandato contra um Cavaco ainda por vir. Foi em Agosto, no Hotel Altis, diante da euforia de centenas de pessoas e das televisões. Citou-se até Pessoa por causa das finanças e das bibliotecas. Mas foi Cavaco, o último a aparecer, quem venceu e à 1ª volta. É evidente que em 2015 a situação é distinta. Nenhum dos principais contendores das legislativas declarou apoios presidencias. E nem sequer é previsível que o façam antes delas embora algumas "aparições" acabem por os obrigar a pronunciar-se como tem acontecido ao pobre dr. Costa vezes sem conta. O que não beneficia qualquer das partes a menos que haja algo assumido previamente, à semelhança das histórias que contei, o que, porém, não ressume a menor garantia de um desfecho feliz. Embora estime o candidato Henrique Neto, e mesmo com a eventualidade de um ensimesmado Rio presente nos próximos tempos, creio que o próximo PR ainda está para chegar às eleições presidenciais. E podem tirar o cavalinho (do poder) da chuva que ele não chegará seguramente antes de Outubro

A "dramática ilustração"

João Gonçalves 5 Jul 15

 

O dr. Costa - que preside à gloriosa agremiação que nos conduziu alegremente até ao resgate da Primavera de 2011- sugeriu, sem se rir, que há que dar graças pela circunstância de haver um PS (o dele) sem o qual seríamos uma outra Grécia. Ou seja, esta seria a "dramática ilustração" de um Portugal desprovido do concurso, salvífico e tonificador, da sua magnífica pessoa. Porquê? Porque o dr. Costa imagina-se a charneira entre aquilo a que apelida delicadamente de "esquerda radical" (cujos votos, aliás, não revela o menor pejo em catar) e a "direita" não menos "radical" que apenas jura pela austeridade. Na realidade, e com estes oxímoros permanentes, o que o dr. Costa anda a fazer ao PS é transformá-lo num caminho de ninguém, sem ideias fortes (más ou boas) ou um desígnio claro por mais curto que seja. Ele é, por consequência, a "dramática ilustração" de tudo o que o país agora menos precisa.

Pelo deserto

João Gonçalves 28 Jun 15

 

«Portugal não olhará com muita confiança para um governo de João Galamba, Jorge Lacão e Sónia Fertuzinhos. Claro que António Costa já arranjou com certeza quatro ou cinco dos “sábios”, que lhe andaram a escrever papéis, mas que o público não conhece e em que naturalmente não confia. E o que sobra entre a emigração para o Parlamento Europeu e os “negócios” da crise preferiu ficar de fora. O socialismo não enfraqueceu só politicamente, perdendo pelo mundo inteiro deputados, maiorias, governos, presidências. Pior do que isso, o regresso ao desemprego de massa e o fracasso anunciado do Estado Social transformaram um programa e uma doutrina numa escaramuça de retaguarda em defesa do funcionalismo público (da administração ou de qualquer EP), como se dele dependesse a salvação da humanidade. Hoje, por grande que fosse a indignação com Coelho e Cavaco, ninguém iria escolher essa pífia causa como fim e direcção da sua vida política. Basta ver televisão ou ler os jornais para constatar a distância que separa o cidadão comum do que por aí gritam os “jovens” do partido. António Costa anda por esse país a ser abraçado, mexido, beijocado. Anda sem ninguém: como quem atravessa um deserto.»

Vasco Pulido Valente, Público

 

«O papel do Presidente é fazer pontes. Não é ter um programa de Governo, não é ter um programa político, não é fazer aquilo que tem na cabeça. É evidente que cada candidato tem as suas ideias (…), mas um candidato a Presidente não é um candidato a primeiro-ministro, não tem um programa de governo. Tem as suas ideias, sabe o que defende para o país, mas tem de ter a humildade para ser sobretudo alguém que faz a ponte entre pessoas com ideias diferentes. Pode acontecer que nos próximos cinco anos, termos um só Presidente e dois ou três governos. [Nesse sentido], vai ser preciso um grande esforço de aproximação e convergência para ultrapassar as clivagens [que existem entre PS e PSD] já daqui a três meses.»

 

Marcelo Rebelo de Sousa

Rio no seu labirinto

João Gonçalves 25 Jun 15

 

Como se isso interessasse a alguém, o dr. Rui Rio, uma emanação sebástica dos nevoeiros do Douro, fez saber (ou outros por ele apesar da excessiva paixão por si próprio) que tem "três cenários em aberto": candidatura presidencial, liderança do PSD ou "manter-se fora da política activa". Com a delicadeza e o bom feitio que o celebrizaram nas margens do referido Douro, e na generalidade dos meios de Comunicação Social, garantiu que não vai "alimentar a discussão sobre o tema, pelo que não vou confirmar, nem desmentir a afirmação (de que só decide após as legislativas); como também não confirmaria, nem desmentiria, se tivesse sido feita no sentido contrário". De onde procede, pois, tanta presunção e tanta contradição? Para além da austera formação de origem germânica e financeira (a primeira de pouco lhe serviu para a "acção cultural" da Câmara do Porto, na prática irrelevante quando foi seu presidente), Rio andou pela JSD do Porto, com o rival Menezes, até ser alcandorado em secretário-geral de Marcelo Rebelo de Sousa. Actualizou os ficheiros e saiu para deputado. Sovou monumentalmente Fernando Gomes, em Dezembro de 2001, e cumpriu os mandatos autárquicos que os portuenses lhe confiaram até ao limite legal. Pelo meio foi vice-presidente do breve consulado partidário de Santana Lopes. Em 2008, no Restelo, um grupinho de "elites" sociais-democratas tentou que ele sucedesse ao choroso Menezes. Terá dito que sim mas, mal chegado ao Porto, fez inversão de marcha política o que obrigou Manuela Ferreira Leite a avançar em nome desse luminoso grupo. Nos derradeiros anos como autarca aliou-se, e vice-versa, a António Costa nuns encontros melífluos, ora em Lisboa ora no Porto, para impressionar o "poder central" e as respectivas lideranças partidárias. Costa, como é sabido, não se ficou pelo chá e levou a sua conspiração a bom termo. Rio, por natureza e de acordo com as declarações do princípio da semana, está enfiado no "quadrado" - a expressão é do bardo Alegre em 2005 a pensar em Belém - que gizou para a sua extraordinária pessoa política desde sempre: tudo, alternadamente, e o nada, também alternadamente. O que, na dúvida, não o recomenda para nenhuma das "alternativas" que colocou. Nem mesmo a de "manter-se fora da política activa" - uma manha retórica dos políticos para lá ficar - apesar de ser a mais consistente das três. Quem não suporta a crítica, o erro ou a tentativa tem de meter explicador de democracia. Não lhe pode presidir.

