Uma das mais notórias "marcas" da presente campanha presidencial é a ausência da juventude. Não ando atrás de ninguém, na rua, mas pelo que vejo nas televisões, apenas gente de meia idade e rematados velhos se apresentam junto dos candidatos, seja expontaneamente, seja "enquadrados" pelas campanhas. As famosas "ondas" desapareceram porque a maioria que as formava - os "jovens" - ou está desempregada ou anda a esfolar os dois ou três neurónios que possui nos cursos de Bolonha e derivados precisamente para acabar no desemprego como os primeiros. Pela primeira vez a "juventude" está-se nas tintas para ser "cívica". À excepção dos moços das juventudes partidárias (de topo), o resto contempla-se no espelho da sua voluntária ou involuntária inutilidade narcísica. O grosso da abstenção virá destes neófitos de olhar vazio que desdenham a ideia de votar tal como desdenham, aliás, qualquer "ideia". O pacote da democracia - e os seus miseráveis enredos dos últimos anos - produziu esta "estirpe" alienada em torno do umbigo e de meia dúzia de amigos equivalentes. Não adianta explicar-lhes que nunca teriam chegado ao que são se não fosse esse gesto aparentemente frívolo, praticável de vez em quando, o do voto, sinal de maturidade e de responsabilidade. Quando vemos, porém, pseudo opinion makers tarimbados a apelar nos jornais e nas televisões à abstenção, com que autoridade podemos sugerir a estes zombies que se incomodem? Votar é tão direito como não votar. Mas a lamúria idiota contra o abstracto "eles" só vale se o direito - que é igualmente um dever - for exercido. O resto vem das palavras do esquerdista Sartre que escrevia muito bem apesar de zarolho. Deslizem mortais, não façam peso.
Adenda: Por falar em opinion makers, e até porque não tenho sido brando com ela ultimamente, é justo realçar as intervenções diárias de Constança Cunha e Sá na tvi24 acerca das eleições presidenciais. Ao contrário dos demais, Cunha e Sá tem tido pelo menos o mérito de "espevitar" os espectadores no sentido de lhes demonstrar que, por mais medíocre que ela seja, está em curso uma campanha e que no domingo devem ir votar. Para além de não se cansar de notar que, verdadeiramente, só uma pessoa está a concorrer a Belém e que o resto "concorre" apenas contra essa pessoa. Chama-se a isto campanha negativa e não consta que dê bons resultados.
Adenda2: A
Helena Matos conta como a
tsf "apela" à abstenção já que não pode transmitir directamente do Rato. Na
antena1 a coisa é mais soft, apesar do "profissionalismo" regimental de Flor Pedroso e respectivos acólitos e acólitas.