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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

NÓS

João Gonçalves 11 Fev 07


Parece, a avaliar pelas esclarecidas declarações de membros do governo, do dr. Louçã, do prof. Rosas e do sr. Jerónimo de Sousa, que entrámos na civilização do século XXI depois das 20 horas de hoje, seja lá o que isso for. Para outros, andámos para trás nesse momento fatal. Modestamente, acho que estamos exactamente no mesmo ponto em que sempre estivemos. E o primitivismo não se referenda.

OS COLABORACIONISTAS (versão final)

João Gonçalves 11 Fev 07

Uma das coisas mais desagradáveis da campanha que hoje culminou no voto, foi ver que nem toda a gente que se envolveu nela directamente percebeu de que lado estava. Explico-me. Amanhã, ou o mais tardar depois de amanhã, o país tal como ele é volta às nossas vidas em todo o seu horrível esplendor. Começa, finalmente, o pior ano da legislatura - não me digam que ainda não tinham percebido a evidência- e aquele que poderá salvar ou crucificar o governo e a maioria do espartano Sócrates. Muita gente válida do lado da denúncia e da crítica impiedosas (não conheço outras) ao manto diáfano de fantasia em que o PS e o governo nos pretende envolver com o seu "reformismo" de opereta - devidamente apaparicado pelo prof. Cavaco - esteve com o governo e com o PS nesta campanha. Por exemplo, ao alinhar pelo "sim", essa gente está implicitamente a dizer que acredita no SNS, nas urgências, nos hospitais e no INEM do dr. Campos, que aceita o negócio privado e chorudo do aborto "privado", que acha sublime essa fada do PS que se chama Maria de Belém, que aceita o autoritarismo do chefe e do seu - para já - mais dilecto colaborador nesse autoritarismo "democrático", o dr. Costa (o tal do "não estão em causa considerações éticas"), etc., etc. Como o "sim" ganhou, convém a esses colaboracionistas perceberem que, acima de tudo, ajudaram a uma vitória deste PS e deste governo. Ou será que, na sua inquietante ingenuidade, imaginam que são as mulheres, humilhadas e ofendidas, que preocupam o senhor engenheiro e respectiva tropa de choque? Que foi por causa delas, coitadinhas, que Sócrates veio a correr da China, declamou piedosa retórica em jantares e conferências, e mandou avançar com o espantalho do "fica tudo na mesma se não me derem o votinho"? A "direita" sai duplamente humilhada desta cena. Primeiro, pelas parvoíces que alguns dos seus prosélitos disseram e escreveram a propósito do aborto. Em segundo lugar, pelos silêncios comprometidos e pelos alinhamentos com espertalhões da política "dura" com quem andaram a dançar o vira em nome de uma "causa" que não lhes pertencia. Ninguém, da "esquerda" ou da "direita", lhes agradecerá o disparate e, muito menos, o frete.

Adenda: Este texto é igual ao que escrevi de manhã, lá mais atrás. Limitei-me a actualizar os tempos verbais e a evidência da vitória do "sim", desaparecendo os "ses". Apenas uma palavra final sobre isto. Marcelo Rebelo de Sousa teve uma péssima prestação durante toda a campanha, ora aparecendo como "comentador", ora como "partidário", ora como nada. Mais valia ter ficado pela última.

DAQUI PARA DIANTE - 5

João Gonçalves 11 Fev 07

Na SIC, o ministro da saúde não pára de falar em "boas práticas". De que SNS estará ele a falar? Ou será do INEM?

DAQUI PARA DIANTE - 4

João Gonçalves 11 Fev 07

Um senhora doutora do "sim", rodeada de criaturas do mesmo sexo, todas lacrimejantes, anunciou ao país que amanhã há um novo "serviço nacional de saúde". Só se for na cabeça dela.

DAQUI PARA DIANTE - 3

João Gonçalves 11 Fev 07

Também existe outra hipótese. Cumprindo-se o ritual de 1998-2007, ficamos à espera de um novo referendo com a mesmíssima pergunta?

