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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

Manifestações republicanas

João Gonçalves 11 Jan 15

 

Os franceses manifestam-se com frequência. Estava em Paris na semana que precedeu a segunda volta das presidenciais, em 2002, entre Chirac e Le Pen. Todos os dias houve uma manifestação. No dia 1 de Maio, fora as habituais alusivas ao dia, também a Frente Nacional atravessou a capital para se deter em frente à Ópera para ouvir, para aí durante cerca de três horas, o pai da actual líder. Em 45, imediatamente após a "Libertação", De Gaulle desceu os Campos Elísios com uma multidão atrás dele. Vinte e tal anos depois, com o país dividido na sequência dos episódios de Maio de 68, o "povo gaullista" juntou-se aos milhares numa "marcha patriótica" liderada por André Malraux de apoio ao presidente. No dia da sua posse, em 1981, Mitterrand subiu a Rua Soufflot a caminho do Panteão rodeado pelo "peuple de gauche" finalmente admitido na V República fundada por De Gaulle. Até o pobre Hollande encheu a Bastilha na noite da sua vitória. As "manifestações republicanas" são, pois, uma constante em França sobretudo desde a "diluição" do regime gaullista nos seus sucedâneos híbridos e nas "coabitações". Chirac arrecadou quase oitenta por cento dos votos na reeleição à conta disto. Apesar de Marine Le Pen ter sido recebida pelo Presidente no Eliseu, os "manifestantes republicanos" não a quiseram ver, ou aos seus, por perto nas ruas em defesa da liberdade. Erraram. Le Pen foi, e adequadamente, criticada pela sugestão acerca de um referendo sobre a pena de morte num país que só a aboliu com a emergência presidencial de Mitterrand. Mas também por ter reivindicado a revisão de Schengen. Aparentemente muitos responsáveis governamentais europeus pelas pastas da administração interna concordam com ela e pretendem "estudar" a matéria. Depois de vencer as "europeias", Marine Le Pen persiste desprezada pelos oligarcas da V República. Os avoengos haviam feito o mesmo a Mitterrand entre 1958 e 1981. Oxalá não se arrependam.

A vantagem gaulesa

João Gonçalves 31 Mar 14

 

Sem eleições presidenciais ou para a Assembleia Nacional, e após uma derrota brutal nas autárquicas, François Hollande nomeou um novo primeiro-ministro, Manuel Valls, um social-democrata do PS e, até agora, ministro do interior. Os problemas da França, salvaguardadas as devidas distâncias, são semelhantes aos nossos: desemprego, ausência de crescimento, diminuição do rendimento disponível. E os socialistas gauleses têm exercido o poder praticamente da mesma forma que os governos de centro-direita na Europa da chanceler Merkel. Infelizmente o sistema de governo doméstico não permite a substituição do primeiro-ministro nos termos constitucionais em que é possível fazê-lo em França. Porque, se fosse, Passos Coelho deveria ser substituído, depois das "europeias" e do encerramento formal do programa de ajustamento, por outra personalidade oriunda do PSD uma vez que não parece verosímil a ocorrência de eleições legislativas antes do próximo ano. O primeiro-ministro evidencia, sempre que pode e com aparente gosto, que se "esgota" politicamente no cumprimento do programa que termina em Maio e na consolidação orçamental, custe o que custar. Assim auto-limitado e auto-complacente, revela não possuir qualquer outro desígnio para o país que não seja o de puxar a vida das pessoas para baixo por conta de uns poucos "indicadores" variáveis para cima. É curto.

O vazio ocupado

João Gonçalves 23 Mar 14

 

Em França, nas autárquicas (1ª volta), o PS, no poder, desce, a UMP sobe e, sobretudo, sobem os partidários de Marine Le Pen que são eleitos à primeira como nunca imaginaram (e os "sistémicos" ainda menos o imaginavam do que eles) poder vir a ser. Mais dia menos dia, se calhar já na sequência das "europeias" de Maio, lá terão os "sistémicos" das esquerdas e das direitas gaulesas de apelar à "frente republicana". Cá é o "arco da governabilidade" que faz esse emplástrico papel de mais directo responsável, não por "sucessos" como os de M. Le Pen, mas pelo legítimo afastamento das pessoas em relação a uma vida pública acéfala e vazia.

 

Foto: Patrick Hertzog, AMP

A França num capacete

João Gonçalves 25 Jan 14

 

Consta que alguns assessores de Hollande recomendaram que o presidente passasse a declarar-se celibatário. A avaliar pela cara do Papa quando o recebeu no Vaticano, Hollande ainda não adquiriu institucionalmente esse estatuto. Na sua vida privada, aquela com quem ninguém tem nada a ver, fê-lo hoje. Se seguir as pisadas do seu antecessor, porém, não tardará em levar a chochinha que frequenta de motorizada para o palácio presidencial. Hollande, à semelhança do nosso dr. Passos, apresentou-se com uma pessoa "normal" por contraponto à nervoseira convencida instalada antes dele. Insistiu, aliás, no termo nos debates com Sarkozy. Mas, como praticamente todas as indistintas "elites" político-partidárias que governam a Europa, do Cabo Espichel aos mais recentes aderentes da "causa" europeia, Hollande revelou-se não tanto uma personalidade "normal" quanto uma personalidade vulgar. Aparentemente ninguém o leva muito a sério em casa ou na chamada "Europa" que ele tanto jurou vir mudar.  A França há muito que vinha perdendo o estatuto de "farol" intelectual e político que a distinguiu sobretudo a partir do fim do século XVIII. Mitterrand foi o último a preservar essa "herança" imaterial talvez porque a partir de certo momento, e pelos mais variados motivos, parecia intemporal e inatingível. Mais do que qualquer outra coisa, o famoso capacete de Hollande "oculta" algo que agora não existe e que De Gaulle designava por "uma ideia da França". A senhora Le Pen agradece.

