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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

Não se constroem casas sobre a água

João Gonçalves 26 Mar 14

Boa noite e boa sorte, Mário.

Nem tudo foi mau

João Gonçalves 6 Fev 14

O uso da capa de um exemplar do DN indispôs a detentora do jornal com a editora do livro. Independentemente disso, a resolver porventura em outra sede, o conteúdo deste decerto contribuirá para tentar perceber o denominado PREC e o papel conspícuo de algumas pessoas "conhecidas", por exemplo, por mais "nóbeis" motivos. Muito antes do PREC, todavia, o tradutor e editor José Saramago prestou bons serviços à cultura portuguesa como Jorge de Sena atesta em carteio vário da época. Falta, pois, publicar, também em livro, a correspondência Sena-Saramago. Nem tudo foi mau.

Leve, amena, superficial

João Gonçalves 13 Nov 12

Entre outros, ando a ler o livro de Vargas Llosa A Civilização do Espectáculo, da Quetzal. Llosa é um homem que participa activamente nos debates contemporâneos sem a soberba de outros escritores que receberam o Nobel da literatura. Não segue a correcção política e isso, por vezes, vale-lhe o epíteto de reaccionário ou liberal o que na cabeça de determinados analfabetos é a mesma coisa. Em matéria de comunicação social e cultural, Llosa intui perfeitamente o que se passa sem se exceder em derrames inúteis. «Por iniciativa própria, o jornalismo dos nossos dias, seguindo o mandato cultural imperante, procura entreter e divertir informando, com o resultado inevitável de fomentar, graças a essa subtil deformação dos seus objectivos tradicionais, uma imprensa também light, leve, amena, superficial e que entretém, a qual, nos casos extremos, se não tiver à mão informações desta índole para relatar, ela própria as fabrica.»

"De referência"

João Gonçalves 24 Jun 12

 

Tenho lido muitas alusões a um chamado "jornalismo de referência". Certamente por deficiência minha, ainda não consegui entender o que é (e onde se encontra) esse "jornalismo de referência", quem é que e como é que se apura semelhante coisa, o que é que o distingue precisamente como "referência", etc., etc. Sempre aqui escrevi que não possuo o menor temor reverencial perante a actividade jornalística e que, neste como em qualquer outro sector, há muito bons, bons, sofrivéis, maus e muito maus profissionais. Para além de que se trata de uma área "especializada" em escrutinar tudo e todos e que não aprecia ser escrutinada, embora a última palavra sobre o "produto" seja a do cliente e a do mercado. Por isso não espanta que um jornal com as características comunicacionais do Correio da Manhã "bata" sistematicamente qualquer alternativa a que os "especialistas" chamariam "de referência". Até a circunstância de não ter cedido ao português "acordográfico" lhe é favorável. Há uns anos, no Expresso (um verdadeiro monumento nacional ao tal "jornalismo de referência"), Manuel Maria Carrilho perguntava o seguinte: «no mundo em que a informação se encontra totalmente mercantilizada, e não podendo invocar nem uma legitimidade eleitoral (como os políticos) nem uma legitimidade técnica (como a opinião pública [através das sondagens], a fonte da legitimidade jornalística aparece, sem dúvida, cada vez mais opaca: ela vem de onde, representa quem, responde perante o quê?» Boas perguntas de resposta complexa. Mas há mais. Esta opacidade, que muitos pelos vistos acham "de referência", traduz-se - continuo com Carrilho - «em geral num discurso que assenta no surrealista princípio de que «eles» é que sabem (e sempre melhor do que os que foram eleitos) o que «realmente» o povo sente e quer», arrogando-se «o direito - marcado por um tropismo ora policial, ora moralóide - de passar do registo dos confrontos de opinião para o das avaliações completamente subjectivas, tão expressivas como espúrias.» Este úlltimo aspecto é particularmente impressivo em certo comentarismo televisivo - prolongável ou não em papel - cujo paroxismo "tudológico" atinge, quase diariamente, patamares apenas risíveis. Em suma, "de referência" só mesmo alguns livros. 

