Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]

portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

Política branca

João Gonçalves 30 Nov 14

 

As últimas prestações do governo e, sobretudo, do primeiro-ministro devidamente concatenadas com as do novo secretário-geral do PS e candidato à substituição de Passos Coelho revelam duas coisas. A primeira, é que já não temos um governo a não ser em efectividade formal de funções: ficou "desempregado" com o final do PAEF e limita-se a fazer a sua pobre campanha eleitoral com o que tem. A segunda, é que ainda não temos sequer um assomo de um eventual governo personificado em António Costa depois do seu congresso politicamente "branco". Apesar das lamechices de circunstância, Costa é tão frio e desprovido de estados de alma como Passos. Viu-se no ensimesmamento aparelhístico, nas "unanimidades" das votações, na "unidade" imposta e na rasura dos derradeiros três anos de Seguro. Costa "regressou" a 2011 e até promoveu aos cumes partidários o pior do "socratismo" como, aliás, era previsível já que o actual grupo parlamentar sempre foi mais leal a esse passado recente do que a Seguro. Aparentemente o PS "virou" à esquerda mas Costa não hesitará em outras "alianças" se for necessário. Nem sequer faltou o "momento Fernando Nobre" com Sampaio da Nóvoa (quem?) que foi à FIL oferecer-se descaradamente para o que fosse preciso, isto é, para tirar o PS dos apuros presidenciais em que se vai ver enfiado. Passos "dos últimos dias" e Costa dos próximos, como o tempo se encarregará de mostrar, apenas têm contribuído para afastar deles o eleitorado que confere as maiorias absolutas. Em abono da verdade, nenhum a merece.

A agenda

João Gonçalves 29 Nov 14

 

«Nem hoje nem daqui a um ano se deve esperar o que na aparência esperam o dr. António Costa, várias submissas personalidades do PS e os políticos que se desunham por aí a repetir os lugares-comuns sobre o amor da democracia e a separação do judicial e o executivo. O país já está farto deles. Desconfio que eles próprios estão fartos de si mesmos. Nas tabernas, nos cafés, nas lojas, em cada casa e em cada emprego não se discutirá outra coisa senão a culpa ou a inocência de Sócrates. Ninguém lerá uma linha ou pensará um segundo nos programas dos partidos (para uma década ou para um século) ou pensará um segundo no que eles disserem sobre a salvação da Pátria. A Pátria empobrecida e sem muita esperança de enriquecer tão cedo substituiu a ideia de “enriquecer” pelo rancor aos políticos que a levaram a esta situação, venham eles de onde vierem e tragam o que trouxerem. O que o eleitorado quer é meia dúzia de bodes expiatórios – capítulo em que Sócrates, para mal dele, tirou o principal lugar a Pedro Passos Coelho. Quando se passa miséria e fome, ninguém se lembra de discutir o défice ou a maravilhosa “diminuição” do desemprego, em 2,1%. Não existe maneira de insultar o défice ou de exaltar uma teórica descida do desemprego. Mas sem dúvida que existe maneira de aliviar a raiva insultando ou louvando uma pessoa. E a raiva irá por uns tempos mandar em Portugal. Não tardará muito que a Internet se encha de centenas de abaixo-assinados, de protestos, de cartas e até de subscrições para acudir às dificuldades da família do motorista Perna. Mais tarde ou mais cedo, os notáveis de Lisboa ou de Alvaiázere (e quem nesta terra não é notável?) não resistirão a opinar sobre o caso; e outros notáveis responderão aos primeiros com diatribes sangrentas. Acredito que Passos Coelho e António Costa se esforcem os dois para discutir problemas sérios. Resta saber quem se ralará com essa retórica petrificada e, no fundo, inútil.»

