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portugal dos pequeninos

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A ABSTENÇÃO OU A GERAÇÃO DE OLHAR VAZIO

João Gonçalves 18 Jan 11


Uma das mais notórias "marcas" da presente campanha presidencial é a ausência da juventude. Não ando atrás de ninguém, na rua, mas pelo que vejo nas televisões, apenas gente de meia idade e rematados velhos se apresentam junto dos candidatos, seja expontaneamente, seja "enquadrados" pelas campanhas. As famosas "ondas" desapareceram porque a maioria que as formava - os "jovens" - ou está desempregada ou anda a esfolar os dois ou três neurónios que possui nos cursos de Bolonha e derivados precisamente para acabar no desemprego como os primeiros. Pela primeira vez a "juventude" está-se nas tintas para ser "cívica". À excepção dos moços das juventudes partidárias (de topo), o resto contempla-se no espelho da sua voluntária ou involuntária inutilidade narcísica. O grosso da abstenção virá destes neófitos de olhar vazio que desdenham a ideia de votar tal como desdenham, aliás, qualquer "ideia". O pacote da democracia - e os seus miseráveis enredos dos últimos anos - produziu esta "estirpe" alienada em torno do umbigo e de meia dúzia de amigos equivalentes. Não adianta explicar-lhes que nunca teriam chegado ao que são se não fosse esse gesto aparentemente frívolo, praticável de vez em quando, o do voto, sinal de maturidade e de responsabilidade. Quando vemos, porém, pseudo opinion makers tarimbados a apelar nos jornais e nas televisões à abstenção, com que autoridade podemos sugerir a estes zombies que se incomodem? Votar é tão direito como não votar. Mas a lamúria idiota contra o abstracto "eles" só vale se o direito - que é igualmente um dever - for exercido. O resto vem das palavras do esquerdista Sartre que escrevia muito bem apesar de zarolho. Deslizem mortais, não façam peso.

Adenda: Por falar em opinion makers, e até porque não tenho sido brando com ela ultimamente, é justo realçar as intervenções diárias de Constança Cunha e Sá na tvi24 acerca das eleições presidenciais. Ao contrário dos demais, Cunha e Sá tem tido pelo menos o mérito de "espevitar" os espectadores no sentido de lhes demonstrar que, por mais medíocre que ela seja, está em curso uma campanha e que no domingo devem ir votar. Para além de não se cansar de notar que, verdadeiramente, só uma pessoa está a concorrer a Belém e que o resto "concorre" apenas contra essa pessoa. Chama-se a isto campanha negativa e não consta que dê bons resultados.
Adenda2: A Helena Matos conta como a tsf "apela" à abstenção já que não pode transmitir directamente do Rato. Na antena1 a coisa é mais soft, apesar do "profissionalismo" regimental de Flor Pedroso e respectivos acólitos e acólitas.

29 comentários

De joshua a 18.01.2011 às 23:45

Essa dos neurónios acertou em cheio em muita gente ressabiada e com má consciência.

De NJ a 18.01.2011 às 23:51

O um ou dois neurónios do bloguista, perdem-se na primeira campanha eleitoral. Nos "intermezzos" cita e diz que quer outra coisa. Isto de pertencer a um partido político como ao Beira-Mar torra a pequenina credibilidade a que aspira. Prá frente Portugal.Sem remorsos.

De NJ a 18.01.2011 às 23:55

Votem no dito cujo e já são portadores de 5 ou 7 neurónios. Há certos espíritos que se encontram sempre na primeira esquina.

De Anónimo a 19.01.2011 às 00:09

Tas a ver JG, não te podes meter assim à toa com os putos da universidade. Nem todos são da tuna...
Alguns têm 2 ou 3 tomates...

De Anónimo a 19.01.2011 às 08:45

2 ou 3 neurónios não chegam para ir para a rua queimar carros e partir montras, a única solução para esta merda toda.

mas chegam para mandar alguém para o caralho.

eis, portanto, a razão do nosso eterno problema...

Rita

De João Gonçalves a 19.01.2011 às 12:22

Vá, já chega de pessoal com 2 ou 3 neurónios. Abram espaço para os de um. Força.

De Anónimo a 19.01.2011 às 14:42

O ritinha, queimar carros e partir montras não é solução. E se essa imagem veio de PAris era com estudantes . Em portugal, quando queimaram carros foi em bairro social, morenos escuros desenraizados, em resposta a rusgas de droga.

De Anónimo a 19.01.2011 às 20:40

Exactamente. Por termos chegado onde chegamos não vou votar.

É pena que a presunção e a perspicácia nem sempre andem de mãos dadas. Para alguém que se assume como um pequeno savant (idiota sábio?) da blogosfera, é pena que recorra a lugares comuns como a "responsabilidade" e "maturidade" para definir um acto (votar) que tem sido marcado mais pela ignorância e idiotice do que por essas virtudes que apregoou.
Advoga um sistema no qual idiotas, muitos de um ou dois neurónios decidem o futuro de simples inocentes.

Condescendência e presunção de velho não me interessa- para isso já basta andar de autocarro. Sistema de idiotas também não.
Por isso não vou votar e apelarei a toda a gente para não votar. Não há nada que chateie mais as almas moralistas do sistema...

Tiago

De Miguel Vaz a 20.01.2011 às 14:57

Aqui vai o postal que publiquei no meu blogue, em resposta a este texto (http://minoria-ruidosa.blogspot.com/2011/01/morte-credito.html)

Morte a Crédito
É demasiado fácil cair na tentação de reduzir a juventude portuguesa a uma geração com «dois ou três neurónios», que vegeta nas universidades pacientemente à espera de um bilhete para o desemprego, como faz o João Gonçalves. Não me parece que as coisas sejam assim tão lineares. Existe efectivamente uma apatia generalizada quanto à vida partidária, já que aprendemos a não esperar nada dos políticos. A minha geração cresceu a prosperidade dos anos 90, entre promessas de que teríamos todos direito a cumprir os nossos sonhos, com um bom emprego e outras comodidades incluídas. Pouco a pouco, aprendemos que a realidade não é tão cor-de-rosa. O facto de a juventude estar afastada dos políticos não quer dizer que viva a contemplar-se «no espelho da sua voluntária ou involuntária inutilidade narcísica». Pelo contrário, apesar do fosso cada vez maior entre a juventude e o sistema, a minha geração está atenta, mais atenta do que muita gente pensa (e desejaria). Já não se deixa enganar tão facilmente. A abstenção, neste caso, não é um sinal de alheamento ou ausência de ideias. É uma afirmação de que este sistema já não serve.

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