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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

O QUE NÓS SOMOS

João Gonçalves 25 Mar 07


Marcelo deu uma valente "sova" em Paulo Portas. Em síntese, explicou que, com os mesmos de 2002/2005, a "direita" não vai a lado nenhum em 2009. Não iria na mesma. Um dos problemas mal resolvidos da direita é julgar-se "herdeira" de uma "tradição" não-salazarista que nunca chegou a existir. Marcello, o outro, existiu pouco e o pouco que existiu pode resumir-se a um título sádico: os infortúnios da virtude. Os seus epígonos nunca passaram de satisfatórios académicos e de políticos infelizes. A direita é "centrona" porque tem medo do fantasma do Doutor Salazar. O único serviço público que a RTP pode prestar ao país com o concurso da D. Elisa, "Os Grandes Portugueses", é anunciar a "vitória" do homem que moldou o país que somos. Ele apareceu depois da ditadura da República - contra ela - ficou à frente da sua durante quase meio século, gerou toda a oposição ao Estado Novo, desde o PC até à oposição "burguesa" - a do exílio e a das prisões - e fermentou as Forças Armadas que o derrubaram depois de morto. Salazar não é um português maior do que qualquer outro. Foi-o, de facto, nos primeiros anos. Agora é apenas o que nós somos.

GRANDES COMEÇOS

João Gonçalves 25 Mar 07

"Sou cego, mas não sou surdo. E porque a minha desgraça não é completa, ontem fui obrigado a ouvir, durante quase seis horas, um auto-intitulado historiador cuja descrição do que os Atenienses gostam de chamar "as Guerras Persas" era um disparate de tal ordem que, se fosse menos velho e tivesse mais privilégios, ter-me-ia levantado do lugar, no Odeon, e escandalizado Atenas inteira com a resposta que lhe daria."

Gore Vidal, Criação

EUROPA - 2

João Gonçalves 25 Mar 07

Oh José Medeiros Ferreira, não me diga que só agora reparou nisso, depois de tantas presenças no programa da "sotora" Campos Ferreira. A suprema ironia do dia - Europa, remember? - é o Doutor Salazar "derrotar", na "sua" eterna RTP, a SIC-Notícias "democrática" que, sensivelmente à mesma hora da "final" da D. Elisa, entrevista Mário Soares.

EUROPA

João Gonçalves 25 Mar 07


Para comemorar os cinquenta anos do Tratado de Roma, encontram-se em Berlim todos os basbaques que dirigem presentemente a Europa. Os "pais" da ideia devem dar voltas nos respectivos túmulos quando se vêem representados por tanta nulidade política e humana. Já são vinte e sete e, se a loucura turca o permitir, qualquer dia só param na Rússia. Com aquele ar atrevido de miúdo a meio caminho entre a Cova da Piedade e Bruxelas, o presidente da Comissão Europeia desfez-se em entrevistas e "ideias" para garantir o seu lugarzinho na "história". Ultimamente "agarrou-se" ao ambiente como se não estivéssemos todos mortos a prazo, apesar das milionárias conferèncias do sr. Gore. Por cá, não houve luminária esclarecida ou analfabeta que não "botasse" discurso ou prosa sobre a Europa. Do "rapto" mitológico até ao governo sem rosto de Bruxelas, o regime esteve e há-de estar bem representado durante o dia nos jornais e nas televisões. Por isso me apetece escrever sobre Francisco Lucas Pires. Lucas Pires foi meu professor e, atrevo-me a dizer, alguém com quem sempre mantive uma enorme cumplicidade intelectual. Conheci-o aos dezoito anos e despedi-me dele, sem o saber, horas antes da sua estúpida morte em 1998. Foi nele em quem votei nas primeiras eleições para o Parlamento Europeu, em 1987, no mesmo dia em que Cavaco Silva arrebatava a primeira maioria absoluta. Nessa altura Pires já tinha sido presidente do CDS - o Paulo Portas, nos corredores da Católica, em 83, exibia com orgulho o seu "liberalismo" através de um auto-colante com o rosto de FLP colocado na lapela- e era, com sucesso, o nosso bem preparado deputado europeu que trouxe a Lisboa os seus amigos do PPE para essa campanha. FLP era um homem de pensamento e, enquanto tal, produziu provavelmente a única mais-valia que o CDS teve nesse campo - o saudoso "grupo de Ofir" - a que também pertenceu o José Adelino Maltez. No PREC, forneceu ao partido uma teorização sobre a constituição ideal ("Uma Constituição para Portugal"), escreveu artigos para uma das melhores revistas de pensamento político da época, a "Democracia e Liberdade", e dava aulas com uma lucidez adivinhativa e tímida própria dos melhores. Nunca foi um político de acção ou de intriga e, como tal, não escapou à tortura das novas e das velhas nomenclaturas do regime e do seu próprio partido. Gostava mais dos homens do que apreciava as suas "arrumações" partidárias concretas e isso foi-lhe fatal. Foi finalmente deputado europeu pelo PSD e alvo do escarninho público de muitos alarves que transformaram o CDS em PP e o PP num circo, bem como de muitos inquisidores de pacotilha cheios de esqueletos no armário. Até Portas arrebatou um orgasmo televisivo contra ele num daqueles seus frenéticos momentos de falso moralismo político. Ontem, ao limpar uma estante de papéis e de jornais inúteis (de vez em quando há que deitar fora partes definitivamente mortas da nossa vida), apeteceu-me reler o livrinho de Lucas Pires na colecção "O que é", neste caso, a "Europa", com um prefácio de Eduardo Lourenço (Difusão Cultural). E ocorreu-me a falta que homens como ele fazem à nossa medíocre vida pública, tão poluída por tantos arrivistas e ignorantes esquecíveis. FLP tratou de "pensar a Europa" num momento em que, cá dentro, toda a gente se preparava para se servir dela. Homens como ele não têm "herdeiros". A gente que se bamboleia entre cá e lá em nome da burocracia de Bruxelas, não lhe alcança sequer os calcanhares. Francisco Lucas Pires chegou cedo demais e partiu cedo demais. Nunca o chegámos a merecer.

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