 

Vasco Pulido Valente, Público

Parte da história

João Gonçalves 29 Nov 14

A "história" do longo mês político de Julho de 2013 ainda não está totalmente contada.  No livro da foto, Álvaro Santos Pereira dedica-lhe algumas páginas de um texto maioritariamente destinado ao inventário do seu mandato como ministro da economia e emprego do XIX governo constitucional. Independente, "estrangeirado", desapetrechado do "armamento" dos mandarinatos partidários, Santos Pereira viveu os seus dois anos de governante praticamente em solidão política. "Entalado" entre a "ditadura" das finanças protagonizada por Gaspar, as ambições de Portas como super caixeiro-viajante do governo para tudo o que cheirasse a uma bela fotografia "económica" e a "lugares", os interesses dos "donos" do regime sob sua tutela que nunca cessaram de conspirar para o remover e, sobretudo, pela complacência sonsa de Passos Coelho com este estado de coisas, o então ministro da economia, mesmo assim, consegue exibir a crédito - independentemente do maior ou menor "fundo" ideológico, ou sucesso, delas - a maior parte das únicas "reformas" perpetradas pelo executivo. Bem como o ter-se sempre atravessado pela concertação social que outros desprezavam com a "desculpa" da tão suspirada "falta de peso político" do ministro. Na noite de 2 de Julho de 2013, Passos Coelho ficou célebre por uma frase: "não abandono o meu país". Como se viu a seguir, o que ele quis dizer foi "não permito que o dr. Portas me abandone e entrego de bandeja as cabeças que foram necessárias, mesmo as mais sérias e com sentido de serviço público ou as de amigos meus a quem muito devo estar aqui, a bem de mais dois anos desta farsa coligatória que controlo com folhas Excel". O "caro Pedro" do seu livro, caro Álvaro, tem muito que se lhe diga.

O essencial

João Gonçalves 28 Nov 14

 

«Nunca gostei da personagem política “José Sócrates”, desde a campanha para secretário-geral do PS (em que ele prometeu não aumentar impostos que, de facto, aumentou) até à sua ascensão a primeiro-ministro, muito ajudado por Pedro Santana Lopes e pela reputação de autoritário que entretanto adquirira. Não tranquiliza particularmente ser governado por um indivíduo que se descreve a si mesmo como um “animal feroz”, nem por um indivíduo que prefere a força política e legal à persuasão e ao compromisso. Se o tratam mal a ele agora, seria bom pensar na gente que ele tratou mal quando podia: adversários, serventes, jornalistas, toda a gente que tinha de o aturar por necessidade ou convicção. Sócrates florescia no meio do que foi a sufocação do seu mandato. O dr. António Costa quer hoje separar os sarilhos de um alegado caso criminal do seu antigo mentor da política do Partido Socialista e do seu plano para salvar a Pátria. O que seria razoável, se José Sócrates não encarnasse em toda a sua pessoa o pior do PS: o ressentimento social, o narcisismo, a mediocridade, o prazer de mandar. Claro que, como qualquer arrivista, Sócrates se enganou sempre. Começou pelos brilhantíssimos fatos que ostentava em público, sem jamais lhe ocorrer se as pessoas que se vestiam “bem” se vestiam assim. Veio a seguir a “licenciatura” da Universidade Independente, como se aquele papel valesse alguma coisa para alguém. E a casa da Rua Braamcamp, que é o exacto contrário da discrição e do conforto e último sítio em que um político transitoriamente reformado se iria meter. Depois de sair do Governo e do partido, Sócrates mostrava a cada passo a sua falsidade, não a dos negócios, que não interessam aqui, mas da notabilidade pública, por que desejava que o tomassem. Resolveu estudar em Paris, para se vingar da humilhação do Instituto de Engenharia e da Universidade Independente, e resolveu fazer um mestrado em “Sciences Po”, sem perceber que o mestrado é uma prova escolar de um estatuto irrisório. Em Paris, viveu no “seizième”, o bairro “fino”, como ele achava que lhe competia, e, de volta a Lisboa, correu para a RTP, onde perorava semanalmente para não o esquecerem: duas decisões ridículas que só serviram para o prejudicar, embora estivessem no seu carácter. Como o resto do país, não sei nem me cabe saber se o prenderam justa e justificadamente. Sei – e, para mim, chega – que o homem é um fingidor.»

