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portugal dos pequeninos

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OS DEUSES TAMBÉM SE ABATEM

João Gonçalves 13 Mar 07


Esta é a versão oficial: Pinamonti recusou o convite. Mais tarde saberemos a verdadeira história. Trata-se da miserável crónica de uma demissão anunciada. As carpideiras, fartas de saberem o que se ia passar, anteciparam por uns dias o "requiem". Sou dos poucos que está à vontade sobre Pinamonti. Há quatro anos saí pelos meus próprios pés da direcção do Teatro Nacional de São Carlos a que ele presidia. Na carta de demissão que enviei aos então ministro e secretário de Estado da Cultura expliquei porquê. Não fui poupado pelas referidas carpideiras. Mal cheguei, pedi uma auditoria à gestão do Teatro a efectuar pelo Tribunal de Contas. Que eu saiba, até hoje nunca foi realizada. Defendi o encerramento provisório do Teatro para introduzir-se um módico de racionalidade, de eficiência e de controlo interno, acabando de vez com o arrastar de insustentáveis situações de facto de há muito instaladas. A resposta foi sempre "seguir em frente". Deste modo, o TNSC acumulou os erros da empresa pública, os erros da fundação do dr. Santana Lopes e da dra. Nogueira Pinto e os erros do instituto público. Mário Vieira de Carvalho vai agora somá-los todos na sua gloriosa OPARTE que, desde o ínicio, mereceu a crítica frontal dos directores artísticos do Teatro, Pinamonti, e da Companhia Nacional de Bailado, Ana Pereira Caldas. Resta saber quem são os monos disponíveis para tomar conta da OPARTE e do Teatro ao lado do novo director, antigo "intendente" da Ópera de Colónia. Certamente que não faltam candidatos, a começar pelos que inexplicavelmente ainda lá estão. Dito isto, Pinamonti prestou um relevante serviço à "cultura" deste pequenino país que abandona às mãos do caprichismo político-ideológico de uma "política cultural" protagonizada por dois "independentes" do PS, certamente com a complacência de Sócrates que deve perceber tanto de ópera como eu de russo. Os cortesãos que bajularam Pinamonti durante estes seis anos já devem estar a preparar-se para receber o novo director artístico. O governo foi um mau Wotan que quebrou a lança do guerreiro a meio da obra. O abraço que dei a Pinamonti no sábado à noite, depois da derradeira representação da "Valquíria" - um espectáculo emblemático e premonitório - pressentia-se o último. Dammann fica com o seu conterrâneo Wagner nos braços. Oxalá complete a "tetralogia" e que o "crepúsculo dos deuses" coincida com outros finais e maldições. Os deuses também se abatem.

O ESPLENDOR DA RENÚNCIA -4

João Gonçalves 6 Mar 07


Mais Valquíria. Três "leituras" completamente diversas do mesmo espectáculo - ainda no São Carlos na próxima quinta-feira, dia 8, e sábado, dia 10 - feitas por Augusto M. Seabra na "6ª" do Diário de Notícias, por Jorge Calado no Actual do Expresso, por Bernardo Mariano também no Diário de Notícias e pelo Henrique Silveira no Crítico. Os meus limitados conhecimentos informáticos e a falta de tecnologia adequada impedem-me de fazer links ou sequer reproduzir os dois primeiros. O de Mariano está algures numa anterior edição online do DN, ou seja, acessível. Não concordo inteiramente - nem sequer, por vezes, parcialmente - com tudo o que eles escreveram. Comecei no ensaio geral e vi mais duas récitas (voltarei no sábado). Digamos que a minha apropriação da coisa foi crescendo da dúvida da eficácia da encenação para a certeza de ter estado perante um belíssimo momento wagneriano ao qual, desculpem-me a imodéstia, estive "ideologicamente" ligado em 2003. Espero que o neo-realismo tardio da Ajuda não impeça as derradeiras jornadas tal como estão calendarizadas por Paolo Pinamonti e Graham Vick. Seria uma aberração cultural inexplicável e uma nódoa bem negra no brevíssimo currículo político do actual SEC.

Adenda: Por falar em SEC, o Ricardo Pais saiu por breves instantes do seu recolhimento nortenho - no S. João, do Porto - para atirar com o "limbo administrativo", em que alegadamente se encontra, à cara dos seus amigos na Ajuda. Pais é mesmo assim. Só fala quando a despensa começa a esvaziar. Está, diz ele, à espera da "entidade pública empresarial". Isto é, "massa", tenha lá o nome que tiver. Não andou ele com a tutela ao colo o ano passado e vice-versa? Telefone-lhes para o tirarem do limbo. Caramba, Ricardo, você já não é uma criança: ou o céu, ou o inferno. Escolha e acomode-se de vez.

O ESPLENDOR DA RENÚNCIA -3

João Gonçalves 25 Fev 07



O deus Wotan, o "senhor dos exércitos" e pai das Valquírias - são nove, mas Brünnhilde, filha de Wotan e de Erda, não é irmã uterina das outras oito - , deixou-se envolver pelo sortilégio do "ouro do Reno" no homónimo prólogo da tetralogia, cuja posse obriga a renunciar ao amor. Tudo gira, nestas quatro óperas, em torno da ambição, do amor, da renúncia, da solidão dos poderosos, o pathos para o "crepúsculo dos deuses" - anunciado por Erda no Prólogo - com que se encerra a tetralogia. Essa atracção pelo abismo começa logo na primeira jornada, presentemente em cena no São Carlos, com Wotan a reclamar "o fim" quando percebe que ele, o deus, é o menos livre de todos os homens. Menos do que Siegmund (também seu filho noutras "núpcias") cuja morte é exigida pela sua mulher, a deusa Fricka. É um Wotan impotente e dividido entre o poder e o amor que, no final da "Valquíria", reclama a vinda de um homem "mais livre do que ele, o deus". Será Siegfried, fruto do amor incestuoso de Siegmund e Sieglinde, e título da jornada seguinte da tetralogia. Wotan - como Brünnhilde, aliás - estão entre nós, simples e miseráveis humanos, e é esse o "sentido" da encenação de Graham Vick para o São Carlos, pejada de titãs solitários e de chiquérrimas "valquírias" que podiam perfeitamente ter sido vestidas por Yves Saint Laurent.

Nota: Fotos do 3º Acto de "A Valquíria", de Richard Wagner, numa encenação de Graham Vick para o Teatro Nacional de São Carlos. Até dia 10 de Março.

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