DAQUI PARA DIANTE - 2

João Gonçalves 11 Fev 07

Por uma vez, o prof. Vital Moreira tem razão. Se o "sim" ganhar, mesmo em maré abstencionista, existe legitimidade para alterar a lei. O aborto poderá assim ser liberalizado até às dez semanas de gestação e ser realizado dentro desse prazo a mero pedido da mulher, sem nenhuma justificação. Daí para diante, o crime continua previsto e punível. Se ganhar o "não", a impunibilidade só abrange as excepções em vigor.

DAQUI PARA DIANTE - 1

João Gonçalves 11 Fev 07

Para além da dimensão da abstenção que tornará não vinculativo o resultado do referendo - apesar de, desta vez, provavelmente o "sim" ficar à frente -, importa meditar na circunstância de que todos os líderes partidários - Marques Mendes "assim-assim" - participaram vivamente na campanha. Todos os de "esquerda", pelo "sim" - senhor engenheiro incluído -, e um de "direita", Ribeiro e Castro, pelo "não". Serviu isto para alguma coisa?

CHAMEM A POLÍCIA

João Gonçalves 11 Fev 07

Já fui "denunciado" por um "democrata", ainda por cima "estrangeirado" pelo que deve conhecer melhor o país do que eu. Quando os resultados saírem e a abstenção for o que vai ser, a pergunta óbvia é: para que serviu o primeiro-ministro na campanha? O resto é folclore, como o deste rapazinho.

O MAIOR DENOMINADOR COMUM

João Gonçalves 11 Fev 07

Também reparei no mesmo que o Eduardo Pitta. Parece que a abstenção ganhará este referendo. Duas notas. Pensar, como a maioria dos movimentos, sobretudo os do "sim", que o país, na hora de votar, é o que encontramos quando jantamos em Lisboa ou no Porto, quando "saímos", quando lemos os jornais, quando escrevemos nos blogues ou quando vemos televisão, é um erro colossal que se paga caro nestas horas. Mesmo assim, sou um incondicional adepto do referendo que os representantes da nossa democracia tanto fazem por diminuir. Não percebem que são eles que saem diminuídos.

MADONNA & GAULTIER

João Gonçalves 11 Fev 07

Madonna, uma rapariga do meu tempo. Paris, 1990. Vestida por Jean Paul Gualtier. Tinha bom gosto, a moça.

BANDEIRAS E TELEMÓVEIS

João Gonçalves 11 Fev 07

Na Escola onde acabei de colocar uma cruzinha dentro de um quadrado que dizia NÃO, encontrei no corredor este desenho nos azulejos. Reza assim: "como ainda não possuíam telemóveis, comunicavam a sua alegria agitando bandeirinhas...". Parece que não se deram mal. A ilustração tem dez anos. A Escola tem trinta e cinco.