 

Vasco Pulido Valente, Público: "Um fingidor"

Uma estucha

João Gonçalves 27 Nov 14

O dr. Passos acabou de conceder mais uma entrevista em S. Bento para praticamente nada a não ser cumprir um compromisso "antigo" com a RTP. Com a chuva, os pavões devem estar recolhidos e não tivemos direito ao seu belo pupilar. Em compensação, o dr. Passos não nos privou do seu magnífico "financês" com que, de uma forma geral, aprecia exprimir-se e com o qual, presumo, espera ganhar as eleições. Durante o exercício mudei várias vezes de canal precisamente por não poder mudar o dr. Passos. Uma estucha.

"J'accuse"?

João Gonçalves 27 Nov 14

 

Sei, como agora se diz, de "fonte segura" que José Sócrates me considerava - ao nível da blogosfera porque não havia nem nunca houve outro -, cito, "um dos meus (seus) maiores inimigos". Por razões várias, incluindo do foro da deontologia profissional, não direi uma palavra sobre o processo que o envolve. Registo, todavia, os termos da defesa conspícua da sua honorabilidade para a chamada memória futura. E, de tudo o que lá vem, registo ainda com maior interesse a conclusão: «este processo só agora começou.» Será que, "pela primeira vez na nossa história" (expressão leviana repetida à exaustão nos últimos dias), vamos assistir a um ersatz à nossa medida do "caso Dreyfus" na opinião pública portuguesa? Talvez não fosse mau para a desencarcerar de vez de "convicções indesmentíveis" venham elas de onde vierem.

Coisas por explicar

João Gonçalves 26 Nov 14

 

Como escreve um leitor, «a questão da aquisição dos direitos dos jogos da liga dos campeões (pela RTP) ainda está por explicar. Talvez seja só "manha", mas brincar com dinheiro publico desta forma não é bonito. Continuemos à espera de alguma justificação válida para esta despesa.» Talvez o primeiro-ministro possa dar a sua "visão" acerca da matéria na entrevista que amanhã concede à televisão pública. Por outro lado, foi aprovado pelo parlamento o OE para 2015 com, entre outros, quatro votos contrários dos deputados do PSD eleitos pela Madeira. Montenegro murmurou "consequências" e Marco António Costa, o actual alter ego do dr. Passos para o partido, anunciou  solenemente, com uma gravitas mais adequada a um "comité central" do que a uma "comissão permanente" de um partido social-democrata, que ia "participar" a coisa ao conselho jurisdicional respectivo para que os refractários possam ser processados internamente e, ainda com Montenegro a pairar, "consequentemente" punidos. Também seria interessante perguntar ao dr. Passos para que é que servem deputados eleitos pelas Regiões Autónomas e quem é que eles representam - se os seus eleitores nessas Regiões ou os preclaros Marco e Montenegro, por exemplo. Coisas por explicar.

Por dever não administrativo

João Gonçalves 25 Nov 14

 

Como escreveu o José Medeiros Ferreira, «havia muita gente escondida debaixo da mesa quando Ramalho Eanes se ergueu contra o medo por dever não administrativo. Fê-lo com serenidade, conta, peso e medida. Não esmagou ninguém com a sua coragem pessoal e política. Muitos heróis só apareceram depois.» Ergueu-se no dia 25 de Novembro de 1975. Para as pessoas da minha geração, Eanes é o exemplo do patriota não patrioteiro, do homem e do militar decente, austero e firme, sem nunca deixar de ser afectivo, corajoso, moral e fisicamente, de alguém que sempre deu mais ao país sem nunca esperar que o país lhe devolvesse o que quer que fosse a título de gratidão ou prebenda. Nunca se exibiu no fogo fátuo onde tantos, antes e depois de ele, se imolaram sem regresso ou grandeza. Foi contra ele, aliás, que os partidos ditos do "arco da governação" esquadrinharam os parcos poderes presidenciais que estão presentemente na Constituição - e que o incumbente tem feito quase tudo para os tornar ainda mais espúrios e facultativos com a sua presidência minimalista - dos quais já só falta retirar o poder à soberania popular para escolher, de forma directa e universal, o Chefe do Estado. Eanes não criou em torno de si uma hagiografia patética e sectária nem se declinou "pai da pátria" quando teve todas as condições para o fazer entre 1976 e 1983. Em 1976, aquando da campanha que o elegeu livremente o primeiro Presidente da República depois do "25 de Abril", Sophia de Mello Breyner acompanhou-o numa acção nos Açores. Quando chegaram a São Miguel, tinham à espera uma meia dúzia de provocadores separatistas. Em O Jornal, Sophia referiu a coragem com que Eanes avançou sozinho em direcção aos ditos separatistas e lhes lançou, calando-os: quem vos pagou? E escreveu que Portugal precisava de alguém como Eanes para viver a liberdade com coragem e austeridade. Alguém que, como diz um verso seu, deposite em cada gesto "solenidade e risco".