 

Jonrnal de Notícias

 

Sem responsabilidade e sem brilho

João Gonçalves 19 Jun 15

 

«O PS nunca se distinguiu pela especial competência da gente que o dirigiu e governou o país durante mais de 20 anos. Algumas personagens foram com certeza melhor do que outras, mas nenhuma (tirando Salgado Zenha e José Manuel Medeiros Ferreira) deixou uma obra durável e uma memória presente e calorosa. Mesmo agora, com uma eleição decisiva à porta, o pequeno grupo que rodeia Costa não se recomenda pelo que fez, nem muito menos pelo que diz. Na intimidade presumo que se acha mutuamente uma esperança; em público não passa da cartilha que já repetia no tempo de Seguro, e volta hoje a repetir com Costa, ornamentada por um vaguíssimo calão económico e por meia dúzia de promessas, que o cidadão comum não leva a sério, tanto mais que são aéreas e na sua maior parte hipotéticas. O dr. Costa deu anteontem uma entrevista a este jornal em que, entre chover sobre o molhado e soltar livremente a sua fantasia, resolveu tratar de um problema real: a reforma do Estado. Pondo de lado a crítica sem sentido à coligação, Costa identificou três pontos, dignos do seu particular zelo: o mar, a modernização administrativa e (calculem!) o desenvolvimento e ordenamento regional. Mas, para chegar aos seus fins nestes três pontos cruciais, Costa não inventou melhor do que fabricar três novos ministérios, que permitam “existir um ministro (claro) com a função transversal”, que “articule” e defina as “políticas sectoriais”. Não quero dar um desgosto a este novo salvador da Pátria, só gostava de o informar que desde 1980 que se fala nessa tremenda habilidade; que Sá Carneiro teve um ministério da Reforma Administrativa; e Cavaco um ministério do Mar. Isto só serviu, como é natural, para provocar um prodigioso número de querelas de competências; para aumentar o funcionalismo; e para paralisar o Estado nas matérias em que precisamente se queria que aumentasse a sua putativa eficácia. O que na situação em que estamos não aquece, nem arrefece, mas mostra bem por dentro a cabeça de António Costa: uma cabeça de alto funcionário, dedicada a fortalecer a administração central, a diminuir a força e a autoridade dos privados (que “ganham milhões com o outsourcing”) e, entretanto, a rabiscar organigramas para deleite dos militantes, que lá se tencionam pendurar. O PS um partido moderno? Não, um partido de burocratas sem responsabilidade e sem brilho.»

 

Vasco Pulido Valente, Público

Limpeza do pó

João Gonçalves 14 Jun 15

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A empresa de sondagens do dr. Oliveira Costa (Rui) perpetrou alguns "estudos" no Expresso. Se os tomarmos ao pé da letra, verificamos, por exemplo, que inexiste nos sondados o mesmo acrisolado amor pela TAP que é por aí vendido, a título de fervor patrioteiro sem sentido, pelas esquerdas e pelo cineasta Vasconcelos. O que as pessoas querem é partir e chegar a horas num qualquer avião que os leve e traga em sossego e com alguma qualidade. Também constatamos que não valeu de muito à camarilha do dr. Costa a Vendeia que correu com o dr. Seguro: este derradeiro estudo coloca o primeiro até mesmo abaixo dos piores momentos do segundo nas sondagens. E que a coligação "Portugal à frente" - um anagrama aparvalhado do "P'rá Frente Portugal" do prof. Freitas em 1986 -, sem "mitos", improvisos autocomplacentes ou "independentes" nulos, pode perfeitamente fazer "frente" ao assombrado candidato a 1º ministro do PS. Quanto a presidenciais, o "estudo" mostra relativamente o óbvio no "terreno" com o autor de Le Temps des Professeurs a "impor-se" ao referido PS (não terá sido  por acaso que o homem se formou por cá em teatro embora tal não conste das "biografias oficiais") antes que apareça o segundo homem ou a terceira mulher genuinamente "camarada"; com Henrique Neto, praticamente sem ninguém de jeito por trás, no encalço do centro-esquerda e manifestamente o único daí a poder embaraçar o artificialismo representado pelo emérito reitor; e com Marcelo, ainda por vir, como o preferido a partir do centro-direita para ir à conquista daquela "não esquerda" com a qual se ganham eleições. Dito isto, chove em Lisboa o que é bom para, pelo menos, a limpeza do pó.

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