NÃO É FÁCIL DIZER BEM - 13

João Gonçalves 11 Fev 07


Por causa do referendo, não houve "cultura" tal como hoje não há futebol. À excepção de duas entrevistas - a do soba Mega Ferreira a descartar-se do CCB e a dizer a quem de direito que continua "sempre em pé", e a de Gomes de Pinho, de Serralves, a explicar o grande negócio do sr. comendador à conta dos papalvos do costume - a única notícia nesta matéria foi a atribuição do prémio João Carreira Bom, da Sociedade de Língua Portuguesa, ao José Manuel dos Santos. O premiado estreou-se nas crónicas de jornal ("Impressão Digital", crónica semanal no suplemento Actual do Expresso) vai para uns nove meses e já teve direito a prémio. Os que o antecederam - Baptista-Bastos, Eduardo Prado Coelho e Vasco Pulido Valente - andam há décadas a escrever crónicas nos jornais e, fora para livros, não me lembro de lhes terem dado grande coisa. Por exemplo, o José Pacheco Pereira - que escreve há muito mais tempo -, o José Medeiros Ferreira - idem -, a Helena Matos - mais recente -, o padre Anselmo Borges e, para não sair do Expresso, o Joaquim Manuel Magalhães, poderiam ter sido todos bons candidatos. Acontece que o prémio deste ano também premeia vinte anos de "outras" crónicas. Apesar de agora derramar sobre letras, quadros, episódios pessoais ou colectivos num estilo que denuncia a leitura atenta, e julgo que integral, de Marguerite Yourcenar com umas pinceladas à la Frederico Lourenço de mistura com pós agustinianos e laurentinos, o José Manuel dos Santos passou duas décadas a "cronicar" para dois chefes de Estado. Isso puxa por um homem e pela sua aguda inteligência, bem como a circunstância de, por dever de ofício, ter constituído um extraordinário cardápio de contactos com o nosso pequenino e familiar meio "cultural". E, já agora, tendo em conta a "solenidade" do dia e o tema da tua última crónica - a Igreja portuguesa e o aborto -, deixa que te repita o seguinte, Zé Manel. Não creio que a Igreja exerça qualquer soberania "sobre os corpos e as almas" e que tema perdê-la logo à noite. Para além das contingências, do relativismo e das cinco infelizes cartinhas do senhor Cardeal Patriarca de Lisboa, a Igreja sobreviverá - sobretudo esta de Ratzinger - e, com ela, milhões de católicos "pecadores" que não vêem no aborto uma questão religiosa. Há, pois, vida para além de um simples "sim" ou de um simples "não". Parabéns.

OS COLABORACIONISTAS

João Gonçalves 11 Fev 07

Uma das coisas mais desagradáveis da campanha que hoje culmina no voto, foi ver que nem toda a gente que se envolveu nela directamente percebeu de que lado estava. Explico-me. Amanhã, ou o mais tardar depois de amanhã, o país tal como ele é volta às nossas vidas em todo o seu horrível esplendor. Começa, finalmente, o pior ano da legislatura - não me digam que ainda não tinham percebido a evidência- e aquele que poderá salvar ou crucificar o governo e a maioria do espartano Sócrates. Muita gente válida do lado da denúncia e da crítica impiedosas (não conheço outras) ao manto diáfano de fantasia em que o PS e o governo nos pretende envolver com o seu "reformismo" de opereta - devidamente apaparicado pelo prof. Cavaco - esteve com o governo e com o PS nesta campanha. Por exemplo, ao alinhar pelo "sim", essa gente está implicitamente a dizer que acredita no SNS, nas urgências, nos hospitais e no INEM do dr. Campos, que aceita o negócio privado e chorudo do aborto "privado", que acha sublime essa fada do PS que se chama Maria de Belém, que aceita o autoritarismo do chefe e do seu - para já - mais dilecto colaborador nesse autoritarismo "democrático", o dr. Costa (o tal do "não estão em causa considerações éticas"), etc., etc. Se o "sim" ganhar logo à noite, convém a esses colaboracionistas perceberem que, acima de tudo, ajudaram a uma vitória deste PS e deste governo. Ou será que, na sua inquietante ingenuidade, imaginam que são as mulheres, humilhadas e ofendidas, que preocupam o senhor engenheiro e respectiva tropa de choque? Que foi por causa delas, coitadinhas, que Sócrates veio a correr da China, declamou piedosa retórica em jantares e conferências, e mandou avançar com o espantalho do "fica tudo na mesma se não me derem o votinho"? Aconteça o que acontecer, a "direita" sai duplamente humilhada desta cena. Primeiro, pelas parvoíces que alguns dos seus prosélitos disseram e escreveram a propósito do aborto. Em segundo lugar, pelos silêncios comprometidos e pelos alinhamentos com espertalhões da política "dura" com quem andaram a dançar o vira em nome de uma "causa" que não lhes pertencia. Ninguém, da "esquerda" ou da "direita", lhes agradecerá o disparate e, muito menos, o frete.

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