"Crónica do tempo que passa"

João Gonçalves 24 Nov 14

 

«Às vezes, quando penso nos homens célebres, sinto por eles toda a tristeza da celebridade. A celebridade é um plebeismo. Por isso deve ferir uma alma delicada. É um plebeismo porque estar em evidência, ser olhado por todos inflige a uma criatura delicada uma sensação de parentesco exterior com as criaturas que armam escândalo nas ruas, que gesticulam e falam alto nas praças. O homem que se torna célebre fica sem vida íntima: tornam-se de vidro as paredes da sua vida doméstica; é sempre como se fosse excessivo o seu traje; e aquelas suas mínimas acções - ridiculamente humanas às vezes - que ele quereria invisíveis, coa-as a lente da celebridade para espectaculosas pequenezes, com cuja evidência a sua alma se estraga ou se enfastia. É preciso ser muito grosseiro para se poder ser célebre à vontade. Depois, além dum plebeísmo, a celebridade é uma contradição. Parecendo que dá valor e força às criaturas, apenas as desvaloriza e as enfraquece. Um homem de génio desconhecido pode gozar a volúpia suave do contraste entre a sua obscuridade e o seu génio; e pode, pensando que seria célebre se quisesse, medir o seu valor com a sua melhor medida, que é ele-próprio. Mas, uma vez conhecido, não está mais na sua mão reverter à obscuridade. A celebridade é irreparável. Dela como do tempo, ninguém torna atrás ou se desdiz. E é por isto que a celebridade é uma fraqueza também. Todo o homem que merece ser célebre sabe que não vale a pena sê-lo. Deixar-se ser célebre é uma fraqueza, uma concessão ao baixo-instinto, feminino ou selvagem, de querer dar nas vistas e nos ouvidos. Penso às vezes nisto coloridamente. E aquela frase de que "homem de génio desconhecido" é o mais belo de todos os destinos, torna-se-me inegável; parece-me que esse é não só o mais belo, mas o maior dos destinos. Diz-se que os herméticos da Rosa-Cruz, seita esotérica e magista, descobriram, desde o início dos tempos, o segredo da vida-eterna, o elixir da vida; que, nunca morrendo, passam de época em época, através dos ciclos e das civilizações, despercebidos, nenhuns e, contudo, pela grandeza da cousa transcendental que criaram, maiores do que os génios todos da evidência humana. Da sua seita é o preceito, que cumprem, de se não darem nunca a conhecer. A sua presença eterna, que vive à margem da nossa transiência, vive também fora da nossa pequenez. Vão-se-me os olhos da alma nessas figuras supostas - e quem sabe a que ponto reais? - que, verdadeiramente, realizam o supremo destino do homem: o máximo do poder no mínimo da exibição; o mínimo da exibição, por certo, por terem o máximo do poder. O sentido das suas vidas é divino e longínquo. Apraz-me crer que eles existam para que possa pensar nobremente da humanidade.»

 

Fernando Pessoa

Pág. 1/5

Pesquisar

Pesquisar no Blog

Últimos comentários

  • João Gonçalves

    Primeiro tem de me explicar o que é isso do “desta...

  • s o s

    obviamente nao é culpa do autor ter sido escolhi...

  • Anónimo

    Estou de acordo. Há questões em que cada macaco se...

  • Felgueiras

    Fui soldado PE 2 turno de 1986, estive na recruta ...

  • Octávio dos Santos

    Então António de Araújo foi afastado do Expresso p...

Os livros

Sobre o autor

foto do autor