 

«Tudo o que seja previsões de políticos, comentadores, governantes ou outros protagonistas mediáticos é valorizado em manchetes e títulos e citado em espiral de auto-referenciação noutros media. Haverá razões de carácter nacional para a obsessão com o futuro – o fado, a vivência no sonho – mas explico o fenómeno pelo comodismo. As previsões não implicam investigação, não remetem para quaisquer factos verificados. Não trazem maçadas de nenhum género a quem as reporta e quem as profere assegura protagonismo. Acontece que Passos é avesso a previsões. Em vez de prometer amanhãs que cantam, como outros políticos, tem preferido manter o seu discurso político no presente. Isso deveria ser bem-vindo, por trazer realismo e sensatez ao discurso político, mas é criticado por políticos, comentadores, incluindo do seu próprio partido, como Marcelo Rebelo de Sousa, e, mais espantosamente, por muitos jornalistas comentadores que parecem preferir políticos mentirosos aos que, mesmo escondendo verdades, pelo menos não mintam. Quando comentadores dizem que Passos deveria acentuar o "discurso da esperança", já se sabe que estão a sugerir ao primeiro-ministro que comece a mentir. Parte do jornalismo português, viciado nas mentiras cor-de-rosa do anterior governo, anda desaustinada com um primeiro--ministro que recusa aderir a essa má prática política e jornalística. Ele repete que não quer prever e prometer o que não pode. Mas os microfones sedentos de previsões não o largam. Quando esse jornalismo anseia que lhe contem mentiras, que se pode esperar dele?

 

A inscrição "Paços Coelho" na entrevista do primeiro-ministro na TVI não foi uma simples gralha. Assinalou uma total ignorância sobre a vida nacional. Este terá sido o erro gramatical mais gritante da última década, mas acontece tantas vezes em todos os canais que se trata já de uma característica estrutural da informação na TV portuguesa. Quando falo com jornalistas jovens, verifico que, faltando-lhes cultura geral, vêem-se à nora para escrever sobre matérias de que nada sabem — e não podem informar-se devidamente porque não lhes dão tempo para escrever. A proletarização dos jornalistas é responsável pela decadência, nos velhos e nos novos media, da prática jornalística, que de indústria cultural vai passando a indústria "desculturalizada".»

 

Eduardo Cintra Torres, Correio da Manhã

A BOA TENDÊNCIA DE QUERER DIZER A VERDADE

João Gonçalves 29 Out 11


Segundo julgo saber, o jornal Público vai dispensar a colaboração de Eduardo Cintra Torres, Helena Matos e Luís Campos e Cunha nas suas colunas de opinião. Não deixa de ser irónico. Qualquer deles distinguiu-se por evitar cair na tentação, dolosa ou ingénua, da "redacção única" que predomina, independentemente dos poderes do momento, nas matérias que trataram. Sobretudo nos derradeiros anos. Estou certo que outros media os saberão aproveitar nem que seja para desenjoar da mesmice predominante, alguma dela com acesso a praticamente todos os meios de comunicação social disponíveis e, a outra, apenas analfabeta, cretina ou irrelevante. Este blogue deve uns quantos dos seus posts ao Eduardo Cintra Torres ao reproduzir, com admiração e amizade, textos seus, ou parte deles, a partir do Público. Assim acontece desta vez que, seguramente, não será a última.

«Escrevi sempre com frontalidade, que é característica dos independentes. Não usei a crítica para recados ou subentendidos. Fui a direito. Ser frontal e independente, porém, tem um preço enorme em Portugal. É-se alvo de despedimentos, ataques e de insultos; muitas pessoas não entendem, ou não têm a educação para entender, que a frontalidade é, por natureza, bem educada; a frontalidade não dá "tachos", ao contrário do que tantas vezes li a meu respeito, antes rouba oportunidades e traz dissabores, incluindo processos judiciais e a interrupção de colaborações mediáticas, como me sucedeu há anos. Sempre considerei que o poder político não apreciava o meu trabalho nesta coluna, dado que os independentes, ao contrário dos lambe-botas, dos intolerantes e dos medrosos, são imprevisíveis e têm tendência a querer dizer a verdade, mesmo que sofram as consequências disso.»


Adenda: Ouço na antena1, rádio pública, duas criaturas (uma em Lisboa e a outra no Porto onde existe quase uma outra RTP) congratularem-se e rirem-se alarvemente com o fim da crónica semanal de Cintra Torres no Público. Mais. Um deles estava superiormente satisfeito por ter podido ir a tribunal testemunhar contra Cintra Torres. E o outro sugeria que o papel onde vinha impressa a crónica de CT nem para outros propósitos serviria. Não revelo nenhum segredo (vem nos relatórios e contas que são públicos) que a componente "rádio" da RTP custa presentemente à volta de 40 milhões de euros aos contribuintes. Para, entre outras coisas, exercícios de autocomplacência como estes?

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