O regresso da "mão direita de Deus"

João Gonçalves 21 Jan 14

 

«Hollande revelou-se um político banal. Daqueles que mentem, deliberadamente, para ganhar eleições. Mas, desta vez, Marx não tem razão. A comédia de Hollande não repete nenhuma tragédia anterior. Pelo contrário, antecipa uma calamidade que se tornará praticamente inevitável. Hollande acabou de oferecer não só a vitória nas Europeias à Frente Nacional como escancarou as portas da Presidência a Marine Le Pen. A crise vai deslocar-se da periferia para o coração da Europa, prometendo um espectáculo de "som e fúria". Todos seremos actores. Quer queiramos quer não.»

 

V. Soromenho-Marques, DN

A farpa no "consenso"

João Gonçalves 23 Jun 13

 

Em França, o "consenso" - essa palavra delicodoce tão para tudo quanto para nada - republicano ameaça romper-se com a emergência demasiado fulgurante de Marine Le Pen. Depois da desilusão centro-direita representada por Sarkozy, parece estar em marcha a desilusão centro-esquerda com Hollande. Para mais, Hollande ainda não encontrou (nem se sabe se a senhora deixará que ele, ou outro qualquer, encontre) o "tom" adequado para a Europa comandada por Merkel. Em 2002, entre a 1ª e 2ª volta das presidenciais, assisti em Paris, por acaso, a um desfile da Frente Nacional ainda com o pai Le Pen. O senhor falou quase três horas, em frente à Ópera, e ninguém arredou pé. Mais de dez anos depois, a filha segue a estratégia dos pequenos passos de Lenine e pode obter um resultado surpreendente nas europeias da Primavera que vem. Uma coisa dessas fatalmente obrigaria a Europa a, como diriam os nossos ensaístas de serviço, "revisitar-se" e a libertar-se forçosamente do torpor idiota que a atravessa. Às vezes há males que vêm por bem.

Este também não vai longe

João Gonçalves 30 Abr 13

Para citar John Le Carré - e o Hollande é apenas uma ilustração do que pretendo denotar e até pode ser que lhe passe -, «talvez a esperança esteja apenas naquilo que cada um de nós pode fazer.»

O 14 de Julho

João Gonçalves 15 Jul 12

 

Com um dia de atraso, a celebração do Dia Nacional da França: Julho de 1989, por ocasião do Bicentenário da Revolução Francesa promovido sob a égide de François Mitterrand, a Marselhesa dirigida por Georges Prêtre na abertura da Ópera da Bastilha.

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Entretanto em França

João Gonçalves 17 Jun 12

 

Como é impossível ver qualquer uma das televisões portuguesas, ligo a France2 para acompanhar as legislativas francesas. Hollande ganha em toda a linha - maioria absoluta para o PS sem necessidade de apêndices- salvo em La Rochelle onde Ségolène Royal, ódio de estimação da actual Mme. Holande, perdeu e, por consequência, não entra na Assembleia Nacional. Jack Lang, ex-ministro da cultura de Mitterrand, também não. E o centrista Bayrou também não. Marine Le Pen ficou de fora mas alguém da Frente Nacional vai sentar-se lá (por exemplo, a neta de Le Pen, Marion). Mitterrand, que acreditava nas forças do espírito, lá onde quer que se encontre tem motivos para sorrir.

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As mulheres de Hollande

João Gonçalves 13 Jun 12

A mulher é lindíssima e amplamente charmosa. Como lhe compete, não suporta a antecessora na vida afectiva do companheiro. Sucede que o companheiro - que termo mais horroroso herdado dos partidos comunistas em que são todos "companheiras" e "companheiros" em vez de mulheres, maridos ou amantes - é o Presidente da França e a antecessora, a infeliz Ségolène Royal, quer presidir à Assembleia Nacional, quem sabe, para seguir o exemplo da nossa Dra. Assunção apesar de, em França, o cargo corresponder protocolarmente ao quarto lugar da hierarquia do Estado. Ségolène fez de paraquedista numa circunscrição, La Rochelle, que nunca foi a dela e passou pela humilhação de o candidato local do PS (que o era há anos) a ter colocado em "ballotage" o que para uma aspirante a presidente da AN é um péssimo prenúncio. Hollande apoia a ex-mulher e a actual o senhor do PS local. Parafraseando um dito popular por forma a não chocar os leitores, as mulheres em sendo muitas tiram o ganho umas às outras. Como escreve Júlio de Magalhães no seu blogue, «apetece dizer:  "Antes levassem homens".»

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